Refilmagem do longa homônimo de 1984 não se compromete com a temática pertinente, tornando-se vazio e pouco atrativo mesmo enquanto puro entretenimento.
Durante a Guerra Fria, que teve início logo após o término da Segunda Guerra Mundial e se desdobrou até o final dos anos 80, a instabilidade política e ideológica entre dois países colocava em risco todo o planeta, que viveu décadas de tensão pela constante ameaça de uma Terceira Guerra Mundial. “Amanhecer Violento”, filme de 1984, torna esta hipótese realidade quando apresenta os Estados Unidos em meio a uma invasão surpresa de russos e cubanos, os maiores representantes do temido comunismo aos olhos americanos.
Esta obra contava com um elenco de jovens atores que eram promessa na época, como Patrick Swayze, C. Thomas Howell, Lea Thompson e Charlie Sheen – que dois anos depois protagonizaria um dos maiores clássicos de guerra do cinema, “Platoon” –, aproveitando-se de sua inusitada premissa para discutir sutilmente valores políticos e pessoais em voga, desconstruindo – mesmo que timidamente – a dualidade mocinho/bandido.
Ainda que o longa tenha permanecido obscuro para o grande público, foi realizada uma nova versão, que manteve o mesmo título do original, mas atrasou três anos desde sua filmagem em 2009 até seu lançamento no circuito comercial americano, em 2012. Chris Hemsworth, que protagoniza este remake, nem tinha começado a filmar “Thor” – papel que lhe rendeu fama internacional – quando as filmagens de “Amanhecer Violento” terminaram.
Dois fatores principais contribuíram para este atraso: a famosa crise financeira da MGM – estúdio que viabilizou a refilmagem –, que quase a levou à falência; e a escolha dos vilões, que originalmente seriam chineses. Devido à pressão do governo chinês e ao reconhecimento dos realizadores de que o país é um dos maiores investidores de Hollywood, os invasores foram transformados em norte-coreanos, sendo necessário refilmar algumas cenas e trabalhar determinadas imagens na pós-produção.
Infelizmente, tanto trabalho para colocar o filme nos cinemas não valeu a pena. A superficialidade com a qual Dan Bradley – que estreia na direção, embora já tenha uma vasta experiência como diretor de segunda unidade – aborda a trama compromete seriamente o interesse do público na história e nos personagens. Sem isso, o fator de entretenimento com as cenas de ação seria a única coisa que prenderia o espectador à tela, mas este aspecto também deixa a desejar, pois não sai do lugar comum. Isso é de se estranhar quando temos no comando do longa um experiente coordenador de dublês como Bradley – tendo ele mesmo sido dublê em alguns filmes –, fazendo-nos questionar o interesse dos próprios envolvidos na película em realizar algo que valesse a pena ser visto.
O longa acompanha um grupo de jovens que se autodenominam Wolverines – nome que remete ao time de futebol americano que alguns deles fazem parte –, funcionando como uma espécie de resistência ao domínio estrangeiro em território estadunidense. Carl Ellsworth e Jeremy Passmore exaltam este espírito coletivo em seu roteiro, abusando da verossimilhança quando os trata como os heróis do país, sendo reconhecidos nacionalmente por algumas tarefas bem sucedidas.
Isto até faria mais sentido e transmitiria mais consistência ao tom do filme se não fossem as tentativas frustradas de construir personalidades individuais entre os integrantes do grupo. O resultado é uma obra impessoal com personagens e dramas genéricos que esgotam as possibilidades de vínculo com o público.
O líder Jed (Hemsworth) tenta fazer as pazes com o irmão mais novo Matt (Josh Peck), que por sua vez está mais preocupado em resgatar a namorada Erica (Isabel Lucas) das mãos do inimigo; a patricinha Toni (Adrianne Palicki) que, mesmo em meio ao caos, só tem olhos para Jed; o assustado e indefeso Daryl (Connor Cruise), que sofre calado por seu pai, o prefeito Jenkins (Michael Beach), estar ao lado dos invasores… Nenhuma destas relações é devidamente trabalhada a ponto de fazer com que o espectador se preocupe com o bem estar dos personagens.
No fim das contas, não é surpresa que um filme realizado entre tantas dificuldades não apresente as mesmas qualidades de sua versão original, realizada de forma madura e comprometida com o tema que aborda. Porém, a falta de originalidade e de paciência do roteiro, o descaso da direção e a falta de carisma do elenco são aspectos do processo criativo que não podem ser justificados pela crise financeira do estúdio ou por mudanças específicas de última hora.