Jennifer Lawrence paga seu primeiro grande mico na telona em um longa que, não fosse por ela, provavelmente seria lançado direto para o mercado de home-vídeo.
Não existe uma fórmula certa para um bom filme de suspense, mas quando o público sente aquele frio na espinha crescente e se vê em um estado de tensão constante por aquelas pessoas cujas histórias acompanha na tela, sabe que está vendo uma obra que funciona. Isso não ocorre em “A Última Casa da Rua”, até porque essa produção parece que só lembra do gênero nos seus últimos 20 minutos, ao jogar um monte de reviravoltas sem sentido na esperança que uma delas cole.
Dirigido por Mark Tonderai (estreando na função nos cinemas), o longa nos apresenta a Elissa (Jennifer Lawrence), jovem que acaba de se mudar com sua mãe (Elisabeth Shue) para uma cidade do interior, morando vizinhas a uma casa onde uma garota chamada Carrie Anne matou os próprios pais. Elissa se aproxima de Ryan (Max Thieriot), filho do casal morto que ainda mora na casa onde a tragédia ocorreu, um local que ainda guarda terríveis segredos.
O roteiro, baseado em uma ideia de Jonathan Mostow, foi escrito por David Loucka (“A Casa dos Sonhos”) e é um dos grandes problemas da fita. Após um breve prólogo, o filme simplesmente não decola, parecendo um drama teen, musical, romance adolescente… qualquer coisa, exceto uma história assustadora. Acontece que o texto aposta todas as suas fichas na reviravolta final de seu último ato, que depende juntamente de toda essa enrolação.
Paradoxalmente, isso faz com que qualquer tipo de tensão surja tarde demais, com o filme esperando em vão que o “romance” entre Elissa e Ryan e os “problemas familiares” envolvendo os dois segurem a audiência até o momento dos twists. Além disso, os personagens são absolutamente desinteressantes, sem dar motivos para que o público se importe com eles até que os eventos mais chocantes passem a se desenrolar.
A protagonista, vivida por Jennifer Lawrence, só ganha alguma identidade por conta do carisma da jovem atriz. O diretor até parece reconhecer que o projeto só tem alguma chance de sucesso por conta dela, mas a aproveitado jeito errado, fazendo com que sua câmera valorize ao máximo seus “atributos físicos”. Alguns planos parecem ter sido concebidos com o simples propósito de ressaltar o busto da garota em meio às sombras, reduzindo uma boa intérprete a uma aspirante a “scream queen”.
Inexiste qualquer química entre ela e Max Thieriot, cujo Ryan é aquele que teria, em tese, mais aspectos dramáticos a serem explorados pela história, mas a inexpressividade do rapaz faz com que ele só tenha dois modos de atuação durante o longa, somente surgindo na tela com cara de cachorro morto ou gritando com alguém.
Completando o elenco, Elisabeth Shue surge completamente desperdiçada, trocando diálogos horrorosamente repletos de clichês com Lawrence, enquanto Gil Bellows parece nunca mais ter voltado a atuar depois de “Ally McBeal”, vivendo um dos policiais mais idiotas da história do cinema (e olha que a competição é apertada).
Na direção de fotografia, Miroslaw Baszak investe de maneira equivocada em uma câmera de mão com tremeliques inexplicáveis, chacoalhando a tela mesmo em momentos mais tranquilos, além de colocar uma absurda tomada em primeira pessoa, que resulta em mais gargalhadas do que em tensão (mas pelo menos ele soube ressaltar os seios da Jennifer Lawrence muito bem). Já a trilha sonora é tão genérica quanto o resto da produção, seja quando coloca a protagonista para cantar ou quando nos “surpreende” com notas altas para pontuar os falsos sustos.
No fim das contas, “A Última Casa da Rua” não passa de mais um daqueles filmes de terror adolescente que não conseguem nem mesmo ser ruins o bastante para serem divertidos. Não fosse o estouro de “Jogos Vorazes” e a presença de Jennifer Lawrence no elenco, se trataria de uma obra que provavelmente nem mesmo ocuparia nossas salas de cinema. Vale mais como o registro histórico do primeiro grande mico da carreira promissora de um jovem talento.