Milla Jovovich volta a encarnar a heroína de ação Alice, enfrentando zumbis, mercenários e monstros neste quinto episódio de uma série cinematográfica que - ainda bem - está se levando cada vez menos a sério.
Sejamos sinceros, por maiores que sejam os problemas com os longas da série “Resident Evil”, ela é a mais bem sucedida transposição dos games para o cinema do ponto de vista financeiro, chegando agora ao seu quinto capítulo com este “Resident Evil – Retribuição”. É uma pena que o diretor e o produtor dos filmes, Paul W.S. Anderson, os tenha apenas como um veículo para sua esposa, Milla Jovovich, que vive a protagonista das películas, Alice.
Qualquer semelhança desse universo com o dos jogos foi pelo ralo no terceiro filme, onde nos apresentou um cenário apocalíptico que mais lembrava “Mad Max” que qualquer outra coisa e deu poderes à heroína Alice (inexistente nos jogos, diga-se) que a tornaram quase invencível, além de lhe “presentear” com um exército de clones na sua luta contra a corporação do mal Umbrella. Anderson percebeu que isso não funcionou e o quarto episódio tentou desfazer um pouco essa bagunça, esforço este que continua (mais ou menos) nesta nova aventura, sumindo com alguns personagens e trazendo outros para a brincadeira.
Há de se notar que “Retribuição” não é o subtítulo mais apropriado para esta produção, com “Chutando o Pau da Barraca” se encaixando melhor. O cineasta aqui abandona qualquer ambição de contar uma história propriamente dita com esses personagens, abraçando a mídia de origem da franquia, embora o faça isso apenas em sua estrutura, esquecendo-se de quão pode ser chato o papel do jogador “de fora”, aquele que fica esperando a pessoa com o joystick passar a vez.
Não espere que a trama faça muito sentido, com a produção sendo inclusive mais interessante quando assume sua própria imbecilidade. Alice não passa por um arco narrativo, mas por “fases”, chegando até mesmo a enfrentar “chefes” no final de cada uma delas, acompanhada da misteriosa Ada Wong (Li Bingbing). Em outra linha narrativa (mais ou menos como no vindouro game “Resident Evil 6”), temos um grupo de guerreiros, comandado por Leon S. Kennedy (Johann Urb), lutando para sobreviver aos seus próprios estágios.
Ada, Leon e Barry (Kevin Durand) surgem para afagar os fãs dos jogos, mesmo com os dois últimos surgindo bem diferentes das suas contrapartes interativas. O vilão Albert Wesker (Shawn Roberts) forma uma aliança com os mocinhos para resgatar Alice das garras da Umbrella, aqui representada por uma hipnotizada Jill Valentine (Sienna Guillory) e pelo computador Rainha Vermelha, vindo lá do primeiro filme.
Por falar naquele longa, outros dois atores dele ressurgem aqui: Colin Salmon e Michelle Rodriguez, além de Oded Fehr, cujo Carlos Olivera foi explodido no terceiro capítulo. Os atores, aliás, não vivem exatamente os mesmos personagens que interpretaram nos filmes anteriores, no que poderia ser um plot interessante para a produção, envolvendo até mesmo a origem da própria Alice, não fosse o roteiro fugir (quase literalmente) desta trama.
Durante toda a projeção, o que o diretor nos dá é sequências e mais sequências de pancadaria à la “Devil May Cry” (outra franquia da Capcom, diga-se de passagem) que ocasionalmente impressionam esteticamente, especialmente por conta de uma boa fotografia 3D. Mas essas cenas logo se tornam cansativas e repetitivas, até porque as figuras que vemos em tela são extremamente bidimensionais, com a maioria servindo apenas para morrer de forma repentina ou como mero fanservice.
Ora, os games podem até comportar ação desenfreada porque nos colocamos no lugar dos personagens, o risco deles são os nossos. Aqui, temos uma experiência assaz passiva, com Anderson alternando entre o slow-motion desregrado e os cortes abusadamente rápidos, tentando decidir se emula Zack Snyder ou (brrrr…) Michael Bay, ao nos mostrar explosões, tiros e frases de efeito.
Mais uma vez, o cineasta explora o máximo que pode a beleza de sua esposa, Jovovich, colocando-a em situações, roupas e poses que evocam apenas imagens levemente masturbatórias para a plateia masculina adolescente (mas sem mostrar demais, infelizmente). Temos ainda uma tentativa de humanizar Alice ao dar-lhe uma “filha”, no que não passa de um eco da protagonista de um filme melhor (no caso, Ellen Ripley de “Aliens – O Resgate”).
No fim da projeção, temos uma fita que pontualmente diverte, mas acaba desabando por conta de sua própria estrutura, se prolongando demais em um duelo final aborrecido e um cliffhanger que mostra que esta “história” ainda está longe de acabar.