Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sexta-feira, 09 de agosto de 2013

A Aventura de Kon Tiki (2012): uma grande jornada a favor do conhecimento

História real de herói norueguês empolga com ótima trilha e fotografia, mas peca pela simplicidade dos personagens.

kon tikiO ano de produção deste longa, 2012, é coincidentemente especial para a aventura à qual se refere seu título. No ano das profecias maias, completaram-se 65 anos da travessia liderada pelo explorador e etnógrafo Thor Heyerdahl, que cruzou o oceano para chegar à Polinésia. E em 2013 chega aos cinemas essa impressionante jornada de um herói norueguês em busca de conhecimento.

Em “A Aventura de Kon Tiki” acompanhamos um relato interessante da façanha de Thor enquanto luta para provar sua teoria de que os moradores do Peru teriam, em outros tempos, atravessado o Pacífico e povoado as Ilhas Tuamotu. Rejeitado pela comunidade científica por sua ideia que parecia absurda, Thor (Pål Sverre Hagen) constrói uma jangada com técnicas arcaicas e parte com uma pequena tripulação recriando o caminho seguido pelos antigos peruanos.

A navegação envolveria uma distância de oito mil quilômetros e um tempo de três meses em uma embarcação feita apenas de troncos amarrados por cordas e palha. A fragilidade do veículo é constantemente realçada pelo ótimo trabalho de som, que destaca rangidos e o bater de seus troncos, nos lembrando da insignificância dos exploradores perto da força do mar. Além disso, os elementos sonoros conseguem estabelecer uma atmosfera de tensão, seja com o som ritmado de um lampião que pendula durante uma discussão entre os tripulantes ou atentando para a presença de tubarões, mesmo que não os vejamos. Aliás, tanto os temidos predadores quanto os outros seres marinhos foram concebidos de maneira  convincente pelos efeitos visuais (o tubarão-baleia poderia facilmente figurar em “As Aventuras de Pi”), que também são protagonistas de um poético momento em que a câmera encara distantes galáxias e a Lua para depois voltar à imensidão azul.

A trilha sonora é bastante presente e alterna de maneira inspirada entre um clima melancólico e de aventura com prolongadas notas de piano, ou em um empolgante tema desenvolvido já nas primeiras cenas, em que vemos um pequeno Thor de natureza inquieta em perigo. A fotografia trabalha com cores fortes que valorizam as tomadas externas no oceano e nas florestas e os ambientes são bem iluminados, remetendo ao deus sol Tiki, símbolo da expedição. Em referência ao documentário gravado durante a viagem e que, inclusive, rendeu um Oscar, pequenos trechos em preto e branco simulando uma câmera Super 8 se misturam ao estilo principal de filmagem em uma montagem fluida que se adapta bem ao roteiro enxuto e ágil.

Entretanto, apesar de concentrar a maior parte de seu tempo no mar com o grupo de tripulantes, o script não apresenta personagens com grande desenvolvimento ou conflitos profundos, o que acaba por prejudicar o trabalho do elenco, principalmente de um Pål Sverre Hagen quase inexpressivo. O protagonista é um herói típico, de confiança quase inabalável e cujo problema de relacionamento com a esposa é pouco desenvolvido e soa artificial. Seus demais companheiros, excetuando-se o inexperiente vendedor de geladeiras, que causa alguma complicação à viagem, podem ser praticamente reduzidos às suas respectivas funções na jangada: a dupla responsável pelo rádio, o marinheiro experiente e o operador de câmera.

Um dos finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2013 (perdendo para o ótimo “Amor”), “A Aventura de Kon-Tiki” pode não criar uma identificação tão grande com o público brasileiro devido ao protagonista e sua história, famosos na Escandinávia, mas pouco falados em terras tupiniquins. Mesmo assim, e apesar dos personagens mal elaborados, ainda é uma ótima pedida, em especial para quem gosta de uma aventura com base histórica.

Mateus Almeida
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