Mesmo reunindo um elenco forte e um diretor gabaritado, este ufanístico filme mais parece uma produção para vídeo estrelada por Chuck Norris nos anos 1990 que qualquer outra coisa.
A maneira mais fácil de descrever este “Invasão à Casa Branca” é como o filho cinematográfico bastardo de “Duro de Matar” e “Força Aérea Um”, mas sem herdar o carisma do primeiro ou o valor trash divertido do segundo. Este novo trabalho de Antoine Fuqua, diretor cujo único grande êxito foi “Dia de Treinamento” lá em 2001, pesa a mão no ufanismo patriótico estadunidense e pega bastante leve no que tange a bom senso e originalidade.
O roteiro dos novatos Creighton Rothenberger e Katrin Benedikt tem como foco Mike Banning (Gerard Butler), agente do serviço secreto encarregado da proteção do Presidente Asher (Aaron Eckhart) e de sua família. Banning é transferido para o trabalho burocrático após uma tragédia envolvendo a Primeira Dama (Ashley Judd). Mas quando terroristas norte-coreanos tomam a Casa Branca e fazem o Presidente de refém, ele se torna a única esperança de resgate, preso sozinho em um prédio cheio de reféns e terroristas, no melhor estilo John McClane.
O grande mistério é como Fuqua conseguiu reunir um elenco extremamente talentoso com um material tão rasteiro. Além de Butler, Eckhart e Judd, o filme tem participações de Angela Bassett, Melissa Leo, Radha Mitchell, Robert Forster e Morgan Freeman, todos eles atores gabaritados que se reduzem em cena a coadjuvantes declamando clichês de filmes de ação em diálogos expositivos e terrivelmente embaraçosos.
Até mesmo o veterano Freeman, que possui o dom de transformar qualquer coisa que declame em algo sábio graças à sua poderosa voz, parece envergonhado do seu texto, estando preso em um núcleo político que é tão útil a este filme de ação descerebrada quanto um drive de disquete num computador hoje em dia. Uma situação interessante é ver o Presidente de Aaron Eckhart ser a “donzela em perigo” esperando pelo resgate do mocinho, um dos poucos pontos (relativamente) diferenciados da película.
Um dos principais pilares de qualquer bom filme de ação é o carisma de seu protagonista e dos vilões, carisma este que pode fazer com que o público ignore um roteiro ruim e até mesmo interpretações canastronas. Neste ponto, temos Gerard Butler em sua zona de conforto, vivendo o herói macho-alfa com o nível certo de fragilidade (aqui representada por uma busca por redenção).
O problema é que jamais conhecemos Mike muito bem (nem mesmo sua namorada o conhece), faltando uma conexão real com o personagem, algo que foi um dos fatores que fez o McClane de Bruce Willis ser tão querido pelo público. Não existe ninguém com quem o herói possa desabafar, tornando tudo muito impessoal, inexistindo qualquer envolvimento emocional com o destino daquele personagem.
Nisso, acaba sendo a bagagem cinematográfica de Butler que empresta alguma força ao protagonista, permitindo até mesmo que a audiência engula momentos como Mike sentado na cadeira do presidente enquanto se prepara para entrar em ação e lidar sozinho com mais de uma dúzia de terroristas fortemente armados.
O bizarro subtexto desta cena, aliás, meio que descreve o filme, com um herói militar (o Rei Leônidas, de “300”, vejam) sentado no posto do “líder do mundo livre” enquanto se prepara para matar inimigos estrangeiros (norte-coreanos, ainda por cima). Certamente, alguns republicanos devem ter atingido o orgasmo assistindo isso no cinema.
Os vilões são extremamente genéricos, com os únicos que possuem alguns diálogos sendo o terrorista-chefe vivido por Rick Yune e o traidor interpretado por Dylan McDermott. Enquanto o primeiro tem como sua maior característica encarar os outros sem mudar sua expressão, o segundo justifica sua vilania como um protesto contra “tudo isso que está aí”, começando a fumar e imitando uma cena de (oh, a surpresa) “Duro de Matar”.
O outro sustentáculo de longas deste gênero são suas cenas de ação. Fuqua faz um trabalho genérico, mas até eficiente quando mantém as coisas mais simples, com os tiroteios e porradarias habituais. Mas quando resolve levar sua ação para o ar, o cineasta nos brinda com sequências deveras absurdas que poderiam passar, não fossem tão mal realizadas e repletas de efeitos especiais que mais parecem inacabados, tirando o espectador do filme e quebrando qualquer suspensão de descrença.
O pacote se completa com uma trilha sonora pavorosa e uma fotografia que passa longe do ideal, especialmente por explorar ao máximo os defeitos especiais da produção. É uma pena ver um elenco tão forte desperdiçado no que mais parece um trabalho para TV daqueles estrelados por Chuck Norris no fim dos anos 1990.