Jason Statham é ofuscado por Jennifer Lopez em novo travalho de diretor de “Ray” e “O Advogado do Diabo”, que agora aposta em tiros, facadas e muito sangue.
Alguns podem chamar Taylor Hackford de versátil. No entanto, seria mais apropriado adjetivar sua filmografia como “sem identidade”. Não há temáticas, gêneros cinematográficos e muito menos estilo de direção que caracterizem suas produções. Vão de cinebiografias a suspenses ousados, passando por dramas familiares; e depois de um último trabalho que quase não chega aos cinemas americanos, ele agora recorre a um padrão mais popular, contando com a participação de um dos astros de ação do momento, Jason Statham. “Parker”, porém, não faz juz ao protagonista que possui, sendo necessário uma figura feminina para dar algum carisma e diferencial a essa história.
Statham, dessa vez, interpreta o personagem título, um ladrão profissional especializado em roubos de grandes escalas. E organizar um assalto a um parque de diversões é sua primeira tarefa nessa trama. A ação tem seus imprevistos, mas alcança o resultado desejado como Parker tem se especializado. O que ele não esperava era ser traído pelo grupo de criminosos com que agiu, receosos de sua negativa em não participar de um novo roubo milionário. Disposto a fazer vingança e ainda surrupiar o plano alheio, ele parte para Palm Beach, Flórida, onde precisa da ajuda da corretora de imóveis Leslie (Jennifer Lopez) para sair de lá coberto por jóias.
Iniciado já na locação do assalto que acontecerá em poucos minutos, “Parker” jamais nega sua natureza comercial. Está ali para entreter o público com tiros, brigas, perseguições e tudo mais que um filme de ação pode proporcionar. A sequência, porém, já permite perceber também que o que veremos será bastante descartável, seja pela escolha de um parque de diversões como cena do crime, seja por fazer seu personagem principal vestir-se de padre e os coadjuvantes criminosos de palhaço, seja pela maneira estúpida com que trata as vítimas do assalto. E é preciso dizer que, infelizmente, as expectativas são cumpridas, mas sem qualquer louvor.
Adaptado do livro “Flashfire”, 19º da série de Donald Westlake sobre seu ladrão Parker, o filme passa, então, a exibir seguidas situações desenfreadas, sem qualquer pontuação, que não deixam o espectador respirar, muito menos identificar-se com qualquer personagem. Em sua ânsia por entretenimento a qualquer custo, o roteiro de John J. McLaughlin (tão “versátil” quanto seu diretor ao escrever “Cisne Negro” e “Hitchcock”) esquece de desenvolver uma rivalidade convincente que sustente a trama, fazendo de seu protagonista uma máquina até certo ponto vulnerável de matar e roubar sem qualquer carisma, incapaz de dizer qualquer ironia ou piada que faça o público torcer a seu favor.
A intenção é de fazer um longa de ação à moda antiga, seja pela maneira com que agem seus personagens, que empunham armas pequenas e facas, seja pelos objetos do roubo, dinheiro e joias, jamais sendo necessário uma super ideia para tê-los em mãos. O charme, no entanto, nunca se instala, e o que vemos, até o seu segundo ato, é uma história atropelada coberta por lugares comuns e cheia de erros de script, que introduz e se despede de coadjuvantes sem qualquer cerimônia (que o diga Nick Nolte!). Mas uma dessas, pelo menos, permite que o longa dê um pequeno salto de qualidade: a Leslie de Jennifer Lopez.
Participando da trama apenas em seus 40 minutos finais, Lopez muda o filme, fazendo-o desacerelar seu ritmo e dedicar-se um pouco mais aos personagens. Na verdade, o roteiro dedica-se apenas a ela, uma mulher de poucos escrúpulos, mas dona de um carisma transbordante e uma sensualidade pouco explorada (com exceção de uma dispensável cena que a exibe só de lingerie). Enquanto isso, Parker permanece apático, assim como seus antagonistas, melhor representado por Michael Chikilis. É o suficiente para que o espectador tenha alguém por quem se importar. De alívio cômico, a atriz-cantora quase vira a protagonista, ofuscando completamente Statham, cuja única surpresa que apresenta neste trabalho é ganhar mais cicatrizes do que o usual.
Por sinal, Hackford entrega uma produção bastante sanguinolenta, sem medo de exibir um esfaqueamento a olho nu e brigas que se alongam além do suportável pelos mais suscetíveis à violência. Ele, no entanto, nunca deixa de ser previsível. Seus recursos técnicos de ação não poderiam ser mais secundários. E não há qualquer charme ou ironia em sua “moda antiga”. Entregando uma produção inferior aquelas já estreladas por Statham, “Parker” não deve satisfazer nem seu público alvo. Taylor Hackford precisa de ser mais seletivo e se esforçar com mais afinco para não ficar conhecido apenas como “o marido de Helen Mirren”.