Falta ação. Falta entretenimento.
Existe um problema quando se é Nicolas Cage sem um bom agenciamento. Em uma época em que a indústria está cada vez mais competitiva e novos bons atores aparecem no mercado, parece que os dinossauros do cinema precisam aceitar qualquer papel para não cair no esquecimento. Parece que os bons tempos de “Despedida em Las Vegas” (1995), “Adaptação” (2001) e “O Senhor das Armas” (2005) realmente se foram.
Fica cada vez mais raro aparecer um “Vício Frenético” (2009) na carreira do oscarizado. Não bastassem as escolhas erradas que Cage faz, seus papéis parecem ser todos os mesmos, mudando apenas de nome. Não é diferente com “O Resgate”, dirigido por Simon West, que repete a parceria com Cage anos após “Con Air – A Rota de Fuga” (1997).
Na trama, Cage interpreta Will, um homem exemplar quando o assunto é assalto. Logo nos primeiros minutos, Will se prepara para tirar alguns milhões de um banco, ao lado de seus parceiros Riley (Malin Akerman) e Vincent (Josh Lucas, canastrão em suas duas versões). Bem equipados, eles são alvo da polícia. Durante esse plano, o trio se racha. Enquanto Will se preocupa em apenas roubar, sem matar ou prejudicar os inocentes, Vincent leva um tiro na perna. Com a chegada da polícia, Will é abandonado por seus comparsas. O assalto frustrado resulta na prisão do protagonista, que passa oito anos detido.
Após cumprir a pena, ele tenta se readequar à sociedade. Ainda sob a mira dos policiais, que acreditam que ele pode voltar a agir a qualquer momento, a única coisa que interessa para Will é retomar o contato com a sua filha agora adolescente Alison (Samy Gayle). Logo no primeiro dia de liberdade, Alison é sequestrada e Will precisa de uma grande quantia em dinheiro para ter a garota de volta. Sem o apoio da polícia, que não acredita que ele está sendo perseguido, Will será capaz de roubar mais uma vez por amor.
Escrito por David Guggenheim, do irregular “Protegendo o Inimigo”, falta atrativos ao longa. Cage sequer consegue passar empatia de anti-herói ao espectador, enquanto o elenco secundário está lá apenas para ser usado quando for necessário (e ser esquecido o resto do tempo). Os estereótipos de vilões e mocinhos se fazem presentes, com Vincent retornando das cinzas quase em uma versão mais moderna de Jack Sparrow. Alison, que mal tem tempo em tela a não ser para gritar ou tentar fugir, não cria nenhum elo com o público e, pior ainda, com o próprio pai.
Se o roteiro peca na construção das relações, comete outros erros imperdoáveis. Considerando que oito anos se passaram, o plano de Will para conseguir o dinheiro é tão ingênuo que é impossível não questionar. A polícia, por mais que desconfie de uma recaída do protagonista, aparece aqui apenas como controladora individual, deixando a investigação social de lado. Os diálogos pouco inspirados não dão ritmo ao que poderia ser um bom filme de ação, já que a donzela em perigo é sempre uma temática interessante. Guggenheim se preocupa tanto em exibir o Carnaval de rua e a inexpressividade de Cage que esquece de inserir pelo menos tramas paralelas que compensem ou se relacionem com a principal.
Simon West, que também não é nenhum diretor marcante, a exemplo de “Assassino a Preço Fixo” (2011) e “Os Mercenários 2” (2012), perde muito tempo explorando a falta de conteúdo do script. Durante as operações e manejo de armas e equipamentos explosivos, West até tem inspiração para, junto com a trilha sonora, caminhar para um clímax razoável, mas sempre desperdiça ao ser tudo muito fácil e possível para Will, o que aqui é um erro, já que pouco ou nada conhecemos sobre a vida dele. Então é desagradável receber habilidades que estão ali apenas por necessidade, não por mérito.
A trilha sonora de Mark Isham, que já colaborou positivamente com filmes como “Caçadores de Emoção” (1991), “Bobby” (2006) e “A Vida Secreta das Abelhas” (2008), é responsável pelo único aspecto técnico realmente relevante para a trama, tentando salvá-la do completo descaso que o público possa ter por ela. Nem o departamento de efeitos visuais torna o longa mais interessante, desperdiçando todo potencial que a trama teria.
Quando nem mesmo se enxerga entretenimento durante a projeção de um filme, é preciso reconsiderar as escolhas que fazemos como público de cinema. “O Resgate” falha ao estabelecer seus vínculos internos e com o espectador, que mal pode esperar para o fim da sessão, que certamente não trará nada novo do que já foi abordado inúmeras vezes em filmes do gênero.