Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Riddick 3 (2013): Simplesmente RIDDICKulo

Características marcantes deste “Riddick 3”. Trata-se de um filme irritante, imaturo e chato. Irritante por conta de seus personagens; imaturo, por confundir a exposição de sangue, gore e seios com seriedade; e chato por sua estrutura ridícula e história que não chega a lugar nenhum.

riddick3_1A franquia Riddick começou com o mais que eficiente “Eclipse Mortal” (2000), um filme simples que trazia um grupo de sobreviventes da queda de uma nave que, presos em um planeta deserto, lutavam para sobreviver durante um eclipse frente uma horda de criaturas voadoras carnívoras, que só atacavam no escuro.

Capaz de enxergar nas trevas, o perigoso assassino Riddick era a chance de sobrevivência que eles tinham, embora não fosse confiável. Dirigido e co-escrito pelo pouco conhecido David Twohy, o longa tornou-se um pequeno cult, graças aos seus personagens multifacetados, narrativa concisa e visual econômico, mas eficiente, bebendo muito do primeiro “Alien – O Oitavo Passageiro”.

O tempo passou e Vin Diesel, intérprete de Riddick, com o sucesso de “Velozes e Furiosos”, tornou-se um astro. Veio então o megalomaníaco “A Batalha de Riddick”, no qual Twohy e Diesel quiseram levar o anti-herói em uma jornada extremamente complicada que misturava Tolkien e Lovecraft. Não deu certo e o resultado foi um fracasso de público e crítica.

Por apego ao personagem, Diesel conseguiu os direitos da série junto ao estúdio e bancou parcialmente esse “Riddick 3” de forma independente, prometendo aos fãs uma volta as raízes em uma produção de classificação indicativa alta. Novamente com Twohy na direção e no roteiro, o resultado é realmente parecido com “Eclipse Mortal”… Exatamente como se aquela película tivesse um irmão mais feio e estúpido.

Livrando-se de maneira pouco cerimoniosa da megalomania introduzida no episódio anterior (e também de toda a mitologia que tentava ali construir), a trama tem inicio com Riddick ilhado em um planeta deserto (ohhhhhh!!!), onde, algum tempo depois, ele se torna alvo de dois grupos rivais de caçadores de recompensas, um deles liderado por Boss Johns (Matt Noble), pai do rival do protagonista em “Eclipse Mortal”.

Durante a primeira hora de filme, absolutamente nada acontece além de uma brevíssima exposição de como devemos ignorar basicamente tudo o que aconteceu em “A Batalha de Riddick”. O anti-herói agora é um homem querendo voltar ao seu planeta natal. Durante o primeiro ato, o que mais vemos é Riddick treinando seu “cachorro” de estimação e uma direção de fotografia horrorosa e monocromática, complementada por efeitos visuais dignos de gráficos saídos de um Playstation 2.

Com a chegada dos caçadores de recompensas, Riddick (e seu cachorro, dingo, ou sabe-se lá o que raios é aquilo) acaba sendo deixado de lado e o público acaba obrigado a suportar 45 minutos de interação entre personagens chatos e desinteressantes, especialmente o Johns de Matt Noble e o insuportável Santana, vivido pelo espanhol Jordi Mollà. Aliás, duvido que seja mera coincidência que o grupo mais idiota de mercenários seja formado por latinos, mas enfim…

Desses aí, a única relativamente interessante é Dahl, vivida por Katee Sackhoff (a eterna Starbuck, de “Battlestar Galactica”). Mesmo com sua forte presença de cena, Sackhoff é massacrada por diálogos pavorosos e ainda passa, paradoxalmente, pela exposição gratuita de seus seios e masculinização excessiva de sua personagem, mas nos alegra toda vez que surra Santana (os melhores momentos da projeção, com toda certeza).

Por sua vez, Riddick se converte em um sub-Jason, matando os mercenários nas sombras e tendo raras interações com esses personagens. Além disso, se antes os seus monólogos e ações nos davam interessantes insights sobre seu intricado código de honra, aqui transformam-se em frases de efeito estúpidas e cenas “mamãe-quero-ser-massavéio”.

O design de produção é simplesmente horroroso e pouco prático, com até mesmo os desenhos de criaturas não conseguindo fugir do lugar comum (ou da Austrália, clara inspiração para o deserto onde a “trama” ocorre). Se a fotografia de “Eclipse Mortal”, com todas as suas limitações orçamentárias, era deveras eficaz em demonstrar o clima de tensão daquela história que dependia do equilíbrio entre luz e sombras, a única coisa que conseguimos ver aqui são efeitos digitais dignos de um filme do Sci-Fi Channel e uma tentativa idiota de repetir um sucesso sendo (com o perdão do trocadilho) eclipsada pelo original.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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