Quinto longa da série tem ótimas cenas de ação e consegue divertir, mas não toma responsabilidade por elementos que dão corpo à franquia.
“Você procura encrencas ou são elas que encontram você?” – pergunta Jack McClane (Jai Courtney) a seu pai, que também compartilha a dúvida. De fato, a questão é pertinente uma vez que tudo o que John McClane (Bruce Willis) queria em suas férias era resgatar seu filho – com quem não falava há anos – da prisão russa e acabou caindo de paraquedas na missão deste, que para a sua surpresa, tornou-se um agente da CIA. Aliás, toda a série “Duro de Matar” gira em torno desta ideia: um policial que se mete em uma situação de grande risco sem que esta tenha sido sua intenção.
Tal qual os mais recentes longas de outras franquias de ação clássicas cujos atores principais não estão mais com todo o pique da juventude, “Duro de Matar – Um Bom Dia para Morrer” apresenta o filho do herói como a figura do sucessor, embora o mercado não deixe os senhores de meia-idade se aposentarem em paz tão fácil. Aqui a relação entre pai e filho é mais importante do que qualquer outro aspecto do filme, apesar das ótimas cenas de ação que roubam boa parte da projeção e conseguem entreter bastante.
O McClane que conhecemos está bem mais tranquilo em relação às encrencas em que se mete – o que já podemos observar em “Duro de Matar 4.0” -, como se já acostumado com esse tipo de coisa depois de tantos anos de perrengues não planejados. Isso faz sentido se considerarmos a evolução do personagem durante os longas anteriores, mas por outro lado perde a graça do improviso, das soluções desajeitadas que tanto marcavam o personagem. Aliás, isso é justamente o que o difere do filho, que se acostumou com ações planejadas e seguidas à risca, sendo este aspecto o que rivaliza amistosamente os dois protagonistas: qual método é melhor?
Considerando a importância desta relação para sustentar a narrativa, Skip Woods articula uma trama que não incomoda pela simplicidade, apresentando até algumas reviravoltas interessantes. Dessa forma, o roteirista abre mais espaço para a subtrama familiar, que se desenvolve com certo teor cômico característico da série. Infelizmente, Woods muda de ideia no terceiro ato e torna a figura fundo, e vice-versa. Assim, o desentendimento entre os McClane sênior e júnior é resolvido em um patético diálogo que chega a desconstruir os dois personagens. Tudo isso para voltar a atenção do público totalmente para o clímax, perdendo uma boa oportunidade de fazer deste mais que uma mera diversão, se permeado ainda por diferenças pessoais entre os protagonistas.
O diretor John Moore investe em uma ação orgânica, absurda e muito bem orquestrada, sendo o carro-chefe do filme – e talvez por isso, seu principal erro, pois deixa de lado toda a tensão e dramaticidade que dava corpo aos primeiros longas da série. A montagem de Dan Zimmerman se aproveita bem dos vários ângulos de onde são captadas as cenas – principalmente na perseguição de carros -, cortando-as com rapidez e precisão, mas sabendo o valor de planos mais longos em determinados momentos. Dessa forma, a fotografia com câmera tremida de Jonathan Sela não se perde em cenas que ninguém sabe o que está acontecendo de tão caótico, como acontece em alguns filmes de ação recentes.
Este quinto longa consegue entreter, mas não faz jus à série que compõe. John McClane parece ser menos criativo no humor, repetindo constantemente em meio ao caos que está de férias – piada que perde a graça na segunda vez. A cena do táxi, no início do filme, é uma das poucas que nos dá um verdadeira ideia do que conhecemos do personagem. Os elementos que mais caracterizavam a franquia “Duro de Matar” estão presentes aqui apenas como meras referências. A cena final tem o grande carimbo clichê hollywoodiano, os vilões são fracos e a trama é pouco envolvente até que as reviravoltas chamem a atenção do espectador, que até ali mantém apenas o interesse remanescente dos filmes anteriores e na ação em si, que de fato é o melhor que o longa tem a oferecer.