Longa infantil traz enredo simplório e personagens genéricos, subestimando o público alvo.
Em meio à atual crise criativa hollywoodiana que abastece o mercado com refilmagens, sequências e recomeços de obras do passado, ninguém diria que uma inexpressiva franquia cinematográfica infantil da Globo Filmes também ganhasse um prelúdio e se tornasse uma trilogia – palavra que geralmente carrega um peso qualitativo, mas que neste caso não vai além da mera referência numérica. Trata-se de “Tainá – A Origem” que, como o título já indica, conta o início da história da pequena índia que já protagonizou dois filmes: “Tainá – Uma Aventura na Amazônia” (2001) e “Tainá 2 – A Aventura Continua” (2004).
A história é tão criativa quanto o título do filme. Segue uma estrutura previsível até mesmo para crianças, com personagens genéricos e estereotipados, como se filme infantil fosse sinônimo de filme simplório. Os elementos fantasiosos que permeiam a narrativa, como a flecha azul, completam a fórmula de produção juvenil do início da década de 90, e isso só se torna um defeito a partir do momento em que o longa não constrói uma identidade própria.
O paupérrimo roteiro de Cláudia Levay segue a índia mirim Tainá (Wiranu Tembé) que, após ter sido renegada como guerreira por ser mulher, mesmo obtendo o mérito para tal, parte de sua tribo em busca dos segredos de sua origem, uma vez que foi criada pelo velho índio Tigê (Gracindo Júnior), não tendo conhecido sua mãe. No caminho, ela conhece Laurinha (Beatriz Noskoski), uma menina da cidade que foi passar um tempo com o avô aventureiro Teodoro (Nuno Leal Maia) e acabou se perdendo na floresta.
Enquanto se tornam amigas meio a choques culturais – ingenuamente trabalhados pelo roteiro –, as duas precisam lidar com um trio de vilões que está atrás da primeira árvore do mundo por motivos pouco explanados durante o filme. Os três antagonistas não poderiam ser mais clichês: Victor (Guilherme Berenger), o líder sério e o mais forte do bando; Luna (Laila Zaid), a mulher valente, inteligente e fiel escudeira do líder; e o capanga idiota da turma Bu (Leon Goes), um mero alívio cômico. Mais uma vez, os elementos antiquados do gênero infanto-juvenil gritam na tela forçadamente, prejudicando a evidência do próprio enredo.
A diretora Rosane Svartman falha em dar demasiada importância à comicidade, provavelmente achando que essa é a maneira mais segura de cativar o público infantil. Com isso, afoga o desenvolvimento narrativo em um mar de cenas de humor tolas e desnecessárias, que obtêm maior destaque do que determinados momentos importantes da trama, como o clímax, que deixa a desejar até para o pouco que o filme propõe. Já a montagem de Natara Ney peca em aspectos mais técnicos, perdendo a mão com câmeras lentas ou aceleradas sem função narrativa, cortes rápidos que não apresentam ritmo e sequências de planos que parecem apenas querer preencher espaços vazios, visto a perda de lógica.
O pior do filme está no prólogo e no epílogo – se é que podemos usar estes termos para o que vemos na tela. A primeira “pérola” é uma introdução feita em animação tosca que traz a protagonista fazendo uma pergunta ao público e dizendo que depois do filme teremos a resposta, como se tentando instigar nossa curiosidade. Ao fim, a produção deixa de ser um filme para crianças e se torna um programa de televisão, apresentando-nos um número musical com direito a legendas no estilo de karaokê e tudo mais. Como se não bastasse, a Tainá em animação volta para responder à pergunta que lançou no início da projeção, resultando em um informe chato sobre os projetos indígenas que a Petrobras, patrocinadora do longa, apoia. Um filme ruim qualquer um aguenta, mas um filme com propaganda no cinema, não.