Filme se rende às soluções fáceis e genéricas.
No inicio de suas operações, por alguma coincidência do destino, daquelas que só os bastidores de Hollywood podem explicar, várias produções da DreamWorks Animation podiam ser vistas como “versões alternativas” de trabalhos da sua rival, a Pixar. Com o tempo, a companhia descobriu o seu rumo e evoluiu, presenteando o público com obras de qualidade superior, como os dois primeiros “Shrek”, “Os Sem-Floresta”, “Kung-Fu Panda”, o ótimo “Como Treinar o Seu Dragão” e, mais recentemente, “A Lenda dos Guardiões”.
Por isso, foi uma pena ver a companhia regredindo ao status de Vídeo Brinquedo de luxo com este “Turbo”, fita que, apesar de seus méritos técnicos, mais parece uma mistura sem graça e originalidade de “Carros” e “Ratatouille”. O mais decepcionante é ver o nome do roteirista Robert Siegel, do fenomenal “O Lutador”, associado a esta produção.
Siegel roteirizou a fita ao lado de Darren Lemke (“Shrek Para Sempre”) e do diretor David Soren, sendo este o primeiro longa-metragem do cineasta, mas que já trabalha para a DreamWorks Animation há algum tempo. Na trama, o caracol Turbo e seu irmão, Chet, trabalham em um jardim junto aos seus companheiros, vivendo dos tomates ali plantados.
Enquanto Chet está contente com sua existência pacata e sem incidentes, Turbo anseia por velocidade e riscos, passando seus dias assistindo as corridas de Formula Indy de seu ídolo, o piloto francês Guy Champignon. Após um acidente bizarro, Turbo ganha poderes de supervelocidade e, com a ajuda de um sonhador vendedor de tacos mexicano (cujo relacionamento com o irmão o seu) e de seus amigos, ele sai em busca de realizar seu sonho: correr as 500 milhas de Indianápolis.
Clichês são eternos por algum motivo. São ferramentas que, se bem usadas e empregadas de maneira orgânica, ajudam o contador da história a conversar com o público, algo no que a Pixar é especialista. No entanto, o uso deles aqui é tão desastrado que as costuras do roteiro ficam claras, tornando o desenrolar da história e todas as suas viradas dolorosamente óbvias.
No entanto, a despeito de sua premissa bizarra, tudo em “Turbo” soa como algo reciclado, já visto. Desde a relação do protagonista com seu irmão e com os demais de sua espécie, passando por seu arranjo com o jovem Tito, o surgimento de Guy, a lição sobre acreditar em si mesmo… Basicamente o trio de roteiristas costurou uma série de clichês com algumas gags e rezou pelo melhor.
Não que o roteiro às vezes não pegue no tranco. As gags que mostram Turbo a descobrir os seus poderes, as piadas recorrentes com o conformismo dos caracóis mesmo quando um deles é pego pelos seus predadores alados e o clímax da produção funcionam até que bem, mas movidas apenas pelas próprias situações, que contrastam com os personagens batidos e os coadjuvantes estereotipados e sem graça.
Outro ponto forte da produção é sua parte técnica. Assim como o diretor de fotografia de longas live-action Roger Deakins prestou consultoria em “Rango”, aqui foi a vez de Wally Pfeister, parceiro de Christopher Nolan, ajudar os colegas de animação. E sua colaboração pode sim ser vista na tela.
Os visuais coloridos e diversificados dos cenários da película, passando do jardim, indo para um humilde shopping e chegando às pistas da Indy vão encher os olhos dos espectadores, especialmente dos pequenos. Os efeitos de luz e a simulação de velocidade são fantásticos, com este último elemento tendo forte influência das animações japonesas. Apesar disso, o 3D é dispensável, nada acrescentando ao espetáculo estético.
O próprio design dos personagens é deveras inspirado e imaginativo, o que mostra o esmero dos artistas gráfico em fazer aquele mundo funcionar. O mesmo não pode ser dito da trilha de Henry Jackman (“Detona Ralph”), nada marcante e deveras esquecível, assim como boa parte deste filme, que renegou o absurdo de sua premissa e se rendeu às soluções fáceis e genéricas.