Mesmo com um ou dois bons sustos em 3D, esta segunda adaptação da franquia para o cinema não consegue se sustentar, se apoiando em um roteiro fraco e um elenco sem sal, relegando bons atores a papéis secundários ou caricaturais.
Não muito tempo atrás, falei sobre a fragilidade da atual safra de filmes de terror. Pois bem, este não tão recente “Silent Hill – Revelação 3D”, que chega aos cinemas nacionais mais de um ano após seu lançamento nos EUA, resume todos os problemas da maioria esmagadora dos longas do gênero. Não deixa de ser uma decepção, haja vista que o primeiro filme da franquia, “Terror em Silent Hill” (2006), surpreendeu não apenas por ser uma fita eficiente, mas também por ser uma das poucas adaptações de games que ficam ao norte do limite do razoável.
Isso porque aquela película, dirigida por Christophe Gans (“O Pacto dos Lobos”) e escrita por Roger Avery (“Pulp Fiction – Tempo de Violência”), mesmo respeitando o original, não tinha medo de modificar a mitologia quando necessário para contar uma história interessante, ancorada também em uma performance sólida de sua protagonista, Radha Mitchell.
Substituindo Gans e Avery, entra Michael J. Bassett, responsável por “Solomon Kane – Caçador de Demônios”, que basicamente destruiu o bom final ambíguo do capítulo anterior e colocou Sharon (Adelaide Clemens) e seu pai (Sean Bean) em fuga após os eventos que ocorreram em Silent Hill, com a dupla sempre adotando novas identidades após mudarem de cidade.
Mas logo a garota se vê obrigada a voltar para o terrível lugarejo quando seu pai é sequestrado por uma misteriosa seita, com Sharon contando em sua busca com a ajuda de Vincent (Kit Harington), que também tem ligações bastante pessoais com aquele lugar. Sharon então descobrirá o que a liga Silent Hill e por que a vilã Claudia tanto anseia pelo seu retorno.
Um dos grandes acertos de “Terror em Silent Hill” foi o fato de que a busca de Rose por sua filha, que era o que movia aquela história, tinha um pendor dramático, com pontos da mitologia da franquia surgindo em cena apenas tangencialmente e sempre cumprindo funções narrativas, nunca para fanservice gratuito.
Já o roteiro desta continuação gira exclusivamente em torno da mitologia, com os personagens e seus objetivos relegados ao segundo plano, algo devastador para qualquer filme de terror, pois não permite que nos importemos com qualquer das figuras em cena, especialmente no caso daqueles que não acompanharam os games da Konami. E, para desespero dos gamers, mesmo a exploração da mitologia vem acompanhada de algumas descaracterizações gigantescas de figuras conhecidas, como o Red Pyramid (ou Pyramid Head).
Com Sean Bean tirado do jogo rapidamente, coube à insossa Adelaide Clemens segurar a produção nas costas, algo que a jovem e pouco carismática atriz não conseguiu, principalmente nos momentos em que precisou contracenar com ela mesma. Não há sequer uma boa química entre ela e Sean Bean para se estabelecer uma dinâmica familiar relevante, com o roteiro sequer separando momentos para isso (embora haja tempo para satisfazer um meme de internet por meio de uma sequência de sonho dentro de um sonho).
Já no lado da outra família disfuncional da fita, temos um apático Kit Harington ao lado de Carrie-Anne Moss e Malcom McDowell, ambos exageradíssimos em seus papéis como os antagonistas da trama. As afetações exacerbadas de McDowell, aliás, tornaram-se uma constante nas aparições do outrora Alex DeLarge em filmes de terror, sendo uma pena que a melhor atuação do veterano ator nos últimos anos tenha sido uma ponta em “O Artista”. Já a personagem de Carrie-Anne Moss nasce caricatural desde sua concepção, com maquiagem e figurino bizarros, com a atriz apenas seguindo o caminho do ridículo apontado pelo diretor e roteirista.
Os melhores momentos de “Silent Hill 3D – Revelação” são as capturas tridimensionais das bizarras criaturas que habitam a cidade-título, quase todas construídas por meio de maquiagem e efeitos práticos, sempre surgindo na tela de maneira inesperada, com a direção de arte também contando com alguns cenários interessantes, como o do asilo. O mesmo não pode ser dito dos efeitos computadorizados, extremamente pobres, especialmente no caso da neblina, elemento importantíssimo para a ambientação.
Os poucos e vazios sustos não compensam essa nova visita à Silent Hill, que se resume a 93 minutos de uma trama sem sentido que não chega a lugar nenhum, coroada com um péssimo gancho para uma continuação que, muito provavelmente, não virá.