Ao subestimar seu público alvo, a fita até que tenta discutir sobre família e preconceito, mas não sai do lugar comum, entediando crianças e adultos igualmente.
O padrão nos filmes de ficção científica que tratam da relação entre humanos e alienígenas é estes serem antropocêntricos, colocando os seres humanos como os heróis e os aliens como vilões. Muito disso se deve à nossa própria violenta história colonizadora, refletida na cultura cinematográfica. Por isso, a premissa de “A Fuga do Planeta Terra” é tão refrescante, mostrando a intrusão de simpáticos extraterrestres em uma Terra hostil.
De certo modo, é quase uma pena que esse plot (explorado de maneira periférica em “E.T. – O Extraterrestre”) seja desperdiçado em uma animação infantil que se mostra tão inofensiva e segura, sem nenhum senso de suspense ou perigo. O roteiro de Cal Brunker em colaboração com Bob Barlen, concebido a partir de um argumento de Tony Leech e Cory Edwards (“Deu a Louca na Chapeuzinho 2”), usa sua tag apenas para promover aquelas batidas lições de moral quanto a importância da família, em um apanhado de clichês já muito cansados.
Dirigida pelo próprio Brunker, em sua estreia na função no cinema após trabalhar como editor de storyboad em produções como “9 – A Salvação” e “Horton e o Mundo dos Quem”, a fita enfoca a relação entre os irmãos Gary e Scorch, dois funcionários da agência espacial do planeta Baab, cujas personalidades distintas refletem em seus trabalhos. Enquanto o vaidoso Scorch explora o universo impetuosamente, saltando por aí antes de olhar para onde vai, o precavido Gary lhe dá apoio em solo, tentando ao máximo segurar seu irmão antes deste fazer alguma sandice.
Convencido que pode se virar muito bem sem Gary, Scorch briga com o irmão e sai sozinho para responder a um SOS vindo do chamado Planeta Sombrio, um local de onde nenhuma forma de vida inteligente conseguiu escapar (que calha de ser a Terra). Ao chegar aqui, o astronauta é capturado por um insano General americano, com um plano megalomaníaco que põe o universo em risco. Gary e sua família então correm pra resgatar o Scorch, encontrando conspirações e outros aliens pelo caminho.
O design de produção e o dos próprios personagens é bem interessante, brincando com os próprios estereótipos das produções “b” do gênero e os exagerando de maneira cartunesca, com a prevalência de um traço mais arredondado, com todos esses elementos convergindo em uma animação bastante fluida e relativamente detalhada. Mas toda a novidade morre aí.
O desenvolvimento da história é dolorosamente previsível, em um roteiro repleto de furos que tenta ao mesmo tempo ser uma ficção científica infantil e parece gritar para o público ao justificar suas deficiências por ser uma produção voltada ao público infantil. Há ainda um excesso de personagens, como dois fanáticos por conspirações terrestres que aparecem do nada e acabam em lugar nenhum, uma vilã com uma crise sentimental, uma inteligência artificial sem graça e até mesmo a participação da esposa e do filho de Gary na trama parece por demais esticada, especialmente no segundo ato.
No original, o elenco de vozes conta com atores de peso como Brendan Fraser, Rob Corddory, Ricky Gervais, Sarah Jessica Parker, Jessica Alba, Sofia Vergara e William “Capitão Kirk” Shatner, este último sendo o mote de uma gag visual sobre sua condição capilar que apenas trekkers entenderão. Aqui no Brasil, a dublagem peca ao não se decidir quanto ao nome do planeta natal dos heróis (que é chamado de Baab e Baabum, alternadamente) e tem como destaque maior Guilherme Briggs, que vive o impulsivo Scorch, dando uma pegada meio Buzz Lightyear em sua dublagem que combina bem com o personagem.
Jogando no lixo a oportunidade de fazer uma boa sci-fi voltada aos pequenos, “A Fuga do Planeta Terra” prefere investir no genérico, resultando em uma fraca película que não tem apelo nem junto ao público infantil e muito menos aos adultos.