Cinema com Rapadura

OPINIÃO   terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Atividade Paranormal – Marcados pelo Mal (2014): spin-off inútil

Franquia esquece temporariamente Katie Featherston para mostrar história desinteressante de jovem californiano também afetado por maldição.

Atividade Paranormal - Marcados pelo MalOren Peli, criador da franquia “Atividade Paranormal”, que teve sua primeira parte lançada em 2007, em um sucesso de público retumbante, deve desconhecer o sentido da palavra “desgaste”. De lá até 2012 foram produzidos nada menos do que quatro filmes da cinessérie, descontando o capítulo não-oficial realizado no Japão. Para não perder o mau hábito, em 2014, mais dois longas chegam à telona. O primeiro deles é “Marcados pelo Mal”, um spin-off que esquece temporariamente a história de Katie Featherston para nos apresentar a uma trama ainda mais desinteressante.

Nela, Jesse (Andrew Jacobs) e Hector (Jorge Diaz) repartem boa parte de suas horas juntos, como grandes amigos que são. Moradores de um bairro latino da cidade californiana de Oxnard, eles, como não poderia ser diferente, são alucinados por câmera e registram boa parte de seu dia a dia. Entre os fatos interessantes está o mistério de sua vizinha Anna (Gloria Sandovall), mulher associada com práticas de bruxaria. O mistério torna-se mais intrigante quando ela é morta e Jesse passa a sentir alguns estranhos sintomas após invadir seu antigo apartamento.

Vendido como representante latino da franquia (como se o público alvo não tivesse tido acesso aos outros longas), o filme traz pouquíssima referência ao nosso universo, a não ser pelo caso de os personagens falarem um inglês com sotaque. No mais, temos mais do mesmo. Com estilo found-footage cada vez menos real, em que poucos momentos de importância para o suspense fogem das lentes da câmera, em ponto negativo para a direção de Christopher Landon, que roteiriza este e os três últimos episódios, a história perde credibilidade a cada minuto em que avança.

A primeira meia hora em nada se esforça para construir um clima de terror, concentrando-se basicamente na rotina atribulada dos dois jovens amigos, ótimos representantes da idade que possuem. Logo, conhecemos boa parte da vizinhança: suas festas, sua insegurança e sua violência. De outros personagens, porém, permanecemos distantes, com exceção da avó de Jesse, interpretada por uma hilária Renne Victor, que rouba a cena todas as poucas vezes em que surge em tela.

A partir de então, tem início o pretenso suspense, que prefere inicialmente dar um clima de brincadeira à trama, de semelhança inegável com o bom “Poder sem Limites”. Deixando a tensão cada vez mais de lado, a película vai provocando desinteresse ao afastar-se de qualquer clímax. A primeira tentativa de susto, aliás, é de uma previsibilidade e inocência medonhos. Em outro, um brinquedo infantil é utilizado como um meio de comunicação entre, digamos, dimensões diferentes. E dessa forma, sem qualquer boa ideia para sustos, “Marcados pelo Mal” passa completamente distante de seu alvo, do começo aos créditos finais. Sem exceções.

O que mais incomoda, porém, é a falta de sentido da história. Landon até tenta criar uma ligação com a trama protagonizada por Katie, buscando também explicações para esta, mas a fragilidade do que é apresentado é tão óbvia que é impossível acreditar nas ideias soltas por seu roteiro. Personagens inseridos sem qualquer naturalidade ainda buscam trazer respostas para o que acontece com Jesse. Mas não há tempo. Mais uma vez, “Atividade Paranormal” deixa para uma sequência uma explicação definitiva, se é que há alguma.

Com um desfecho apressado, que continua a falhar pela falta de coragem da direção de Christopher Landon, mostrando demais e assustando de menos, o filme ainda exibe alguns momentos de sobrenaturalidade (uma sequência, em especial, deve intrigar alguns fãs da série) que justifica seu nome. O elenco, por outro lado, não compromete, despejando suas falas com a naturalidade que precisa, destoando de um projeto que parece ter sido pouco pensado, integrante de uma franquia que já deu o que tinha que dar.

Darlano Didimo
@rapadura

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