Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 17 de março de 2013

A Fuga (2012): um suspense dramático com resultados cômicos

Diálogos horrendos, situações forçadas e humor acidental dão o tom neste verdadeiro erro na filmografia do oscarizado cineasta austríaco Stefan Ruzowitzky.

a_fuga_posterAssistir a um filme ruim no cinema pode até ser uma experiência divertida, mas ver um que, além de ruim, desperdiça bons atores e um diretor competente é deveras frustrante. Esse é o caso de “A Fuga”, cujo roteiro tenta ser dramático e tenso, sem jamais chegar perto de concretizar tais ambições.

Escrito (ou cometido) pelo estreante Zach Dean, o script conta a história de Liza (Olivia Wilde) e Addison (Eric Bana), irmãos que assaltaram um cassino e estão em fuga para a fronteira canadense. Após um acidente de consequências sangrentas, os dois se separam em meio a uma nevasca, planejando se reencontrarem na fronteira.

No caminho, Liza acaba pegando carona com Jay (Charlie Hunnam), um ex-boxeador de talento, recém-saído da cadeia e que acabou de piorar sua situação ao se meter em uma briga. Jay está indo para a casa dos pais, Chet e June (os veteranos Kris Kristofferson e Sissy Spacek), tentar encontrar uma saída. Enquanto isso, a policial Hanna (Kate Mara) busca ter seu valor reconhecido pelo pai (Treat Williams), o obtuso xerife local.

Os problemas do texto são muitos. Além de Dean não saber lidar com múltiplos núcleos narrativos, ele ainda o enche de diálogos risíveis (“Minha falecida esposa me contou em um sonho que você viria!”), personalidades flutuantes (especialmente no caso dos irmãos), excesso de clichês mal costurados e, para completar, uma força policial que parece ter como requisito de admissão ter um Q.I. abaixo de 40!

Todas as vezes que surgem os policiais em cena, mais parece que alguém trocou de filme e colocou uma comédia pastelão, quebrando completamente o clima que o longa tenta passar. Um desses gênios fardados chega até mesmo a jogar fora um rádio antes de uma abordagem. Torna-se complicado seguir com o drama dos personagens quando este é entrecortado por esquetes de “Reno 411”.

O triste é ver que boa parte do elenco está realmente tentando. Por mais que Olivia Wilde e Eric Bana se esforcem em dar credibilidade às motivações de seus personagens, estas vão pelo ralo durante o terceiro ato da projeção, onde todos os personagens principais se reúnem no que deveria ser um encontro catártico para todos, com resultados pífios.

As cenas com Kris Kristokferson e Sissy Spacek são salvas pela presença de cena dos dois, completamente desperdiçados nesse tosco esforço cinematográfico. Kristofferson, aliás, possui um daqueles rostos marcados pela idade que parece talhado para o drama, justamente por trazer em seu semblante a experiência e a bagagem que papéis fortes exigem, sendo uma pena vê-lo tão mal utilizado assim.

Já Treat Williams e Charlie Hunnam surgem aqui extremamente canastrões e exagerados. Enquanto isso fortalece o humor (acidental) do personagem de Williams, Hunnam acaba gastando parte do crédito que possui na praça por seu trabalho na ótima série “Sons of Anarchy” vivendo sem brilho ou carisma o seu Jay. Considerando as cenas mais ardentes que ele divide com Olivia Wilde, dá até para entender o que o atraiu no projeto, e não foi a qualidade do texto.

O grande mistério, no entanto, é tentar descobrir como o diretor austríaco Stefan Ruzowitzky se envolveu neste barco furado. Responsável pelo maravilhoso “Os Falsários”, Ruzowitzky tenta desesperadamente trazer alguma respeitabilidade à produção, presenteando o público com planos muito bem elaborados, como o que mostra o acidente no início da fita e aquele que retrata Addison no meio da imensidão gelada. Mas logo fica claro que seus esforços para embelezar essa sessão “Super Cine” megalomaníaca foram em vão.

Com um elenco irregular e um roteiro fraco, “A Fuga” ainda manda o espectador para casa sem saber como sua história termina, tendo em vista que os créditos começam a rolar sem dar nenhum desfecho aos dramas dos seus personagens. Se bem que é possível que, àquela altura do campeonato, o espectador já tenha perdido o interesse mesmo.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

Compartilhe

Saiba mais sobre