Funcionando mais como comédia que como ação, este longa certamente deve agradar os fãs da velha guarda, mas dificilmente vai atrair público novo para a longeva franquia.
Sendo bastante direto: “Dragon Ball Z – A Batalha dos Deuses” só foi produzido porque a franquia criada por Akira Toriyama, mesmo 30 anos após o seu lançamento, ainda dá frutos para a Toei Animation e suas parceiras por meio do merchandising ou da caça-níqueis “Dragon Ball Kai” (relançamento da série animada em versão reduzida e em HD).
Nisso, uma nova aventura ajudaria a manter a vendagem de produtos relacionados a Goku e companhia em alta, além de acrescentar mais alguns itens ao mercado. Felizmente, este longa não foi feito apenas para tirar dinheiro dos antigos fãs, mas também para entretê-los, e apenas a eles, sendo completamente voltado para os já iniciados.
O roteiro de Yûsuke Watanabe (também responsável pelos textos das versões live-action de “Gantz”), escrito em colaboração com o próprio Toriyama, ignora por completo a catastrófica “Dragon Ball GT” e se passa alguns meses após a batalha de Majin Buu, com Goku, enquanto treina no planeta do Sr. Kaiyo, sendo procurado pelo felino deus da destruição Bills, que busca o lendário Deus Super-Saiyajin. Enquanto isso, na Terra, os outros Guerreiros Z, suas famílias e amigos comemoram o aniversário de Bulma, de maneira tão extravagante quanto a própria aniversariante.
A parceria entre Watanabe e Toriyama produziu plots e diversos easter-eggs que fazem referência não apenas à celebrada fase “Z” da animação, mas também à série original, inclusive trazendo de volta os atrapalhados vilões Pilaf, Mai e Shu. Aliás, o roteiro ganha mais força justamente quando aposta no humor non-nense e autorreferencial que caracterizou aqueles episódios iniciais.
Assim, ver o orgulhoso príncipe Vegeta ter de se virar para manter Bills alegre para que ele não destrua o mundo, Gohan como uma versão de pileque do Grande Saiyaman, o moralismo de Piccolo ou o romance inusitado do pequeno Trunks se tornam os pontos altos da projeção, com o diretor Masahiro Hosoda, em seu primeiro longa, aproveitando muito bem tais sequências.
O mesmo não pode ser dito das cenas de luta. Sim, a megalomania típica está lá, com os golpes que podem destruir planetas e as diversas transformações. Mas aqui ela parece batida e sem imaginação, especialmente após o filme divertir tanto com o humor e com desenvolvimentos sutis de seus personagens.
Aliás, por mais carismático que Goku seja, o protagonista acaba facilmente eclipsado por Vegeta aqui. Apesar das situações ridículas as quais o personagem se submete, todas elas são justificadas pelo roteiro e acabam enriquecendo o arco “dramático” do ex-vilão. Mesmo o relacionamento entre ele e Bulma acaba sendo mais explorado que em arcos inteiros da série animada. Enquanto isso, as burradas de Goku, por mais engraçadas que sejam, acabam até cansando após algum tempo.
Enquanto a animação tradicional é deveras bem cuidada, o mesmo não pode ser dito do trabalho tridimensional, aplicado quase que exclusivamente nos cenários e que destoa e muito da fotografia dos demais elementos. O visual dos personagens se mantém efetivo, mesmo com ínfimas mudanças em relação ao original (ou especialmente por conta disso). Os novatos, Bills e Whills, encaixam muito bem no elenco, com suas excentricidades particulares contribuído de maneira positiva para o humor do filme.
Tendo como calcanhares de Aquiles a necessidade de prévio conhecimento da franquia e as cenas de ação pouco efetivas, “Dragon Ball Z – A Batalha dos Deuses” funciona muito bem junto ao seu público-alvo, inclusive com a sensação de nostalgia sendo ampliada pela presença de boa parte do elenco de dubladores originais, mas dificilmente conseguirá trazer um público novo, justamente por depender demais do fanservice.