Depois de participações na franquia “Os Mercenários”, é a vez do ator ser a estrela de longa que é uma ode à violência, como não poderia ser diferente.
Ele voltou. Arnold Schwarzenegger, como na frase que marcou sua carreira décadas atrás, está de volta aos cinemas pra valer. Depois de participações na franquia “Os Mercenários”, o ator de 65 anos parece querer compensar o período que ficou longa das câmeras enquanto governava a Califórnia. Com nada menos do que oito projetos agendados para os próximos anos, “O Último Desafio” é o primeiro que o traz de volta como protagonista. Mas Schwarzenegger merecia algo melhor, um projeto mais elaborado que não fosse apenas uma ode à violência.
Após ser o Exterminador, Conan e Douglas Quaid, é a vez do ex-fisiculturista interpretar Ray Owens, o xerife de Sommerton, uma pequena cidade americana que faz fronteira com o México. Os tiros e a ação estão apenas na memória quando ainda trabalhava em Los Angeles. Mas a tranquilidade da localidade é a ameaçada com a chegada de estranhos desconhecidos. E a situação piora quando um ex-chefe do tráfico de drogas consegue fugir da polícia de Las Vegas e dirige alucinadamente em direção a Sommerton. Os fatos podem estar conectados e cabe a Ray e sua equipe limitada e inexperiente realizar o trabalho que o FBI falhou em fazer.
Dividido, especialmente em sua primeira metade, entre dois núcleos narrativos, “O Último Desafio” tem como principal problema a contradição de deixar bastante explícita para o público o quão ultrapassada é sua proposta de ação. Se no melhor deles, passado em Las Vegas e nas autoestradas norte-americanas, nos deparamos com um filme surpreendente e moderno, de ritmo acelerado, cercado por tecnologias e bandidos espertos, no outro, passado em Sommerton, temos de lidar com a lentidão de um faroeste falsamente modernizado, sem qualquer charme, dominado por policiais desastrados.
A impressão é de estarmos assistindo a dois longas ao mesmo tempo, sendo que um é bastante superior ao outro. Dessa forma, fica bastante evidente a falta de um tom homogêneo por parte da direção de Jee-woon Kim, que em seu primeiro trabalho em Hollywood, não sabe se opta por um tom dramático ou cômico, unindo os dois de maneira desastrosa. O exemplo mais categórico do erro acontece ainda no primeiro ato quando um dos personagens mais pretensamente engraçados é assassinado sem qualquer cerimônia. As lágrimas, porém, não duram muito. De fato, as gargalhadas se tornam mais comuns a partir de então.
E à medida que o agente do FBI John Bennister, interpretado por um sempre competente Forest Whitaker, vai sumindo da trama, torna-se desesperador perceber que as surpresas do roteiro de Andrew Knauer cessarão e que o potencial do seu núcleo será completamente desperdiçado em prol de um bang-bang final que tem como principal objetivo exaltar o potencial mercadológico de seu protagonista. Logo, não é tão empolgante perceber que o mesmo bando de bandidos que resgatou o antigo líder do tráfico diante de uma escolta de vários carros sucumbirá a intensidade de cinco policiais (dois deles recentemente promovidos) interioranos.
Mas se você está a procura de muitos tiros e mortes, o filme é um deleite, especialmente em seu último ato. Deixando completamente de lado a seriedade que por vezes acomete sua história, o longa admite sua violência gratuita, em que é permitido até mesmo rir de mutilações e bizarrices do gênero. Contribuindo para tanto está Johnny Knoxville e Luis Guszmán, respectivamente, como Dinkum, um morador da cidade inexplicavelmente dono de enormes armas, e Figgy, o policial meio atrapalhado e dedicado de Sommerton. Já a Rodrigo Santoro e Jamie Alexander, como Frank e Sarah, resta a função de empunhar armas e dirigir veículos de forma perigosa.
Comandar toda essa turma cabe ao personagem de Schwarzenegger, que aqui reitera que atuar não é o seu forte e que até mesmo como mero boneco de ação de seus diretores pode estar ultrapassado, vide a inconvicente luta final. O retorno à cidade pode ser uma saída. Mas a volta à ficção científica parece soar melhor, já que sua passagem pelo campo neste “O Último Desafio” rende raros momentos de qualidade, e na maioria deles, Schwarzenegger não está presente.