Estilo found footage de terror ganha novo representante, agora com inspirações bizarras em obra-prima de Roman Polanski.
Como se não bastasse “Atividade Paranormal” ampliar irritantemente sua franquia a cada ano, novos representantes do estilo e do gênero também insistem em nascer com a mesma frequência. O mais novo é “O Herdeiro do Diabo”, trabalho dos diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. Responsável por inúmeros curtas, a dupla, juntamente com a roteirista Lindsay Devlin, lança seu primeiro longa buscando inspirações em um dos melhores filmes de suspense já realizados, distanciando-se “apenas” pelo ponto de vista escolhido e pela qualidade empreendida.
A trama tem como personagens centrais o casal Zach (Zach Gilford) e Sam (Allison Miller), que acaba de celebrar sua união oficial. Logo após a cerimônia, eles partem para curtir a lua-de-mel em Santo Domingo, na República Dominicana. Entre praias paradisíacas e monumentos históricos, eles também são levados para conhecer festas bem particulares. No retorno ao lar, uma gravidez inesperada, mas bem recebida, é descoberta. A partir de então, uma série de eventos estranhos se inicia, como as fortes dores sentidas por Sam e uma mudança brusca de comportamento por parte da moça.
Alguma coincidência reconhecida? Pois bem, estamos diante de uma produção de explícita inspiração em “O Bebê de Rosemary”, obra-prima de Roman Polanski de 1968. O clima de conspiração e desconfianças, principal marca do clássico, porém, jamais se instala nesta fita. Na verdade, dado o resultado final, podemos dizer que a produção não passa de uma imitação literalmente barata (o orçamento foi de US$ 7 milhões) que naufraga principalmente pelo fato de escolher um estilo narrativo que fragiliza ainda mais sua trama.
O found footage realmente não combina com a história sobrenatural e pretensiosa demais de “O Herdeiro do Diabo”. E sem o terror psicológico que Bettinelli-Olpin e Gillett são incapazes de instalar, o longa vira uma documentação chata de uma gravidez com alguns escassos momentos de horror. Porque não faltam câmeras para retratar a vida de recém-casados de Sam e Zach. Se na primeira meia hora de projeção, a insistência do rapaz em registrar quase todos os passos de sua nova trajetória familiar já irrita, a partir de então os aparelhos se multiplicam sem qualquer justificativa plausível.
Logo não se impressione se boa parte dos ângulos da casa estiver coberta por alguma lente bem localizada. No entanto, engana-se quem acha que verá de tudo sem censura. Dono de uma edição espertinha demais, o filme não hesita em exibir apenas o essencial para manter o suspense ou para esconder o que é incapaz de mostrar a olho nu, contradizendo seu estilo narrativo e gerando consequentes desconfianças no espectador. A edição, por sinal, apropria-se até de pontos de vista alheios para deixar sua trama ainda mais didática e compreensível.
A essência dela, porém, tem bem menos sentido do que aparenta. Com a mesma estratégia de culpar a falta de imagens para justificar a ausência de algumas explicações, o filme parece despreocupado em convencer o público de sua veracidade. Alguns cortes rápidos trazendo filmagens de estranhas cerimônias macabras e outros que trazem pessoas bizarras observando o casal é tudo que a direção e o roteiro têm para mostrar. E ao final de tudo, ainda temos de aguentar a pretensão dos realizadores de desejarem mexer com o imaginário do espectador ao criar uma lenda de terror.
Donos de personagens tão desinteressantes quanto sua trama, Zach Gilford e, principalmente, Allison Miller (mais à vontade diante da trêmula câmera) não comprometem a produção tanto quanto seus efeitos especiais (medonhos em certas sequências), comprovando as altas pretensões e a baixa qualidade do longa. De problemas óbvios em sua criação, o filme, porém, poderia ser bem menos descartável se realizado de melhor forma, sem a chatice de um found footage mal executado por diretores inexperientes, gerando as comparações mais doídas do atual cinema de terror hollywoodiano.