Trash sem ser carismático, este longa é um deprimente espetáculo que desagradará a gregos e troianos.
Na década de 1990, estourou na televisão uma série do personagem mitológico Hércules, cujo protagonista parecia ter saído de algum comercial de condicionador de cabelos. O seriado era tosco, mas ao menos era um trash divertido. O mesmo não pode ser dito deste “Hércules 3D”.
A única dúvida que fica após uma sessão deste novo filme de Renny Harlin (“Duro de Matar 2”, “Risco Total”) é sobre como esse longa saiu do papel. Desde o elenco até a direção de arte, passando pelo roteiro, nada na fita funciona. Esta tentativa clara de aproximar os mitos gregos da geração “Crepúsculo” sai pela culatra de uma maneira absolutamente vergonhosa e chega até mesmo a confundir Grécia e Roma em alguns momentos.
Nesta história de origem, que ainda acrescenta elementos da história de Cristo (!) à trama, o príncipe Alcides (Kellan Lutz) é o segundo filho do cruel rei Anfitrião (Scott Adkins). Após ser traído pelo seu pai e pelo seu irmão Ificles (Liam Garrigan) e escravizado por conta de seu amor proibido pela bela Hebe (Gaia Weiss), Alcides acaba por abraçar sua verdadeira origem e nome, tornando-se Hércules, filho de Zeus, tendo de lutar para recuperar Hebe e seu reino.
Não é apenas o fato do guião ser um samba do grego doido que transforma esse filme em um espetáculo deprimente. A versão da Disney para o herói também pouco tinha em comum com os mitos originais, mas funcionava naquilo que se propunha. Aqui, a proposta de se criar um “300” romântico e sem sangue esbarra nas batalhas mal conduzidas, atuações canastronas e em efeitos especiais que parecem ter saído de um fan-film de “Star Wars”. O 3D possui momentos que remetem aos saudosos filmes espaciais da sedutora Emmanuelle, com a câmera girando entre os atores durante os diálogos. Sem contar a insistência em acrescentar partículas mal renderizadas na tela para criar a ilusão de profundidade.
Kellan Lutz está terrível no papel principal e chega a ser menos expressivo que o Hércules da versão animada sessentista que gritava “Olímpia!”. O rapaz tem o porte atlético que o papel pede, mas não tem nenhum carisma ou presença em tela. Mesmo seu envolvimento em cena com a beldade Gaia Weiss, com a qual tem zero de química, só se justifica pelo fato de que os dois certamente não foram contratados pela suas capacidades em entoar falas com emoção (algo ausente na dupla), mas por suas respectivas belezas físicas.
Aliás, há de se ressaltar a sabedoria desconhecida do casting em escalar Rade Serbedzija, ator croata famoso por interpretar vilões russos, para viver o mentor grego do herói usando o mesmo sotaque carregadíssimo dos seus papéis mais conhecidos. Tal feito só pode ser superado pela escalação do canastrão profissional Scott Adkins – o único do elenco com reais habilidades de luta – para viver o terrível imitador de Leônidas, quer dizer, o Rei Anfitrião. Detalhe que Adkins é apenas nove anos mais velho que Lutz, que vive o seu filho no filme.
Contando ainda com uma direção de arte que parece aproveitar refugos de segunda unidade da série de TV “Spartacus”, “Hércules 3D” é uma verdadeira quimera natimorta que serve apenas para atestar o triste fim de carreira de Renny Harlin e a eterna capacidade de realizadores com pretensões hollywoodianas de estragar qualquer história. Desde já, um sério candidato a pior filme de 2014.