Catherine Keener, Hugh Laurie, Oliver Platt e Allison Janney estrelam comédia dramática agradável, apesar de ato final confuso e protagonista nada carismática.
E se seu pai, ainda casado com sua mãe, deixasse-a para viver com a filha dos vizinhos? E se os tais vizinhos se tratassem de grandes amigos de sua família, quase irmãos de seus pais, desses de frequentar diariamente sua casa? A situação certamente não seria das mais agradáveis. “A Filha do Meu Melhor Amigo”, comédia dramática norte-americana de 2011 que finalmente desembarca no País, ratifica a afirmação anterior. Estrelado por grandes nomes do cinema independente dos EUA, o longa une maturidade e infantilidade em um tom bastante agradável, que seria ainda melhor sem a confusão da meia-hora final e a nada carismática protagonista.
Tudo gira em torno (ou deveria, pelo menos) de Vanessa Walling (Alia Shawkat), uma moça recém-formada que ainda espera o melhor momento para deixar a casa dos pais, David (Hugh Laurie) e Paige (Catherine Keener), em Nova Jersey e partir para Nova York. Esses, por sua vez, vivem um momento infeliz de seu longo casamento. A crise se torna ainda maior com a chegada da filha única de seus vizinhos e melhores amigos, Terry (Oliver Platt) e Cathy (Allison Janney), a inquieta e viajante Nina Ostroff (Leighton Meester). Um caso inusitado entre ela e David dá fim, pelo menos temporariamente, à harmonia que marcava a convivência entre os Ostroffs e os Wallings.
Tendo como principal característica a leveza de sua história, o trabalho dirigido pelo estreante em longas Julian Farino jamais aporta-se completamente no drama ou na comédia. Une ambos com alguns choques, é verdade, pouco provocando gargalhadas e muito menos choros, mas deixando no espectador um ar de simpatia, de identificação. Aos Ostroffs, especialmente aos pais, cabe a função cômica, essa um pouco mais destemperada, acima do tom, viciada em defini-los como donos de uma única característica. Aos Wallings, e também a Nina, o roteiro de Ian Helfer e Jay Reiss concede mais sobriedade e verossimilhança nos tons exatos, sem tornar-se melódico ou dramático demais. Se em um lar sobram situações incomuns, bem como piadas e ironias, até com certo exagero, no outro sobram silêncios e rotinas.
Falhando em convencer o público da real amizade entre os vizinhos, por mais que deixe claro o envolvimento que possuem, seja durante a corrida matinal ou durante todo o restante do dia (a porta está sempre aberta para receber qualquer um deles), a história logo encontra sua essência com a entrada da personagem que irá retirar todos os outros “familiares” de sua zona de conforto: Nina. É ela quem traz graciosidade em doses cavalares, permitindo-se ignorar a mãe sem arrogância e dar alguma chance ao primogênito dos Wallings quando não tem o mínimo interesse. É ela quem nos surpreende com bate-papos descontraídos que justificam sua fama de “desejada” desde a escola.
É também por causa da Nina da adorável Leighton Meester que o romance com o David de Hugh Laurie funciona magistralmente. Uma paixão instantânea e inocente brota dos olhos dos dois personagens como se adolescentes ainda fossem. E levados pela justificativa da “felicidade” (como bem defende o longa desde seu início), mesmo depois de descobertos, dão continuidade ao belo affair, ainda que sem aval das famílias. Sem perder tempo com segredos ou situações desconcertantes que poderiam decorrer disso, a trama embarca no processo de aceitação da nova conjuntura familiar. E vai bem entre os ciúmes da filha, a rejeição dos pais de Nina e a boa resposta inicial da esposa traída. Uma conversa em particular entre David e a recente ex-mulher, em um restaurante, adiciona uma maturidade ainda maior à história.
Porém, o roteiro se perde em seu ato final. Parece sedento por um clímax apoteótico, dando origem às mais bizarras reações. Dessa forma, quase joga fora todo o bom e até certo ponto complexo desenvolvimento de personagens e de suas respectivas adequações à abrupta mudança de caminho que foram levados a (ou escolheram) embarcar. Um ponto final tão óbvio quanto impróprio, que conta ainda com uma desnecessária introdução de um coadjuvante, complementa o frágil desfecho de “A Filha do Meu Melhor Amigo”.
É difícil também se importar com Vanessa, a protagonista que o roteiro trata com tanto descaso. É ela quem narra os momentos-chave da trama. Mas a falta de carisma de sua intérprete, Alia Shawkat, assim como o pouco tempo dedicado aos dramas da moça, fazem-na ser “engolida” por vizinhos e parentes. Nem mesmo a montagem dinâmica e a direção esperta de Julian Farino a valorizam. Sobra apreciar o belo trabalho de colegas de filme. Platt e Janney fazem rir, Keener e Laurie cativam, enquanto Meester conquista, amenizando os defeitos de um longa deveras simpático.