Entregando exatamente a mistura fetichista de carros, pancadaria e mulheres que o público-alvo espera, a única novidade na fita é um abraço ao absurdo ainda maior, o que não é algo necessariamente ruim.
Antes de começar essa crítica, vamos refletir um pouco sobre a mera existência de um sexto filme da franquia “Velozes e Furiosos” e como ela evoluiu de um policial se infiltrando no mundo de pegas para capturar uma gangue de ladrões baratos para essa mesma gangue tentando impedir um ataque terrorista.
Nos doze anos que separam o lançamento do original e a chegada aos cinemas deste “Velozes e Furiosos 6”, a série foi acometida de uma certa megalomania, que acompanhou o fato dela ser atualmente a mais lucrativa propriedade da Universal. Se em 2001, sob a batuta de Rob Cohen, a inspiração veio de “Caçadores de Emoção”, desde que o diretor Justin Lin e o roteirista Chris Morgan assumiram o volante no terceiro filme, as referências passaram aos poucos a ser 007 e “Missão: Impossível”, com essa transição chegando ao seu auge aqui.
De todo modo, o fato de Toretto e companhia estarem há mais de uma década nas salas de cinema indica que há um público para esse produto e que os realizadores conhecem sua audiência ao oferecerem justamente o que eles querem: ação descerebrada, com a dose perfeita de falta de lógica para entreter sem insultar a inteligência de ninguém de maneira muito descarada.
A trama (caso alguém se importe com ela) aproveita o gancho deixado pelo capítulo anterior, com o agora aposentado fora-da-lei Dom Toretto (Vin Diesel) e seu bando sendo contatados pelo agente Hobbs (Dwayne Johnson) para ajudá-lo a derrubar o perigoso Shaw (Luke Evans), especialista em roubos em alta velocidade cujo próximo alvo é um componente que pode deixar as defesas de um país de joelhos. Para completar, o vilão tem em sua equipe a antiga namorada de Toretto, Letty (Michelle Rodriguez), que todos tinham como morta.
O próprio texto de Chris Morgan, que não passa de uma desculpa para as amalucadas cenas de ação, tenta compensar sua própria fragilidade ao reconhecer e fazer graça com alguns de seus problemas, como o fato de que os antagonistas são as proverbiais versões malignas dos “mocinhos” e a constante implausibilidade das situações apresentadas.
O humor da produção fica basicamente por conta das constrangedoras falas do tosquíssimo Roman vivido por um irritante Tyreese Gibson, que soa como um adolescente babaca toda vez que abre a boca. Do mesmo modo, considerando o elenco inchado, repleto de personagens das fitas passadas, cada ator possui uma função clara no roteiro, seja de alívio cômico, âncora dramática, responsável por diálogos expositivos ou buraco negro em cena (Oi, Paul Walker!).
A lutadora Gina Carano, que se mostrou tão expressiva em “À Toda Prova”, aqui atua basicamente com seus punhos, não sendo muito exigida nem mesmo quando a agente que interpreta passa por uma virada brusca de roteiro (completamente sem sentido, aliás). Os demais membros do elenco estão em um piloto automático, com nem mesmo o vilão mau feito pica-pau de Luke Evans se mostrando capaz de despertar qualquer reação na plateia por si mesmo.
Os destaques positivos vão para Vin Diesel, Dwayne Johnson (maior ainda do que em “G.I. Joe – Retaliação”) e Michelle Rodriguez, que, graças às suas presenças carismáticas, conseguem o verdadeiro milagre de proferirem suas falas sem passarem vergonha. O longa explora de maneira divertida e efetiva a rivalidade entre os personagens de Diesel e Johnson, embora em dado momento Justin Lin tente retratá-la através de um plano que contrapõe os dois que, de tão mal concebido, se mostra hilário.
O forte de Lin não é explorar o potencial dramático de seus atores, mas sim a força explosiva das cenas de ação escritas por Morgan. Nisso, o diretor se sai muito bem, usando a seu favor toda a supracitada megalomania da franquia em cenas que ultrapassam os limites do absurdo e divertem justamente por conta disso. Personagens caem de alturas e velocidades insanas, mas só se machucam quando é conveniente para o ”roteiro” e as leis da física estão mais para meras sugestões.
Os veículos, verdadeiros protagonistas do espetáculo, dão um show à parte, com perseguições emocionantes que envolvem carros, motos, e até tanques e aviões de carga. Vale ressaltar que este é o capítulo da franquia com o maior número de mortes civis dentro do universo da série, algo feito com certeza para ajudar o público a diferenciar as ações dos “vilões” daquelas perpetradas pelo grupo de Toretto na fita original.
Com seus brucutus carismáticos, carros turbinados, fetiches masculinos em versão censura 12 anos e proezas impossíveis violentas no ponto certo, este “Velozes e Furiosos 6” se mostra uma boa pedida para um passatempo completamente descompromissado, sendo divertido o suficiente para entreter os não iniciados e trazendo mais daquela dose de adrenalina que os fãs já estão acostumados.
PS: Assim como no exemplar passado, há uma cena pós-créditos que já prepara o terreno para o sétimo filme, desta vez com um explosivo convidado especial.