Com padrão de produção televisiva, cinebiografia foca-se apenas em romance secreto de Lady Di com médico paquistanês, logo após sua separação.
Ícone fashion e de beleza. A mais fotografada. A mais desejada. A mais copiada. A mais falada. A mulher mais famosa do mundo. Chame-a como queira: Princesa de Gales, Princesa do Povo, Lady Di ou simplesmente Diana. Mesmo quem não viveu para ver Diana Frances Spencer, sabe bem de quem se trata. Do início dos anos 80 até bem depois de sua morte, em agosto de 1997, ninguém ganhou tanta atenção dos holofotes da mídia quanto ela. Logo, a produção de uma cinebiografia seria natural acontecer. Mas demorou a ser feita. Mexer com figura pública tão querida assim necessita de coragem. E não é o que demonstra esse dispensável e quase amador “Diana”.
Recortando boa parte de sua história e focando-se apenas nos dois últimos anos de vida da princesa (Naomi Watts), a trama exibe basicamente o envolvimento dela com o médico paquistanês Hasnat Khan (Naveen Andrews), iniciado ainda antes do divórcio oficial com Charles. Dentre idas a trabalho ou não ao hospital em que o médico atua, Diana acaba se envolvendo com ele, começando um namoro secreto, longe das câmeras fotográficas dos tabloides ingleses. Mas a rotina confusa do relacionamento, possível apenas por meio de disfarces e encontros escondidos, prejudica o grande amor que um sente pelo outro.
Amor esse que não passa de juvenil pelas lentes da câmera dirigida por Oliver Hirschbiegel, responsável também pelo desastroso “A Invasão”. Mesmo diante de dois adultos, quase em seus 40 anos, o que acompanhamos é uma história de conteúdo teen, de encontros e desencontros mais cinematográficos do que realistas. Os papos e discussões, então, não poderiam ser mais repetitivos, sempre circundando o assunto “privacidade”. Entre términos e voltas, é quase impossível deixar-se envolver por uma falta de originalidade e conteúdo tão explícitos.
A impressão é que, na verdade, Hirschbiegel e seu roteirista Stephen Jeffreys, que adapta o livro “Diana – O Último Amor de uma Princesa”, de Kate Snell, estão em busca de reconstituições. Mais preocupados em exibir fatos, principalmente o que tornaram-se públicos, do que em dar densidade aos seus personagens, eles transformam Diana e Hasnat em pessoas desinteressantes, possíveis de serem descritos em uma única frase. A princesa, em especial, vira uma mera mulher gentil, rica e famosa em busca de um amor para o resto da vida. Seus papéis de mãe e de mulher dedicada à filantropia ficam completamente de lado, sendo exibidos com uma timidez que incomoda.
Diretor e roteirista parecem com medo de seu objeto principal, de exibir alguma falha na personalidade ou algum defeito sequer de Diana. Perfeitinha demais, ela mantém um distanciamento do público, não emocionando ou convencendo nem quando seu ímpeto de fazer caridade, ou um mero carinho, se sobrepõe ao seu ego (pra lá de minúsculo nessa cinebiografia chapa branca). Até mesmo as cenas de sexo são abrandadas. Para que algum fato minimamente divertido surja, é preciso que ela, Diana, fuja das regras, permitindo-se fotografar, ousar por conta própria, para além do que a falta de imaginação e ousadia de cineastas podem interferir.
O filme seria menos dispensável caso Hirschbiegel contasse com alguma destreza técnica. Pois o que vemos é uma produção quase amadora, de cortes secos e desnecessários, que impedem qualquer momento de silêncio e introspecção. Nem em sequências marcantes da trajetória da princesa, quando poderia arriscar-se com sua câmera, o diretor permanece previsível como um documentarista que apenas observa sua personagem principal. Com mais filmagens internas do que externas, o longa traz uma inevitável sensação de estarmos assistindo a um filme realizado diretamente para a tevê.
A única razão para “Diana” estar nos cinemas tem nome e sobrenome: Naomi Watts. É ela a única coisa realmente aproveitável da película. É por causa da naturalidade de seu gestual e de sua semelhança física que você vai querer saber mais sobre essa mulher de tanta doçura e de destino trágico, especialmente sobre sua polêmica entrevista à BBC. Pena que uma performance tão dedicada seja em prol de um trabalho pouco esforçado e corajoso que não é digno dessa figura tão emblemática do século passado que ainda insiste em querer invadir o imaginário do povo, seja britânico ou não, no século seguinte.