Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 24 de março de 2013

Vai Que Dá Certo (2013): comédia de assalto fica pelo meio do caminho

Misturando comédia e filme de assalto com referências do mundo nerd, o filme acaba não funcionando em nenhum de seus intentos ao exagerar demais na caricatura, apesar de ter alguns momentos isolados de brilho graças ao seu elenco cômico.

cartaz vai que da certo redimensionadoJPGFábio Porchat e Gregório Duvivier são duas das forças por trás do projeto “Porta dos Fundos”, um dos poucos redutos onde o humor politicamente incorreto não se confunde com piadas cruéis e/ou grosseiras. Antes de se envolverem com aquela empreitada, os dois participaram deste “Vai Que Dá Certo”, fita roteirizada por Porchat ao lado do diretor da produção, Maurício Farias (“O Coronel e o Lobisomem”).

É uma pena que os vídeos de três minutos do “Porta dos Fundos” causem mais risadas que os 90 deste longa. Farias e Porchat chegam com sede demais ao pote, tentando criar uma sátira ao modo de vida paulistano com um “filme de roubo” temperado com referências à cultura pop e nerd. Ao tentarem fazer tudo isso ao mesmo tempo, eles acabam não sendo bem sucedidos em nenhum dos seus objetivos.

Na trama, Rodrigo (Danton Mello), um músico financeiramente quebrado, recebe de seu primo (Lúcio Mauro Filho) a proposta de ajudá-lo a roubar malotes de dinheiro da transportadora onde trabalha. Para o “serviço”, Rodrigo chama alguns amigos que se deram tão mal na vida quanto ele (Duvivier, Porchat e Felipe Abib) e que são tão inexperientes na arte de ladroagem quanto ele e o primo.

No meio da confusão, o grupo acaba trombando com um veterano do exército viciado em TV, policiais corruptos, políticos safados e traficantes bizarros, aquelas figuras pitorescas obrigatórias em produções do gênero. O grande entrave do longa é justamente a inabilidade deste em conseguir fazer rir ao mesmo tempo em que desenvolve os personagens.

No primeiro ato da produção, a fita diminui seu ritmo ao mínimo para expor as personalidades de Rodrigo e dos demais protagonistas. Nisso, o timing das piadas se perde, prejudicando a comédia, especialmente quando as gags surgem forçadas dentro do roteiro.

A situação melhora um pouco no segundo ato, mas aí surge outro problema, quando as piadas começam a aparecer como pequenas esquetes que funcionam quase que de forma independente da trama, como na cena onde Porchat resolve dançar pole dancing no meio da rua. São momentos que até fazem rir, mas que não se encaixam bem na história que está sendo contada.

Em compensação, o humor funciona quando inserido dentro do cotidiano, como no roubo do carro de Rodrigo ou nas abordagens policiais que o grupo sofre. Essas cenas, as melhores da produção, expõem as inseguranças dos personagens e conseguem conectar o público com as trapalhadas expostas na tela, possibilitando até mesmo exageros bem dosados sem alienar a audiência.

Há ainda um quê meio “mamãe quero ser nerd”, com efeitos sonoros e motivos visuais que tentam remeter ao Atari do começo dos anos 1980, como se quisesse mostrar que aqueles homens na casa dos trinta não cresceram. Mas isso é feito de modo desorganizado, com as referências jamais se encaixando bem no restante da produção.

Mesmo com a falta de encaixe dos elementos da história, o elenco até que se esforça para criar figuras simpáticas, mas o roteiro pesa a mão nos estereótipos, especialmente com os personagens de Gregório Duvivier e Felipe Abib, cujos diálogos tentam ser nerds, mas que jamais soam naturais ou mesmo engraçados (vide a conversa sobre Batman e James Bond, que não faz nenhum sentido dentro da história).

Fábio Porchat também acaba forçando demais nos seus trejeitos, sempre chamando muita atenção para si. Os melhores em cena são Danton Mello, Bruno Mazzeo e Natália Lage, sendo uma pena que os personagens desses dois últimos acabem tão pouco explorados. Não por acaso, os três vivem as figuras mais normais que surgem em cena (ou pelo menos os menos caricaturais).

Terminando ainda com um gancho para uma eventual continuação, o longa acaba por não funcionar como comedia ou heist movie, desperdiçando um elenco cômico com uma ótima química em um texto com muita ambição e somente alguma inspiração.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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