Roteiristas e diretor se perdem em meio a trama original, dando vida a uma história recheada por exageros mágicos e personagens desinteressantes.
Fachada de prédio que se transforma na carta secretamente escolhida pelo participante do truque. Fuga misteriosa e dramática de um tanque cheio de piranhas. Suborno decorrente de uma hipnotização bem sucedida. Já em suas primeiras cenas, “Truque de Mestre” mostra que não é um filme sobre mágicas comuns, dessas que vemos em programas televisivos. O objetivo aqui é surpreender tanto o público de dentro da película quanto o que o aprecia sentado na sala de cinema. Mas na ânsia por tal feito e também por uma história deveras original, a trama ultrapassa o limite do verossímil, entregando-nos um trabalho difícil de engolir.
Credenciado pela participação de diversos renomados atores, o longa traz como figuras centrais quatro mágicos: Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), o mais famoso; Henley Reeves (Isla Fisher); Merritt McKinney (Woody Harrelson); e Jack Wilder (Dave Franco). Observados por um homem misterioso enquanto exercem seu ofício, eles são recrutados para compor um grupo chamado The Four Horseman. A partir de então, o quarteto passa a chamar a atenção de todos por números que envolvem roubos a bancos e a homens milionários. Cabe então ao agente do FBI Dylan Hobbs (Mark Ruffalo) e sua companheira da Interpol Alma Vargas (Mélanie Laurent) investigarem o caso e exporem-se a sabedoria dos ditos cavaleiros.
Escrito por Ed Solomon, Boaz Yakin e Edward Ricourt, e contando com a direção de Louis Leterrier (“Fúria de Titãs”), “Truque de Mestre” traz uma primeira impressão até positiva. Dinâmico graças a uma edição esperta e uma movimentação de câmera digna de bons filmes de ação, o longa, porém, também já dá ideia de suas altas e perigosas pretensões. Entre sequências que extrapolam qualquer imaginação e utilizam-se explicitamente de efeitos visuais, o filme parece caminhar para discutir o limiar entre magia e ilusão, assunto bem explorado em “O Grande Truque”. Mas jamais o faz.
Citações em diálogos sobre o assunto logo são substituídos por conversas fúteis cheias de frases rasas de efeito ou mágicas megalomaníacas, porque essa é a meta do longa: embasbacar. Mas achando o roteiro mais inteligente do que realmente é, Leterrier não só embarca na falta de sentido como a multiplica, desde a invenção de engenhocas tecnológicas até fazer sua personagem viajar dentro de uma enorme bola de sabão. Sim, o nível de “ilusionismo” chega a esse ponto! E o pior é que a história ainda tem a pretensão de tentar explicar alguns, apenas alguns, dos truques, quando não há como explicá-los, pelo menos cientificamente.
A trama vacila também na construção de seus personagens e suspense. Até que Jesse Eisenberg e Woody Harrelson trazem algum carisma, mas a falta de propósito nas atitudes dos mágicos e a concentração da história em Dylan Hobbs, o policial que investiga os “roubos públicos”, torna a película desinteressante a cada nova cena, à medida que o público se cansa do ritmo incessante da narrativa e descobre a falta de conteúdo da obra. Tudo seria menos trágico caso o protagonista de Mark Ruffalo não fosse tão idiotizado. São tantas as humilhações por quais passa, que é quase inevitável não torcer contra ele.
Hobbs ainda é responsável pela interação com a francesa Alma Vargas, interpretada por Mélanie Laurent. Mas a sintomática falta de açúcar entre os dois é tão explícita que é estranho acompanhar o crescimento da amizade entre a dupla. A relação é engolida por um suspense frágil e previsível, que envolve a verdadeira intenção das atitudes dos Four Horseman e a identidade do quinto integrante do grupo. Deixando para o desfecho toda a revelação dos mistérios, o filme é encerrado de forma não plausível como ameaçava se tornar em seu início.
Desperdiçando ainda o talento de Michael Kaine e Morgan Freeman, esse fazendo as vezes de Mr. M da trama (revelando segredos de mágicas alheias e também ajudando a desviar o foco do cerne da história), “Truque de Mestre” é daqueles trabalhos de boa aparência, mas que não chega nem perto de cumprir suas pretensões narrativas. Pode até divertir, especialmente para aqueles que optam por deixar o cérebro fora da sala de projeção. Para todos os outros, é uma grande besteira originada de mentes que não souberam controlar suas imaginações e delírios.