Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 13 de maio de 2013

Uma Ladra Sem Limites (2013): comédia genérica se perde na falta de ambição

Sinergia entre os protagonistas não consegue salvar da irrelevância este longa infestado de clichês, twists previsíveis e situações vulgares.

postersemlimitesTudo caminha bem na vida de Sandy Patterson (Jason Bateman, de “Juno”). Homem metódico na casa dos 40, tem tudo o que deseja: bela esposa,  duas filhas e emprego satisfatório.  Mas, quando está prestes a dar o maior passo de sua carreira profissional, descobre ser vítima de uma golpista, que lhe rouba a identidade e torra todo seu dinheiro. A partir desse ponto, atingido nos primeiros 20 minutos de trama, o que se vê da comédia “Uma Ladra Sem Limites” é um road movie infestado de clichês, twists previsíveis e situações vulgares, em um roteiro nada original que leva o protagonista a atravessar os Estados Unidos na companhia da culpada pelo seu inferno astral para recuperar a vida que levava antes.

Os cada vez mais badalados Bateman e Melissa McCarthy (da série “Mike & Molly”), nos dois papéis principais, transportam carisma e competência ao espectador que, se não chega a se contagiar com a química entre o par, sai da sala satisfeito com a performance dele. McCarthy vive Diana, uma maníaca por compras experimentada em roubar a identidade alheia. Ela tenta preencher um vazio existencial e o próprio guarda-roupas usando cartões de crédito falsos até que a fonte de recursos seque e procure uma nova vítima para aplicar o golpe. Não raramente a dupla demonstra uma intimidade cênica que geralmente só se consegue com bons roteiro e direção ou casting acertados. Neste caso, ponto exclusivo para o casting.

Não que o script seja de todo ruim. Mas está longe de ser bom. Como pontos fortes tem a própria premissa do roubo de identidade, a opção pela narrativa linear  – “feijão com arroz” que geralmente dá certo –, alguns bons diálogos (ênfase no alguns) e momentos capazes de furtar sorrisos e até gargalhadas de quem está na poltrona. Há quem defenda que um filme de entretenimento do chamado “Cinemão” de Hollywood tem mesmo essa função: a de entreter.

Já as fraquezas do texto escrito por Craig Bazin (“Se Beber Não Case: Parte II”) e orquestrado por Seth Gordon (“Quero Matar Meu Chefe”) preencheriam um galpão. Aparecem mais claramente na infinidade de lugares comuns, que não trazem só a sensação de “dejà vu”, como também a de “como eles tiveram a coragem de copiar isso?”.  Especialmente a quem já assistiu aos formidáveis “Fuga à Meia-Noite” (1988) e “Antes Só do Que Mal Acompanhado” (1987), comédias norte-americanas que divertem e provocam a reflexão por meio da convivência de duas pessoas antagônicas durante uma viagem. A principal questão de “Uma Ladra Sem Limites” é que não convence nem como comédia descompromissada nem como dramédia, gênero empurrado pela goela do espectador a partir da derradeira parte do filme.

Diante disso e da estapafúrdia perseguição dos caçadores de recompensa caricatos atrás da dupla, que não assustam a ninguém – nem aos perseguidos –, até que a tentativa de redenção da personagem de McCarthy e os clichês sobre a diversidade étnica norte-americana não arranham tanto o desempenho do longa.

Os mais extremados falarão também do abuso do humor físico e sexual que costura a trama. Temos situações cômicas, porém sempre apoiadas no constrangimento e no absurdo. Mas seria justo culpar pela opção o realizador Seth Gordon quando o mercado consumidor de cinema atual clama por continuações de “Ted”, “As Branquelas”, “Se Beber não Case”, “American Pie” e tantas outras? Vendo por esse lado, não. Mas, no final das contas, mesmo se valendo dessas fórmulas de sucesso e se espelhando em grandes obras do passado, “Uma Ladra Sem Limites” fraqueja ao esbarrar em sua própria falta de ambição e em subestimar o público. Por mais que a dupla de protagonistas ainda dê algum brilho ao trabalho, não consegue livrá-lo do esquecimento em poucos meses.

Victor Amaro
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