Cinema com Rapadura

OPINIÃO   domingo, 28 de outubro de 2012

Gonzaga – De Pai pra Filho (2012): cinebiografia nacional é fonte de informação e entretenimento

Longa do mesmo diretor de "2 Filhos de Francisco" repete a competência deste com uma obra focada no âmbito pessoal/familiar.

Pai e filho vivem um relacionamento conturbado durante décadas até que fazem as pazes em um final feliz. Esta história não seria tão interessante se não dissesse respeito a dois grandes nomes da música brasileira. Luiz Gonzaga, o pai, foi responsável por popularizar ritmos nordestinos que até então não encontravam praticamente nenhum espaço em outras terras, tendo seu trabalho reconhecido mundialmente. Não muito diferente foi seu filho Gonzaguinha que, embora explorasse um estilo musical diferente do regionalismo do pai, também garantiu seu espaço no coração do público brasileiro.

“Gonzaga – De Pai pra Filho” conta a difícil jornada profissional e pessoal destes dois artistas, “separados pela vida, unidos pela música”, como destaca o pôster. Ninguém mais conveniente para dirigir a obra do que Breno Silveira, que há sete anos realizou outra cinebiografia sobre músicos brasileiros – o competente “2 Filhos de Francisco”, que conta a trajetória da dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano.

A história do “Rei do Baião” é o estereótipo do sertanejo pobre que vai para a cidade grande em busca de um sonho, com direito a romance impossível com uma garota de família rica. A trama começa a se estabelecer melhor quando entra a figura do filho magoado pelo descaso do pai, sendo esta relação o fio que puxa a narrativa para ago mais específico e pessoal, deixando o arco profissional em segundo plano e focando no drama familiar.

Luiz Gonzaga é interpretado por três atores diferentes, de acordo com as fases de sua vida: Land Vieira, Chambinho do Arcodeon e Adelio Lima. Eles têm uma grande semelhança física entre si, o que é muito bem-vindo em casos como este. Todos são muito bons atuando, mas o destaque maior vai para os dois últimos, que têm mais tempo de tela. Chambinho, músico sanfoneiro que faz sua estreia como ator vivendo seu grande ídolo, tem um enorme carisma e a vantagem de saber cantar e tocar de verdade, contribuindo para o realismo das cenas musicais. Lima tem trejeitos de Antônio Fagundes que combinam de forma inusitada com a maturidade do personagem, compondo a postura e presença exigidas por este.

Já Gonzaguinha, que também é vivido por mais de um ator, é consolidado apenas por um: Julio Andrade, que além de possuir dotes musicais de verdade, assim como Chambinho, tem uma semelhança espantosa com seu personagem. O ator encarna dignamente a mágoa do filho abandonado, sem parecer piegas ou forçar o papel de vítima, conseguindo a empatia do público facilmente.

Silveira mantém a cautela que teve em “2 Filhos de Francisco”, tentando ao máximo fugir da linguagem novelesca imposta subliminarmente pela Globo Filmes em suas produções, embora cometa alguns deslizes em momentos de carga dramática propícia a tal abordagem. A história, que já é interessante por si só, é muito bem estruturada pelo roteiro de Patrícia Andrade, que dá dinamismo à narrativa relativamente simples, pecando apenas pelos diálogos padronizados que marcam o início e o final do longa.

A fotografia de Adrian Teijido trabalha de forma interessante a variação de foco, criando planos “estilosos” que valorizam os closes. Infelizmente, este elemento é mais presente no primeiro ato, perdendo-se ao longo do filme e limitando-se a planos mais convencionais. A montagem de Vicente Kubrusly se utiliza de imagens de arquivo reais que ilustram alguns momentos da vida de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, criando um subtexto documental sempre integrado à narrativa do filme que supre a curiosidade do espectador sobre “a história real”.

“Gonzaga – De Pai pra Filho” apresenta bem as figuras em questão sem se apoiar em um conhecimento prévio do público sobre eles. Além disso, cria um vínculo afetivo muito grande ao dar maior importância à vida pessoal dos artistas em vez de apenas descrever suas carreiras profissionais, servindo como entretenimento e como informação cultural.

Cinema com Rapadura Team
@rapadura

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