Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Os Suspeitos (2013): thriller investigativo dos mais intrigantes

Denis Villeneuve exibe apenas o essencial, conta com bons atores e um eficiente roteiro, entregando um suspense muito, muito envolvente.

Os SuspeitosSeguindo o caminho que a cada dia parece mais natural para diretores estrangeiros que alcançam repercussão internacional com algum trabalho, o canadense Denis Villeneuve estreia em Hollywood. Com uma curta e premiada carreira, que tem “Incêndios” (indicado ao Oscar de filme estrangeiro em 2011) e “Maelstrom” como destaques, o cineasta não decepciona. Em “Os Suspeitos”, ele faz uso de uma história aparentemente “batida”, aperfeiçoa-a, conta com roteiro e atuações eficientes, entregando um thriller investigativo dos mais intrigantes e angustiantes.

Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal são os protagonistas. O primeiro interpreta Keller Dover, o pai da pequena Anna (Erin Gerasimovich), uma das duas meninas que desaparecem de uma pequena reunião entre amigos. O segundo faz as vezes de detetive Loki, responsável pela investigação do caso. O primeiro suspeito, de nome Alex Jones (Paul Dano), que é pego dirigindo o trailer visto na frente da casa onde aconteceu o sequestro, logo é preso. Mas entre falta de provas e confissões discretas longe dos ouvidos da polícia, o desaparecimento vai tomando rumos perturbadores, enlouquecendo a vida de duas famílias ainda na ânsia por terem suas crianças de volta ao lar.

Com uma simples história inicial, que possui como principal característica o apelo familiar, Denis Villeneuve a lapida com sua direção. Criando uma aura de suspense desde os segundos iniciais (que por vezes lembra o universo instável de “Zodíaco”, de David Fincher), que se torna ainda maior devido à gélida e impessoal cidade norte-americana em que tudo se passa (ponto para a fotografia de Roger Deakins), o cineasta sabe como poucos segurar e liberar o ritmo dessa longa trama. E tudo de uma forma que nos faz ter certeza de que estamos diante de um filme de qualidade diferenciada. Sua ambição cresce junto com a história, e por isso a respeitamos, mesmo quando ela não parece caminhar para lugar nenhum.

Sem se precipitar ou dar respostas fáceis por meio de imagens, o diretor jamais engana o público. Pede-lhe apenas um pouco de paciência para acompanhar uma meticulosa investigação, cheia de fatos tenebrosos, mas sabedora da maneira de dosá-los. E ela vai tornando-se cada vez mais psicológica, adentrando a mente de seus personagens, fazendo-os agir de forma que jamais imaginariam. Aqui está também outra forte característica do filme: a imprevisibilidade. Você pode até confirmar suas suspeitas ao final, mas ter certeza delas ainda no desenvolvimento dos fatos é impossível. Inserindo e extraindo elementos, assim como acrescentando e riscando suspeitos da lista de investigados, a narrativa envolve a cada segundo.

Tudo porque, apesar de uma grande qualidade artística, possível graças ao trabalho de Villeneuve, “Os Suspeitos” jamais perde sua essência de thriller. Escrito por Aaron Guzikowski com incrível cuidado, o roteiro tem como foco central o sequestro. As perturbações, instabilidades e torturas psicológicas que advém dele são apenas frutos de um texto que não usa seus personagens apenas como peças integrantes de uma boa ideia. Estamos diante de humanos, contraditórios em sua essência, que rezam antes de abater um alce ou mesmo quando estão cometendo um crime. Eles fazem besteiras, erram bastante, choram e nos convencem da enorme dor que sentem.

Se da família de Joy, a outra garota sequestrada, pouco acompanhamos (ainda que a expressividade de Viola Davis, como a mãe, comova-nos), dos Dover conhecemo-los consideravelmente. O patriarca, em especial, é o grande personagem do longa, possível graças a uma forte interpretação de Hugh Jackman, tão amedrontador quanto amedrontado. Jake Gyllenhaal também demonstra amadurecimento como um detetive incansável, mas trágico, que erra e admite seus erros, sempre com um incômodo tique nervoso nos olhos. Vale destacar também as participações de Maria Bello, como a mãe da menina Anna, e de Melissa Leo, quase irreconhecível como a mãe do principal suspeito do caso, interpretado por um bem escalado Paul Dano.

Nas mãos de Denis Villeneuve, eles extraem o que possuem de melhor como atores, ainda que a concisão do trabalho do diretor não permita cenas demasiadamente dramáticas. Por isso, não se impressione com cortes aparentemente bruscos. É apenas resultado da linguagem de um diretor que odeia obviedades, que faz até um ótimo roteiro parecer ainda melhor, escondendo sua essência mais comercial, dando um ar de “baseado em fatos reais” a uma trama completamente inventada.

Darlano Didimo
@rapadura

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