Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 20 de maio de 2013

O Massacre da Serra Elétrica 3D – A Lenda Continua (2013): continuação ou insulto?

Se apresentando como uma continuação direta do longa original, este desastre travestido de filme mostra um Leatherface mais "humano" em uma trama mais esburacada que os corpos que surgem em cena.

cartaz-oficial-em-portugues-de-o-massacre-da-serra-eletrica-3d---a-lenda-continua---poster-nacional-1363200607260_300x420Sejamos honestos: o público que vai assistir a um filme como este “O Massacre da Serra Elétrica 3D – A Lenda Continua” não está em busca de atuações primorosas ou de um roteiro que explore as bases existencialistas do ser humano, mas sim de diversão sangrenta no seu nível mais básico.

A franquia existe há quase quatro décadas, com muito desta longevidade se devendo ao serial killer Leatherface. Se “Jason X” provou algo foi que uma das poucas coisas que um novo capítulo de uma série do gênero não pode fazer é descaracterizar seu monstro-chave. E o que fizeram com Jason no espaço foi fichinha perto do que acontece com Letherface aqui.

Dirigido por John Luessenhop, o longa em início com um flashback do filme original de 1974, com breves participações de parte do elenco daquela fita, inclusive o primeiro Leatherface, o ator Gunnar Hansen. Logo após os tenebrosos eventos virem à tona, um grupo de moradores da cidade texana de Newt resolve matar todos os membros da sádica família Sawyer, incluindo o mascarado assassino.

A casa é incendiada, com uma bebezinha, prima do maníaco, sobrevivendo e sendo criada em segredo por um dos membros da multidão enfurecida. Nos dias de hoje, a criança, agora a bela jovem Heather (Alexandra Daddario) descobre que fora adotada e, após a morte de sua avó biológica, herda a mansão que fica na propriedade onde os horrores aconteceram. Chegando lá com seus amigos, Heather encontra muito mais que móveis no local, não demorando para o massacre recomeçar.

O primeiro sinal vermelho acende quando vemos que foram necessárias quatro pessoas para escrever o “roteiro” do filme, com membros dessa turma de escritores tendo participado de bombas como “O Grito” . Esse truste cerebral resolveu trazer um lado mais sensível para o texto, com uma discussão sobre quem seria realmente o monstro na história, tentando humanizar Jed “Leatherface” Sawyer.

A tarefa se mostra difícil, posto que o rosto do personagem não aparece e ele só grune em todas as suas aparições. Então o roteiro passa a mostrar que cada uma de suas vítimas merecem ser mortas e transformadas em gado de corte, fazendo isso por meio de justificativas moralistas vindas diretamente da década de 1950. O namorado de Heather (Trey Songz) a trai com a amiga promíscua e maconheira (Tania Raymonde), outro futuro falecido tenta roubar a mansão (Shaun Sipos) e finalmente o último (Keram Malicki-Sánchez)… bom, ele é um cozinheiro.

E então surgem os membros da sociedade local, com um xerife idiota e indeciso (Thom Barry), o prefeito com sede de sangue (Paul Rae) e o policial burro (James MacDonald), que são alvos de Leatherface por seus papéis na morte dos Sawyer. Ao contrário da maioria dos filmes de terror, que meramente identificam as futuras vítimas por seus atos, o longa tenta nos fazer torcer pelo psicopata perigoso porque ele está matando quem merece morrer… além de estar usando uma gravatinha bonitinha de criança (Ownnnn!).

No entanto, o flashback no começo do filme e as próprias ações de Leatherface mostram que o personagem é perigosíssimo e essas tentativas insanas do longa em fazer com que simpatizemos com ele só o enfraquecem e mostram quão equivocadas foram as intenções dos envolvidos na produção, que falham até em matemática básica.  Ora, se Heather era um bebê em 1974, ela teria quarenta anos hoje e não poderia ser… bem, Alexandra Daddario!

Nem mesmo as cenas de gore possuem qualquer valor de choque. Não há tensão nelas, com os fãs do gênero sendo capazes descrevê-las nos mínimos detalhes muito antes de ocorrerem. Isso tira todo o impacto desses momentos e manda para o espaço eventuais catarses que estes poderiam provocar. Até mesmo os efeitos de maquiagem apresentam seus altos e baixos, não sendo dignos de maiores elogios. Chega a ser bizarro (para não dizer hipócrita) que o filme não se envergonhe em mostrar corpos mutilados em cena e tenha medo de exibir um par de seios que seja, mesmo com a câmera do diretor John Luessenhop enfocando a bunda de Tania Raymonde toda vez que a atriz entra em cena.

As atuações são terríveis e fazem jus ao verdadeiro checklist de estereótipos que são os personagens, com Alexandra Daddario sendo o único ponto positivo da produção apenas por sua beleza, tendo em vista que nem mesmo o plot twist envolvendo a bela faz sentido, especialmente por conta da participação de outros personagens na estranha virada. Vale a pena ressaltar que o propagandeado 3D só existe em dois momentos, quando Leatherface arremessa sua serra elétrica rumo a tela, em um efeito tão ruim quanto o resto da fita.

Falhando como exemplar de terror, experiência de choque e homenagem ao original, “O Massacre da Serra Elétrica 3D – A Lenda Continua” certamente não merece figurar como continuação do clássico setentista, com os trechos deste exibidos no começo da projeção nos lembrando que poderíamos usar esse tempo para ver um filme muito melhor.

P.S.: Há uma dispensável – e previsível – cena após os créditos.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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