Raso, maçante e frio. Novo trabalho do diretor norte-americano falha onde “A Árvore da Vida”, seu antecessor, triunfou, apesar de possuírem semelhanças evidentes.
Ame-o ou deixe-o. Poucos cineastas possuem tantos fãs quanto detratores como Terrence Malick. E eles passaram a se multiplicar em grande escala desde o lançamento de seu último filme, “A Árvore da Vida”. Pretensioso ao extremo, o diretor norte-americano entregou um trabalho (e aqui todos hão de concordar) ímpar, que definitivamente mexe com a emoção do espectador. O mesmo não se pode dizer deste “Amor Pleno”. Deixando de lado os longos hiatos que marcam sua filmografia, Malick realiza um longa de características técnicas e (não) narrativas semelhantes ao anterior. O resultado final, porém, não poderia ser mais distinto.
Raso, maçante e frio. Esses são os três principais defeitos desta curta história, a qual o roteiro (se é que se pode dizer que existe um) de Malick faz questão de expandir por quase duas longuíssimas horas. Entre belas imagens de natureza, que tão bem identificam seu cinema, que se mesclam ao acariciar e às brincadeiras inocentes do casal principal, interpretados pela ucraniana (que aqui faz as vezes de francesa) Olga Kurylenko e pelo americano Ben Affleck, o diretor nos apresenta a uma trama que parece nunca sair do mesmo lugar, perdida entre personagens mal desenvolvidos e nada carismáticos sempre exibidos no mesmo mise-en-scène recorrente de Malick.
Mas aqui ele não está inspirado, ou pelo menos não soa original. É fácil confundir sequências de “Amor Pleno” com várias de “A Árvore da Vida”. Na verdade, os filmes parecem fazer parte de uma mesma franquia, vide seu semelhante visual (não por acaso muito bem fotografados por Emanuel Lubezki), jeito de contar uma história e pretensão filosófica universalista. Na película mais recente, porém, falta conteúdo, facilmente engolido pelas idealizações cênicas do cineasta, com sua câmera inquieta e naturalista que não permite planos longos e muito menos diálogos de um minuto sequer.
Não é exagerado dizer que Malick “overdirect”. Talvez por isso tudo exale uma atmosfera artificial, pouco convincente, que jamais envolve o espectador. Até mesmo um poético voice-over, outra característica em obras de Malick, soa desnecessário e repetitivo, dando a impressão de desejarem substituir a falta de interação entre os personagens. A sensação torna-se explícita com a entrada da filha da personagem de Kurylenko, papel da menina Tatiana Chiline, que adiciona uma necessária pitada de sal a uma relação fria aos olhos do público. Pena que seu tempo em tela seja tão curto.
Além da menina, Rachel McAdams e Javier Bardem aparecem em boas participações individuais, mas que pouco acrescentam ao todo do filme, especialmente o segundo. Se McAdams, como a amiga de infância que torna-se algo mais, ainda que temporariamente, incrementa com doçura e beleza, Bardem vem com a provocação, o incomum. É a parte original de uma obra em que falta esse quesito. Como um padre questionador, em dúvida sobre suas crenças, ele traz reflexões interessantes, mas que em nada se conectam ao núcleo principal da trama.
Mas o fato é que em apenas 15 minutos de aparição do personagem, é mais fácil importar-se com as suas divagações do que com as do casal principal. Nem a delicadeza de Kurylenko, a real protagonista do longa, faz o público se importar com sua busca por amor. Seus embates internos e traições parecem gratuitos, talvez também pela total falta de química com Affleck. O ator, por sinal, não poderia estar mais inexpressivo, sendo facilmente engolido pelas personagens femininas, sejam elas adultas ou crianças, de função principal ou secundária.
Mas o maior problema de “Amor Pleno” é sua falta de foco, de um roteiro mais objetivo em sua subjetividade. A liberdade narrativa do diretor, dessa vez, não possui um propósito óbvio e extrapola o limite do aceitável. A montagem confusa, que passou pelas mãos de cinco profissionais, definitivamente prejudica o todo, deixando-o também sem emoção, causando o que Malick dificilmente provoca: a indiferença. Ser lançado em tão curto espaço de tempo após a obra-prima anterior do cineasta causa ainda comparações inevitáveis que fazem do filme uma curva descendente em uma filmografia não menos do que brilhante.