Sem conseguir chegar naquele nível de tosqueira que torna um filme trash divertido, esta "atualização" do conto dos irmãos Grimm tem alguns bons momentos, mas morre na mediocridade.
Os contos de fadas “modernizados” são a grande moda hoje em dia na indústria do entretenimento, seja no cinema, na TV ou nos quadrinhos. As atualizações vão desde um tom mais cínico nos seus roteiros, continuações das histórias clássicas ou até mesmo sátiras. Este “João e Maria – Caçadores de Bruxas” tenta ser de tudo isso um pouco, e esse é o seu grande problema.
A trama usa o conto original dos irmãos Grimm como introdução, mostrando os pequenos João e Maria sendo abandonados por seus pais em uma floresta, onde eles encontram uma casa de doces, sendo lá emboscados por uma bruxa. A dupla escapa e mata a bruxa, fazendo disso uma profissão, tornando-se caçadores de recompensa especializados.
Anos depois, agora vividos por Jeremy Renner e Gemma Arterton, João e Maria são contratados pelo prefeito de uma cidadezinha cujas crianças estão sendo capturadas por um grupo de bruxas liderado pela poderosa Muriel (Famke Janssen). Os dois irmãos são a única esperança do mundo, mas mal sabem que a chave para impedir que as criaturas das trevas alcancem seus objetivos está em seus próprios passados.
Dirigido pelo quase desconhecido Tommy Wirkola, o longa adota o mesmo tom semi-trash de “Zumbis na Neve”, trabalho mais “famoso” do diretor. Assim, o filme é bastante gráfico nas cenas de ação, pautadas pelo exagero cômico e até alguns momentos de gore explícito, ressaltados pelo 3D bastante presente durante toda a projeção.
O visual da produção é interessante, enriquecido pelas filmagens externas feitas na Alemanha e especialmente pela presença maciça de efeitos práticos, maquiagens especiais e animatrônicos, o que contribui e muito com a relativamente eficaz direção de arte da fita. Há ainda alguns conceitos interessantes, como João ter se tornado diabético por conta de sua experiência com a casa de doces e até certa influência steampunk nas armas empunhadas pelos irmãos (embora seja um pouco difícil engolir insulina, metralhadoras e armas elétricas na no que parece ser o final do século XVIII).
A despeito dos elementos satíricos, que vão desde bizarros jornais espalhando a fama de João e Maria pela Europa até a hilária paixonite de um troll por Maria, o filme ainda mostra alguma relutância em abraçar a bagaceira e a idiotice de seu roteiro, na tentativa de ser sério, jamais chegando aos pés de clássicos trashes como “Fome Animal” ou “Um Drink no Inferno”, por exemplo.
Jeremy Renner se mostra pouco à vontade em cena. Mesmo convencendo nas cenas de ação, ele está excessivamente contido durante toda a projeção, sem entrar de corpo e alma na brincadeira. Apesar disso, o ator tem uma boa química com a deslumbrante Gemma Arterton, que parece ter compreendido melhor o que a trama deveria apresentar, dividindo ótimos momentos com o canastríssimo Peter Stormare e com os dois “pretendentes” que se apaixonam por ela no decorrer da aventura.
A vilã de Famke Janssen está no piloto automático, não conseguindo nem despertar raiva no público. Ainda temos a bela, mas insípida, Pihla Viitala como a bruxa boa que funciona como interesse amoroso de João, com a beldade europeia não apresentando nenhuma sintonia com Renner. Ainda no elenco está o jovem Thomas Mann, como o fanboy da dupla de caçadores de recompensa.
O grande problema de “João e Maria – Caçadores de Bruxas” é o fato de que, mesmo querendo ser o primeiro de uma série, o longa sequer consegue estabelecer uma personalidade própria nessa empreitada inicial, sem mostrar qualquer característica especialmente marcante, algo até ressaltado por sua trilha sonora completamente genérica. Ele até diverte pontualmente e o visual é interessante, mas é uma obra esquecível, com atuações fracas e uma direção frouxa, sendo apenas uma tentativa medíocre de ser um blockbuster com um pé no gore.