Longa desperdiça oportunidades e oferece níveis técnico e narrativo abaixo do padrão “global”.
Em 2006, a Globo Filmes lançou a comédia “Se Eu Fosse Você”, que mesmo com um tema batido, conseguiu fazer um razoável sucesso por ter no elenco nomes já consagrados das novelas do mesmo grupo empresarial. Três anos depois, foi lançada a sequência deste filme, que não trazia nada além da mesma história do primeiro em outro contexto.
Algo semelhante ocorre com a nova “franquia” nacional “De Pernas Pro Ar” – também da Globo Filmes –, cujo segundo longa nos apresenta a mesma protagonista vivendo o mesmo arco do filme anterior, como se tivesse esquecido tudo o que já havia acontecido e não tivesse aprendido nada – o que já era de se esperar de personagens em produções deste nível –, numa história basicamente igual com alguns retoques e enfeites, e até com piadas parecidas senão idênticas.
“De Pernas Pro Ar 2” acompanha Alice (Ingrid Guimarães), uma empresária do ramo de sex shop que é viciada em trabalho e vive estressada. Depois de desmaiar durante um evento da sua própria loja, o marido João Luiz (Bruno Garcia) leva a esposa para tirar férias em um spa a fim de relaxar e não comprometer sua saúde. A partir daí, acompanhamos as peripécias da empresária tentado voltar a trabalhar sem que a família saiba.
Não demora muito para percebermos a fragilidade do roteiro de Paulo Cursino e Marcelo Saback, que além de reciclar a premissa, não aproveita o potencial para algo diferente durante a estada de Alice no spa. A personagem sai do local tão rápido quanto entrou, desperdiçando uma série de coadjuvantes – especificamente Luís Miranda e Tatá Werneck – que poderiam fornecer algum interesse cômico (mesmo que raso) ao público.
Em troca, acompanhamos um segundo ato cansativo e cheio de situações repetitivas: Alice enganando o marido e o filho enquanto foge para reuniões de negócios. Isso dá a impressão de que o roteiro foi modificado de última hora só para irem filmar em Nova York, pensando ingenuamente que isto seria um atrativo a mais para os espectadores, que são tratados como crianças ou adultos idiotas.
Esta suposição chega a ser mais provável quando a maioria das cenas em Nova York é lotada de figurantes desavisados sobre a filmagem que olham com estranheza ou curiosidade para a câmera, tornando-se mais engraçados que os próprios personagens do filme. O senso de ridículo continua quando percebemos que vários momentos, supostamente em solo americano, são claramente filmados em chroma – a famosa tela verde (ou azul). Isso não é motivo para constrangimento, visto que quando a questão é economizar, a própria Hollywood é o mestre das ilusões. Porém, quando o resultado final beira o amadorismo, evidenciando a diferença brusca de textura entre o plano de fundo e os personagens, somos obrigados a reclamar.
De positivo, sobram poucas coisas. Uma delas é Bruno Garcia que, da mesma forma que sua pequena participação no primeiro filme foi o bastante para render certo alívio na qualidade das atuações, aqui o ator novamente rouba a cena nos momentos mais “dramáticos” – mesmo que superficiais. É lamentável assistir a um ótimo ator prejudicado por um roteiro com diálogos nada originais e até medíocres como “eu não quero ter razão, eu quero ser feliz”. Ingrid Guimarães tem lá seu talento cômico e varia bem entre este e momentos um pouco mais sérios, conseguindo segurar a narrativa pobre com bastante dificuldade.
Sem falar na preconceituosa abordagem da personagem Rosa (Cristina Pereira), a empregada de Alice, o longa se desenvolve entre tapas e beijos do casal protagonista, seguindo a estrutura padrão das comédias românticas mais populares e do próprio filme que precede este. Alguns leves sorrisos são inevitáveis e até naturais – nem que seja de desprezo à produção –, mas de forma geral, “De Peras Pro Ar 2” deixa muito a desejar no quesito cômico e narrativo, estando mais para uma minissérie da Rede Globo do que para um filme propriamente dito.