Do criador de “Jogos Mortais”, longa revive a esperança de boas histórias de terror nas telonas.
Em 2004, o cineasta James Wan se apropriou da já irregular onda de filmes de horror para dirigir e roteirizar o primeiro “Jogos Mortais”. A saga de Jigsaw estava apenas no começo, prometendo que um novo assassino em série marcaria o cinema contemporâneo após tantos outros vilões que ficaram conhecidos em Hollywood.
O projeto deu certo, mais precisamente até o terceiro filme, que ainda contou com a participação de Wan no script. Depois de seu afastamento, a franquia caiu bruscamente em qualidade, pecou pelo excesso e perdeu o frescor da novidade. Depois de outras experiências pouco marcantes, como “Gritos Mortais” e “Sobrenatural”, o cineasta lança “Invocação do Mal” para mostrar que ainda tem boas histórias de terror para contar.
Na trama, Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson) são investigadores de eventos paranormais, sempre na tentativa de desmistificá-los e, consequentemente, diminuir o medo que as pessoas sentem quando são expostas a possíveis assombrações. Referência no assunto, o casal é procurado pela família Perron, que recentemente mudou de residência e desconfia que é alvo de forças malignas. O que os investigadores não sabiam é que o caso entraria para a lista dos mais complicados já resolvidos.
Ficcionalmente baseado em uma história real, a trama apresenta Lorraine e Ed como pessoas normais, discretamente religiosas, que entendem o além. Não só o além, mas as forças malignas, que querem se comunicar e prejudicar quem está vivo. Em uma palestra, eles mesmos brincam que são chamados de “caçadores de fantasmas” ou mesmo “loucos”, por trabalharem com um assunto que, por mais que assuste muita gente, ainda é tido como farsa por outra parte da sociedade.
A construção dos personagens pelos experientes Patrick Wilson e Vera Farmiga passa confiança às suas respectivas habilidades. Lorraine é vidente, enquanto Ed é demonólogo. A propriedade com que os atores projetam seus conhecimentos e suas vulnerabilidades torna a história bem mais palpável. Enquanto investigam os eventos paranormais na casa dos Perrons, eles também sofrem dramaticamente. Não são invencíveis, nem mesmo sabem tudo. Apenas encontram alternativas para “resolver o problema”.
O roteiro dos irmãos Chad e Carey Hayes, responsáveis pelos fracos “A Casa de Cera” e “Terror na Antártida”, também dá espaço para a família, principalmente para a figura materna, interpretada por uma excelente Lili Taylor. Casada com o personagem de Ron Livingston, eles têm cinco filhas, cada uma atingida de forma diferente pelas forças demoníacas. O motivo disso tudo é desmascarado no decorrer da trama, que tem seu ápice em um terceiro ato extremamente eficiente, que há muito tempo o gênero de horror americano não via.
James Wan é responsável por mostrar as diversas facetas que a história vai seguindo. No último ato, ele expõe o pânico não só para os personagens, mas também para o público, escolhendo o timing certo para causar medo, tensão e dar frio na espinha. Wan se diferencia também pelo uso estilizado de sua câmera, em destaque para as tomadas aéreas, combinando com a montagem dinâmica e clara que o gênero precisa. Ele não esconde seus vilões para sempre e sabe muito bem quando e como mostrá-los, sem comprometer os elementos surpresas ou causar falsas expectativas.
Ainda que conte uma trama acima do convencional, o longa se apropria de clichês do gênero, como o susto pelos elementos sonoros e as pegadinhas desnecessárias. Supostas referências a “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock, e à própria franquia “Jogos Mortais”, especialmente à figura de Jigsaw, são jogadas em tela sem muitos critérios e força dramática. O desfecho supõe, também sutilmente, uma sequência, que já foi anunciada para aproveitar a boa recepção do filme tanto pela crítica quanto pelo público. Agora resta esperar quantas histórias de demônios ainda serão exploradas com a mesma qualidade por Lorraine e Ed.