Chato, longo e sem graça, o propagandeado primeiro filme nacional em 3D não apresenta nenhum conteúdo cômico, tentando justificar sua própria existência com o uso - ruim - da tecnologia.
Apoptose é o termo dado para a morte programada de nossas células, em uma espécie de autodestruição. Pois bem, é bastante provável que as células daqueles que forem agredidos por “Se Puder… Dirija!” prefiram explodir a continuarem expostas a essa bomba.
Propagandeado como o primeiro longa brasileiro live-action a ser filmado usando 3D estereoscópico, a fita simplesmente esquece de que, na feitura de uma comédia, isso não importa, desde que os personagens e situações fossem carismáticos e engraçados. A película poderia ter o selo James Cameron de qualidade visual e isso não importaria em risadas se o roteiro e o elenco não funcionassem.
No entanto, o público é obrigado a aguentar um comercial tridimensional de 90 minutos de uma marca de automóveis enquanto atores conhecidos do grande público se arrastam por gags batidas e piadas sem graça, que podem ser telegrafadas por qualquer espectador com um Q.I. maior que zero.
Escrito e dirigido por Paulo Fontenelle, esse desastre cinematográfico conta a história de João (Luiz Fernando Guimarães), um pai ausente, que trabalha como manobrista de um hospital no Rio de Janeiro. Após quase perder a festa de aniversário de seu pequeno filho, Quinho (Gabriel Palhares), ele convence sua ex-mulher (Lavínia Vlasak) a deixá-lo passar o dia seguinte com o garoto, mas esquece que teria de trabalhar. Incentivado pelo colega Edinelson (Leandro Hassum), ele pega o carro “emprestado” de uma das clientes do estacionamento (Bárbara Paz) para ir buscar o garoto. A partir daí, a Lei de Murphy assume e ele tromba com assaltantes incompetentes, um ciclista e por aí vai…
O João de Luis Fernando Guimarães é um ser desprezível. É impossível simpatizar com um protagonista que se revela um pai relapso, um profissional pior ainda, um amigo que não se importa muito em deixar um companheiro na pior e uma pessoa que só se pensa nos outros quando lhe convém. Não há qualquer característica redimível no manobrista, algo que poderia ser relevado caso seu intérprete imprimisse algum carisma, mas Guimarães parece morto em cena, incapaz até mesmo de pegar os defeitos de João e os expor de forma cômica, transformando-o em uma figura cansativa e incapaz de carregar uma produção dessas por 90 minutos.
Guimarães ainda divide a cena com o péssimo ator mirim Gabriel Palhares, cuja única característica são os olhos imensos como os do Gato de Botas da franquia “Shrek”. Enquanto isso, as participações de Sandro Rocha, Reynaldo Gianecchini e Eri Johnson mais parecem esquetes de “A Praça é Nossa” de tão batidas e sem graça, com embaraçosos destaques para o diálogo de Gianecchini com a rebocadora e para todas as cenas envolvendo João no hospital.
Isso faz com que as aparições de Leandro Hassum, que tem sua própria trama paralela, tornem-se quase um bálsamo para o público. O avantajado comediante tem um personagem capaz de criar alguma empatia e que ao menos tenta ser engraçado, mostrando-se humano desde o início (a paixonite para com a médica vivida por Bárbara Paz ajuda nesse sentido). Mesmo sem um pingo de inventividade sequer, esse arco é ao menos suportável, mesmo que o script de Paulo Fontenelle se esqueça de encerrá-lo (!).
Fontenelle ao menos tem um motivo para ter esquecido de tirar boas interpretações de seu elenco, pois estava ocupado demais tentando justificar o 3D com tomadas inúteis e exibindo os carros do patrocinador. O diretor chega até mesmo a inserir um plano médio com um palhaço fazendo malabarismo como se estivesse gritando “EI, ESTOU FAZENDO UM FILME 3D!”. E dá-lhe cenas com balões e confetes apenas para exibir a tecnologia.
Inacreditavelmente chato e sem timing, parecendo muito mais longo do que realmente é por conta de sua montagem sem ritmo e falta de conteúdo, “Se Puder… Dirija!” concentra todos os seus esforços em exibir o brinquedo novo dos seus realizadores e falha no objetivo mais básico de uma comédia: fazer rir.