Oitava adaptação de obra do escritor norte-americano para os cinemas traz os mesmos elementos de sempre: muito romance, inocência, apreciação da natureza e aquela dose de elemento surpresa em seu desfecho. Nada de novo!
De tanto ser adaptado para os cinemas, Nicholas Sparks está quase se tornando um subgênero do romance. “Um Porto Seguro” é nada menos do que seu oitavo livro que vira filme. Se a originalidade fosse uma das características do autor, a insistência se justificaria, mas é o potencial mercadológico do mundo açucarado que descreve em suas páginas (principalmente entre o público feminino) que chama a atenção dos produtores de Hollywood. Neste novo filme, os mesmos elementos continuam em evidência. De diferente, temos apenas os nomes das personagens e da cidade em que eles vão viver seu amor quase impossível cheio de inocência.
Depois de Rachel McAdams e Amanda Seyfried, a loura que protagoniza a mais recente adaptação de Sparks é Julianne Hough. Ela interpreta Katie, uma moça em plena fuga da cidade em que mora. Seus motivos para tal atitude não são claros em um primeiro momento. Mas o fato é que ela encontra em uma localidade litorânea a paz que precisava depois de passar por maus bocados. O que não esparava era se apaixonar tanto tão cedo. Apesar de relutar, Katie não resiste às investidas de Alex (Josh Duhamel), um homem também de passado sofrido. Os fantasmas da antiga cidade da moça, que buscam encontrá-la a todo custo, porém, vão tentar impedir a união dos dois.
Dirigido por Lasse Hallstrom, que já havia realizado o bom “Querido John”, outra obra de Sparks, “Um Porto Seguro” trata-se de um trabalho menos pretensioso e mais descartável do autor. Não estamos diante de um romance que ultrapassa épocas (como “O Diário de uma Paixão”) ou que tenta sobreviver às agruras de um inevitável destino trágico (como “Um Amor para Recordar”). Seu espaço de tempo não chega a um ano e o seu vilão é bastante combatível. A simplicidade, porém, é prejudicada por uma previsibilidade além do suportável, bem como pelo desenvolvimento frágil de sua personagem principal, fazendo com que o filme perca em emoção e traga consigo uma recorrente sensação de dejá-vu.
No entanto, como em todas as outras adaptações, o nascimento e o crescimento gradual do amor entre o casal principal ganha a atenção que merece por parte do roteiro de Leslie Bohem e Dana Stevens. A química entre Duhamel e Hough, principalmente por “culpa” daquele, é imediata. O fato de ambos serem adultos e terem passado por experiências bastante desagradáveis durante toda a vida afetiva (Alex perdeu a esposa por conta de um câncer) não impede nem torna inconvicente a vivência de uma paixão cheia de pureza, que resiste até mesmo a um tórrido primeiro beijo, em uma das cenas mais bonitas de todo o filme. A relação entre Katie e os filhos de Alex, sem forçações de barra ou birras inexplicáveis, também ajuda no estabelecimento do clima de romance.
Se Katie não fosse resumida a uma mulher cheia de traumas recentes, sem qualquer vínculo familiar, bem como tivesse uma intérprete de mais expressividade, o longa ganharia ainda mais em qualidade. Por outro lado, Duhamel faz de Alex um homem bem mais resolvido, cheio de humor e preocupações. Por sinal, a presença (ou falta) da mãe dos filhos do rapaz, seja por meio de memórias ou de objetos deixados por ela, como as cartas que escreveu para os filhos, acrescenta melancolia sem exageros à história. Pena que uma grande surpresa, guardada para os últimos momentos do longa, como de praxe, vise apenas o interesse comercial e prejudique toda uma trama de uma inocência transbordante.
Outro grande erro da película é a tentativa de inserção de suspense, incluída em uma linha investigativa à parte. Sem revelar a essência dos personagens envolvidos na caçada a Katie, o enredo busca enganar gratuitamente o espectador, quando esse jamais possui dúvidas de quem é o mocinho e o vilão da trama. Essa busca torna a história ainda mais previsível, dando à narrativa um desenvolvimento clichê, em que apenas esperamos o momento do tal encontro. E quando ele chega, a falta de originalidade não poderia ser maior.
Soando muito mais como uma “Sessão da Tarde” do dia dos namorados, vide a falta de intensidade de seu arco dramático (em que até a cena de sexo é coberta por lençóis), “Um Porto Seguro” acaba por ser um romance que esbarra em sua simplicidade e falta de pretensão. Não há elemento algum que torne essa história marcante, nem mesmo a desagradável surpresa final, muito menos sua trilha sonora. Mais descartável do que qualquer outra adaptação de obra de Nicholas Sparks, o filme deve agradar apenas aos mais iludidos com o recorrente sentimento que o seu autor insiste em descrever da forma mais pura.