Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 20 de janeiro de 2013

O Último Desafio (2013): Schwarzenegger em filme solo de gosto duvidoso

Depois de participações na franquia “Os Mercenários”, é a vez do ator ser a estrela de longa que é uma ode à violência, como não poderia ser diferente.

O Último DesafioEle voltou. Arnold Schwarzenegger, como na frase que marcou sua carreira décadas atrás, está de volta aos cinemas pra valer. Depois de participações na franquia “Os Mercenários”, o ator de 65 anos parece querer compensar o período que ficou longa das câmeras enquanto governava a Califórnia. Com nada menos do que oito projetos agendados para os próximos anos, “O Último Desafio” é o primeiro que o traz de volta como protagonista. Mas Schwarzenegger merecia algo melhor, um projeto mais elaborado que não fosse apenas uma ode à violência.

Após ser o Exterminador, Conan e Douglas Quaid, é a vez do ex-fisiculturista interpretar Ray Owens, o xerife de Sommerton, uma pequena cidade americana que faz fronteira com o México. Os tiros e a ação estão apenas na memória quando ainda trabalhava em Los Angeles. Mas a tranquilidade da localidade é a ameaçada com a chegada de estranhos desconhecidos. E a situação piora quando um ex-chefe do tráfico de drogas consegue fugir da polícia de Las Vegas e dirige alucinadamente em direção a Sommerton. Os fatos podem estar conectados e cabe a Ray e sua equipe limitada e inexperiente realizar o trabalho que o FBI falhou em fazer.

Dividido, especialmente em sua primeira metade, entre dois núcleos narrativos, “O Último Desafio” tem como principal problema a contradição de deixar bastante explícita para o público o quão ultrapassada é sua proposta de ação. Se no melhor deles, passado em Las Vegas e nas autoestradas norte-americanas, nos deparamos com um filme surpreendente e moderno, de ritmo acelerado, cercado por tecnologias e bandidos espertos, no outro, passado em Sommerton, temos de lidar com a lentidão de um faroeste falsamente modernizado, sem qualquer charme, dominado por policiais desastrados.

A impressão é de estarmos assistindo a dois longas ao mesmo tempo, sendo que um é bastante superior ao outro. Dessa forma, fica bastante evidente a falta de um tom homogêneo por parte da direção de Jee-woon Kim, que em seu primeiro trabalho em Hollywood, não sabe se opta por um tom dramático ou cômico, unindo os dois de maneira desastrosa. O exemplo mais categórico do erro acontece ainda no primeiro ato quando um dos personagens mais pretensamente engraçados é assassinado sem qualquer cerimônia. As lágrimas, porém, não duram muito. De fato, as gargalhadas se tornam mais comuns a partir de então.

E à medida que o agente do FBI John Bennister, interpretado por um sempre competente Forest Whitaker, vai sumindo da trama, torna-se desesperador perceber que as surpresas do roteiro de Andrew Knauer cessarão e que o potencial do seu núcleo será completamente desperdiçado em prol de um bang-bang final que tem como principal objetivo exaltar o potencial mercadológico de seu protagonista. Logo, não é tão empolgante perceber que o mesmo bando de bandidos que resgatou o antigo líder do tráfico diante de uma escolta de vários carros sucumbirá a intensidade de cinco policiais (dois deles recentemente promovidos) interioranos.

Mas se você está a procura de muitos tiros e mortes, o filme é um deleite, especialmente em seu último ato. Deixando completamente de lado a seriedade que por vezes acomete sua história, o longa admite sua violência gratuita, em que é permitido até mesmo rir de mutilações e bizarrices do gênero. Contribuindo para tanto está Johnny Knoxville e Luis Guszmán, respectivamente, como Dinkum, um morador da cidade inexplicavelmente dono de enormes armas, e Figgy, o policial meio atrapalhado e dedicado de Sommerton. Já a Rodrigo Santoro e Jamie Alexander, como Frank e Sarah, resta a função de empunhar armas e dirigir veículos de forma perigosa.

Comandar toda essa turma cabe ao personagem de Schwarzenegger, que aqui reitera que atuar não é o seu forte e que até mesmo como mero boneco de ação de seus diretores pode estar ultrapassado, vide a inconvicente luta final. O retorno à cidade pode ser uma saída. Mas a volta à ficção científica parece soar melhor, já que sua passagem pelo campo neste “O Último Desafio” rende raros momentos de qualidade, e na maioria deles, Schwarzenegger não está presente.

Darlano Didimo
@rapadura

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