Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A Escolha Perfeita (2012): fraca comédia musical sustenta-se em individualidades

Anna Kendrick e, principalmente, Rebel Wilson contribuem, respectivamente, com seu carisma e humor para dar a este péssimo filme isolados momentos de diversão.

É notória a atual superior qualidade das obras televisivas diante das cinematográficas. E para aproveitar-se do momento de extrema valorização de séries, minisséries e telefilmes, os produtores de cinema parecem ter encontrado uma solução, pelo menos instantânea: copiá-los, imitá-los. Um dos maiores exemplos de tal solução comercial é este “A Escolha Perfeita”. Explicitamente inspirada em “Glee”, esta comédia musical traz mínimas modificações para exibir o seu universo estudantil competitivo, onde os concursos de coral são uma das principais atrações. A falta de criatividade, porém, não para por aí, e é preciso que Anna Kendrick e Rebel Wilson se destaquem para que o filme traga algo de minimamente especial.

Como de praxe em comédia teen, a personagem principal não é daquelas mais populares. Beca (Kendrick) prefere o isolamento proporcionado por seu trabalho ou hobby, a mixagem de músicas, a interatividade com os colegas da nova universidade. A insistência, no entanto, levam-na a entrar no Bellas Barden, um grupo de canto a capella formado apenas por mulheres. A partir de então, ela passa a interagir com a chatice de Aubrey (Anna Camp), a confiança de Chloe (Brittany Snow), a estranheza de Lilly (Hana Mae Lee) e, principalmente, a espontaneidade de Fat Amy (Wilson). Todas têm, porém, um único objetivo: vencer o campeonato internacional da categoria. Para tanto, precisam derrotar grupos da própria universidade, entre eles os bizarros Treblemakers.

Escrito por Kay Cannon, baseado no livro de Mickey Rapkin, e dirigido por Jason Moore, em seu primeiro trabalho para os  cinemas, “A Escolha Perfeita” tem como grande problema caminhar por duas trajetórias ao mesmo tempo: uma mais sóbria e romântica, guiada por uma protagonista “pé no chão”, dona de sua própria vida; e outra non-sense, liderada por uma coadjuvante hilária, que é seguida por outros tantos personagens estereotipados ávidos por sua hora de soltar uma piada. Logo é impossível encontrar harmonia e identificação com essa história recheada de clichês e pontas soltas que sabe qual tom deve escolher, mas parece ter medo de assumi-lo integralmente.

Desde seus primeiros minutos, com uma nojenta cena de vômito e outra que traz uma piada com estupro, o longa já exibe seu bom humor, sua falta de seriedade, seu comprometimento exclusivo com o entretenimento da plateia, chegando a evocar comparações com o ótimo “Meninas Malvadas”. A entrada de Beca na trama, no entanto, traz uma demasiada seriedade, a qual jamais convence, especialmente porque o roteiro não parece preocupado em defendê-la, seja por meio da paixão da moça por música (a qual é esquecida ao final do filme) ou pelo fraco envolvimento amoroso que tem com Jesse (Skylar Astin), do grupo adversário.

Anna Kendrick até contribui com um carisma que lhe é peculiar (e é difícil imaginar outra jovem atriz interpretar tão bem uma personagem tão ruim), mas ela é constantemente ofuscada por pontuais piadas prontas, sejam de bom ou de mau gosto, e improvisações, que são muito bem representadas por Rebel Wilson. Sua Fat Amy, como ela mesma gosta de ser chamada, está ali apenas para fazer graça, especialmente com sua extrema sinceridade em relação a si mesmo e falta de vergonha. E seu tempo de comédia, que já havia sido mostrado discretamente em “Missão Madrinha de Casamento”, é tão bom que ela se torna a grande atração do longa. É inevitável não rir diversas vezes com ela.

O roteiro de Kay Cannon ainda força outras personagens a seguirem pelo mesmo caminho da falta de noção, dando-se bem com algumas, especialmente com os comentários pertinentes dos apresentadores dos campeonatos John (John Michael Higgins) e Gail (Elizabeth Banks) e com as maldades e micos da vilã Aubrey, e vacilando com outras tantas, como com as duas atrizes de descendência asiática do elenco e com o esquisito mágico Benji (Ben Platt). A impressão é de que Canon quer forçar a piada “goela abaixo” do espectador, ultrapassando o limite entre o aceitável e o exagerado. Ver Hana Mae Lee ganhar close toda hora que possui uma fala devido a sua ridícula deficiência é insuportável.

A direção de Jason Moore peca pela falta de criatividade em suas tomadas e ângulos de câmera, especialmente por se tratar de um musical, já demostrando essa característica na primeira audição exibida, quando o máximo que consegue entregar “fora do padrão” é fazer um mosaico dos participantes. Vale ressaltar que o mosaico se repete algumas vezes. Já durante as apresentações, sua variação se resume a ângulos frontais e traseiros do palco.

Para compensar,  “A Escolha Perfeita” possui ótimas gravações, bem como performers, com destaque para a própria Kendrick, trazendo uma seleção de músicas atuais (de Jessie J a Kelly Clarkson, passando por Bruno Mars) e oitentistas que satisfarão ao grande público. Além disso e algumas pontuais risadas, não há muito que o filme consegue proporcionar de qualidade. E chega a ser um desaforo a constante referência feita pela trama a “Clube dos Cinco”, clássico de John Hughes que não possui sequer uma semelhança com essa fraca comédia musical.

P.S.: Um pequeno erro de gravação exibido durante os créditos finais constata a total depêdencia do filme da personagem de Rebel Wilson.

Darlano Didimo
@rapadura

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