Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 07 de outubro de 2013

Aposta Máxima (2013): para os amantes menos exigentes do pôquer

Justin Timberlake e Ben Affleck contracenam em thriller de bom ritmo inicial, mas que despenca à medida que a falta de conteúdo e a a inocência se revelam.

Aposta MáximaSe de um lado temos um cantor consagrado com uma carreira de ator em plena ascensão, de outro temos um ator de qualidade questionável com uma ainda mais ascendente carreira de diretor. Em “Aposta Máxima”, Justin Timberlake e Ben Affleck não estão nas situações onde parecem se sentir mais confortáveis, no palco e atrás das câmeras, respectivamente. E essa falta de conforto se reflete em cena. Mas os problemas deste fraco thriller vão bem além da pouca desenvoltura de sua dupla de protagonistas. Vão da inocência do roteiro à perda de ritmo gradativo da narrativa.

A trama traz como personagem principal Richie Furst (Timberlake), um universitário ainda em luta para conseguir sua graduação. Problemas financeiros o atrapalham. Uma de suas paixões, o pôquer, pode ser uma solução fácil para conseguir dinheiro instantâneo. Mas ela não funciona. Na verdade, Richie leva um golpe de um jogo de apostas on-line e acaba com a conta bancária zerada. Conhecedor da matemática, ele diz ter provas do golpe, indo até a Costa Rica procurar o dono do site, o bilionário Ivan Block (Affleck). Começa, então, uma relação de aparente amizade, iniciada com uma irresistível oferta de emprego.

No entanto, a relação de Richie com Block, que deveria ser o sustentáculo do filme, nunca é devidamente construída pelo roteiro de Brian Koppelman e David Levien, responsáveis por “Cartas na Mesa”. Não traz a ambiguidade necessária para termos dúvida do caráter de qualquer um dos personagens. Recheado por diálogos rasos, donos de diversos ditados (que, claro, voltam a ser ditos no desfecho da história), o longa jamais deixa dúvidas sobre a questionável essência de Ivan Block, refletida por uma interpretação cheia de marra de Ben Affleck, nem mesmo disfarçada por um tom de voz comedido.

Lapsos da influência política e das intenções econômicas do empresário são mostrados sem necessidade, contribuindo ainda mais para desconfianças cheias de fundamento, apenas invisíveis aos olhos inocentes do ingênuo Richie. A questão um pouco mais envolvente torna-se saber quando a descoberta do possível golpe irá acontecer. E ela ocorre no momento mais previsível, sem qualquer reviravolta que traga algo de minimamente surpreendente à história. Até policiais do FBI surgem com a intenção de adicionar algum elemento extra à trama policial, mas servem apenas para tornar menos enfadonho os dois atos finais da narrativa.

Tudo porque o diretor Brad Furman (do bom “O Poder e a Lei”) nos deixa mal acostumados na primeira meia hora. Com movimentos de câmera ousados, cortes rápidos e cheios de ritmo, o filme capta nossa atenção, especialmente por nos apresentar a um mundo de farsas legais e muito, muito dinheiro, bem como a um latinidade irresistível. Pouco depois, porém, a história se rende a um roteiro perdido e abarrotado de clichês, que não sabe nem tratar a beleza da Rebecca de Gemma Arterton, a mocinha, apropriadamente. Arterton, por sinal, parece surgir apenas para introduzir ainda mais sensualidade a uma trama masculina povoada por figurantes femininas, tão belas quanto estúpidas, assim como trazer um objetivo extra (está mais para um troféu) para os planos futuros e desinteressantes de Richie.

A participação de coadjuvantes, como Oliver Cooper, interpretando um entendido do pôquer, e de John Heard, como o pai de Richie (também viciado em jogo), apenas complementam a falta de foco e de esperteza da trama.  Os dois, especialmente, entram e saem de cena sem fazer qualquer falta. O mesmo pode-se dizer do bizarro policial Shavers, interpretado por Anthony Mackie. Mas a situação entre os coadjuvantes não poderia ser melhor quando o próprio personagem principal sequer provoca carisma entre o público, frutos de um roteiro pouco trabalhado e de uma interpretação no piloto automático por Justin Timberlake.

Com um desfecho que condiz com a previsibilidade da trama, “Aposta Máxima” deixa gradativamente o interessante mundo do pôquer de lado, apostando erroneamente em um policial de qualidade B, não devendo satisfazer nem os amantes mais exigentes do jogo em questão. Incapaz de despertar o bom ator que ainda brota em Ben Affleck, assim como a simpatia de Timberlake, o filme serve apenas como um fraco, raso e esquecível entretenimento passageiro.

Darlano Didimo
@rapadura

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