Cinema com Rapadura

OPINIÃO   quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Atividade Paranormal 4 (2012): mesma fórmula se une a péssimo roteiro

Quarta parte da franquia de horror é rasa, apenas entregando cota mínima de sustos ao público

O que faz um fenômeno como a franquia “Atividade Paranormal”? No Brasil, segundo país (atrás dos EUA) que mais mobilizou fãs pelo Facebook para assistir ao novo filme antes da estreia oficial (19 de outubro), provavelmente o encantamento com os três primeiros filmes sobre o tema. Afinal, levar susto no cinema, para quem gosta, é uma experiência deliciosa, realmente. Juntando câmeras tremidas, estilo mockumentary (falso documentário) e fenômenos paranormais, o prato está cheio.

Nos três primeiros longas, acompanhamos no debute os fenômenos que tomam conta da casa de Katie (Katie Featherston). Na continuação, a mesma personagem, dominada pelas forças do mal, sequestra o sobrinho Hunter ainda bebê depois de matar a irmã e o cunhado. E, de forma interessante, somos levados à infância das duas irmãs no terceiro longa para acompanhar o nascimento dos fenômenos que as perseguem até a vida adulta.

Àqueles que não assistiram a todos os filmes, não há o que se preocupar. Em “Atividade Paranormal 4”, os diretores Henry Joost e Ariel Schulman, diretores da parte 3 da franquia, abrem recapitulando a história para situar e relembrar o público. O ano é 2011, cinco anos depois da trama do fatídico “Atividade Paranormal 2”, respondendo às perguntas do público sobre o paradeiro de Katie e Hunter.

No longa, acompanhamos a adolescente Alex (Kathryn Newton) e o pequeno Wyatt (Aiden Lovekamp), que moram com os pais Tara (Alexondra Lee) e Jackson (Stephen Dunham, curiosamente morto após sofrer um infarto fulminante logo antes do lançamento do filme). Em crise no casamento, após presenciarem eventos estranhos na casa da frente, eles acolhem o pequeno Robbie (Brady Allen), que se revela um menino de atitudes pra lá de estranhas. Está pronta a avalanche de fenômenos que serão desencadeados a partir de então, como portas que batem, rangidos, pessoas jogadas contra a parede e vultos. Nada muito diferente do que já se viu até agora.

Quem sofrerá mais com isso é a jovem Alex que, junto do amigo-que-quer-ser-seu-namorado Ben (Matt Shively), descobrirá que colocar o menino sob o mesmo teto que eles trará consequências impensáveis. Com algumas referências mais que explícitas ao clássico “O Iluminado”, clássico de Stanley Kubrick, o filme deve arrepiar os pelos daqueles que morrem de medo de uma criança endiabrada (no sentido literal, claro).

Aderindo aos novos tempos, o filme se rende à tecnologia de webcams e iPhones para serem os olhos capazes de enxergar todos os cômodos da casa, especialmente nas conversas online entre Alex e Ben. Porém, o doce Wyatt será o objeto de desejo da terrível seita por trás dos fenômenos sobrenaturais, com um suspense crescente de câmeras amadoras tremidas, jogos de luzes e sombras e um ambiente feito para assustar (a disposição de objetos dúbios na tela dá margem a isso, como a geladeira espelhada e a porta do banheiro de Alex, por exemplo).

O mestre do suspense, Alfred Hitchcock, dizia que “não há nada mais assustador que uma porta fechada”. Nosso imaginário, afinal, pode ser pior do que a própria realidade, fazendo com que o que não se vê (ou seja apenas sugerido na tela) seja capaz de assustar ainda mais. “Atividade Paranormal 4” oferece pouquíssimas inovações na sequência, porém ganha nas imagens cinéticas da sala de estar (onde pontos luminosos se destacam no escuro e oferecem as melhores cenas do filme, com detalhes bem trabalhados nos efeitos especiais).

A tensão crescente, de mostrar personagens andando no escuro ou à meia luz, prestes a encontrar surpresas nada agradáveis pelo caminho, não oferece nada de novo com relação aos outros filmes. O espectador, sempre tenso (e acostumado com a franquia), passeia os olhos por toda a tela, em busca de algo que lhe fará pular da cadeira. Afinal, é este o objetivo, mesmo que use recursos nada originais, como a bola que rola pela escada, o lustre que balança (já visto no primeiro filme) e o gato de estimação que pula em frente à câmera.

Tais sustos gratuitos, entretanto, funcionam até certo ponto, apesar do ritmo lento de segurar a tensão em boa parte do tempo (afinal, quando se está com medo, qualquer barulho ou movimento nos espanta). Um dos defeitos de “Atividade Paranormal 4”, porém, é segurar o suspense por muito tempo para entregar o ápice do horror de forma rápida e superficial em seu epílogo (característica costumeira dos longas criado por Oren Peli). E os fãs já perceberam isso.

O longa ainda tenta se salvar, inclusive colocando os personagens dentro da sinistra casa do garoto Robbie e oferecendo personagens cativantes, como o adolescente Ben, que traz humor e leveza em suas cenas, mas a obra morre na praia em seu resultado geral. A culpa, claro, vem roteiro pífio de Christopher Landon (co-roteirista da primeira e segunda partes da franquia) e o desconhecido Chad Feehan, que não adiciona absolutamente nada à história. Assim, diferente dos três primeiros que entregavam peça a peça do quebra-cabeça que forma a história, temos um quarto longa vazio e, até o momento, o mais fraco da série que, obviamente, não tem data pra terminar e deve ganhar inúmeras continuações.

Léo Freitas
@LeoGFreitas

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