Longa indicado ao Oscar é divertido, emocionante e reflexivo.
Qual o preço que se paga pela diferença? O que a manutenção da individualidade traz de prejuízo? Em todo caso, a sociedade é a primeira a julgar e a excluir quem não vive de acordo com suas regras, dentro de valores estabelecidos tradicionalmente. Este tema não é raro em Hollywood, que geralmente se ancora em uma visão limitada de “autenticidade” e acaba caindo na figura ingênua do herói que sabe exatamente o que quer e como conseguir, vivenciando uma sofrida provação que no final lhe recompensará com o reconhecimento de todos.
“O Lado Bom da Vida” – apesar do título nacional piegas – vai por um caminho mais realista. Mais difícil do que obter aceitação dos outros é aceitar a si mesmo. Sucesso maior do que consertar os defeitos é aprender a lidar com eles. Por mais instável que Tiffany (Jennifer Lawrence) pareça ser, ela sabe muito bem disso quando fala com toda segurança que aceita um determinado defeito seu como parte si, assim como todas as outras partes; e ainda provoca Pat (Bradley Cooper) e o espectador com um “e você?”.
O protagonista, que acabou de sair de um hospital psiquiátrico, tenta se readequar à sociedade com a otimista filosofia pessoal do “Excelsior” (“sempre para cima”, em latim) e reatar os laços com sua mulher, cuja traição provocou nele um surto de raiva que resultou em seu internamento. Em um jantar na casa de seu amigo Ronnie (John Ortiz), Pat conhece Tiffany, cunhada de Ronnie, cujo gênio forte é o principal motivador da história originalmente escrita por Matthew Quick em seu livro homônimo.
Se o roteiro adaptado pelo diretor David O. Russell é feito em grande parte de diálogos praticamente ininterruptos, isto é compensado por atuações que os fazem soar naturais – ao ponto de notarmos certos improvisos – e por uma direção que não se limita a registrar os fatos, mas em narrar o não dito por meio dos movimentos de câmera ora inquietos ora tranquilos, do tamanho dos planos, etc.
Lançando mão de uma linguagem quase documental no primeiro ato, Russell introduz os personagens de forma sucinta e efetiva, sem se preocupar com didatismos. A excelente montagem de Jay Cassidy e Crispin Struthers dita o ritmo do longa, cuja introdução com cortes rápidos casa muito bem com a câmera na mão e a fotografia dessaturada de Masanobu Takayanagi. À medida que o filme se desenvolve, o ritmo se acalma, como seguindo o arco psicológico do protagonista, cuja reinserção familiar e social começa bastante conturbada e vai caminhando para algo relativamente estável.
Além de Cooper e Lawrence, que constroem uma química essencial para o filme, destaca-se também Robert De Niro, que já há algum tempo não entregava ao público algo tão digno de reconhecimento. Ele interpreta o pai de Pat com a desenvoltura que fazia falta aos admiradores do ator. Jackie Weaver, que vive Dolores, mãe de Pat, é igualmente competente em seu trabalho, mas infelizmente não tem o tempo de tela que merecia, sendo ofuscada em alguns casos por De Niro, que rouba todas as cenas.
“O Lado Bom da Vida” segue a mesma estrutura narrativa das comédias românticas contemporâneas, mas conta uma história infinitamente mais interessante que a maioria dos filmes deste gênero, com uma abordagem que tenta visivelmente fugir dos clichês e com um conteúdo que transborda da tela, gerando interessantes reflexões a respeito de como escolhemos encarar a vida e nós mesmos. Não é a toa que o filme recebeu oito indicações ao Oscar 2013.