Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 02 de setembro de 2013

Os Estagiários (2013): um publicineeditorial que diverte

Vince Vaughn e Owen Wilson esbanjam carisma como quarentões a procura de emprego na Google.

No ano de 1998, os amigos Larry Page e Sergey Brin criaram um site de buscas na Internet. Com o crescimento comercial, eles começaram a introduzir em sua cultura empresarial os preceitos que os levaram a criar a ferramenta. Assim, obtiveram um crescimento meteórico e transformaram a marca em uma das mais valiosas do mercado (ultrapassando gigantes como Coca-Cola, McDonald’s e Nike).

Hoje, milhares de jovens recém-formados se esforçam para engrossar as fileiras da Google, na Califórnia, passando por processos de seleção curiosos. O que aconteceria se dois “velhos” de quarenta e poucos anos resolvessem tentar participar desse processo? Essa é a premissa de “Os Estagiários”, dirigido por Shawn Levy, a partir do roteiro de Vince Vaughn e Jared Stern.

Nick Campbell (Owen Wilson) e Billy McMahon (Vince Vaughn) são dois vendedores que precisam procurar emprego depois que a empresa em que trabalham fecha as portas repentinamente. Após ver seu casamento afundar por conta de mais um fracasso, Billy leva a Nick, que precisou aceitar o humilhante trabalho na loja de colchões de seu cunhado (Will Ferrell, engraçado como sempre), a ideia de tentarem um estágio na Google.

Depois de uma constrangedora entrevista via webcam, os dois conseguem a vaga na seleção e vão para a sede em Mountain View. Para conseguirem o emprego, eles precisam formar uma equipe com outros colegas (tão deslocados quanto eles) e vencerem uma competição multidisciplinar. A tarefa é coordenada por Chetty (Aasif Mandvi), que vai desde desvendar um bug em um programa até uma partida de quadribol(!) contra a equipe do pernóstico Graham (Max Minghella).

O filme tinha tudo para se tornar um comercial de duas horas da Google. Todas as maravilhas alardeadas pela empresa estão presentes, como o carro dirigido remotamente, a lanchonete grátis, os espaços para descanso, os escorregadores de acesso e as cores fortes espalhadas pelo mobiliário e até a arquitetura do local. Porém, o roteiro insere esses elementos ao longo da trama de forma orgânica, sem a preocupação de criar uma marca fictícia (convenhamos, substituir a marca seria uma ofensa a inteligência do público).

As piadas não apelam para a escatologia ou vulgaridades. Talvez algumas acabem se perdendo na tradução ou precisem de algum conhecimento em informática para surtirem efeito, mas ainda assim geram ótimos momentos, como a “epifania” para a criação de um aplicativo para smartphones.

Felizmente, os realizadores não caíram na armadilha de formar a equipe dos protagonistas com pessoas incompetentes que seriam capazes de resolver problemas complexos apenas por “acreditarem em si mesmos”. Cada um é bom em sua área de atuação, porém eles sofrem com as dificuldades em se relacionar com outras pessoas. Stuart (Dylan O’Brien) é o garoto que sabe usar as ferramentas tecnológicas, mas se comunica quase sempre por meio de mensagens de texto; Neha (Tiya Sircar) é ótima com números, mas nunca teve um namorado; Yo-Yo Santos (Tobit Raphael) é um gênio da programação, mas tem sérios problemas de maturidade (“minha mãe me amamentou até os sete anos”); Lely (Josh Brener) é o chefe da equipe e é um ótimo retrato do nerd que quer passar por descolado. E Nick e Billy, apesar de não entenderem nada de computadores, reforçam a equipe com suas experiências de vida, conhecimento em vendas e relações pessoais.

Infelizmente, os personagens secundários não receberam o mesmo cuidado. Chetty é unidimensional, sempre torcendo para o fracasso da equipe (algo que contraria o próprio “espírito Google” que o filme tenta mostrar),e que protagoniza um inacreditável furo de roteiro no terceiro ato. Rose Byrne também é desperdiçada como Dana, o estereótipo da mulher workaholic, que não tem tempo para relacionamentos e se torna um interesse romântico desnecessário para a história. Graham é um “vilão” igualmente raso, que parece ter mais prazer no fracasso do adversário do que na derrota em si.

O grande destaque é realmente a dupla principal, que esbanja carisma desde o início. Shawn Levy consegue extrair o máximo do  talento cômico de Wilson e Vaughn, dando espaço para o improviso. Algumas cenas chamam atenção, como a primeira entrevista de seleção, o diálogo na lanchonete, as discussões geradas na palestra sobre as normas da companhia e o brainstorm para resolver um dos desafios.

Além de uma ótima diversão, repleta de referências à cultura pop, como “Flashdance”, “Star Wars”, “Harry Potter”, “De Volta Para o Futuro” (um playboy na boate é chamado de Biff Tannen) e “X-Men”, o longa ainda levanta uma boa discussão sobre a pressão sofrida pelos jovens hoje em dia.  A trama é clichê, mas o carisma dos protagonistas salva. O filme não vai mudar a vida de ninguém, mas é divertido assistir.

David Arrais
@davidarrais

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