Longa inspirado em personagem de TV chega atrasado aos cinemas e não oferece nada de bom em termos de história ou divertimento, sendo completamente descartável.
Estamos vivenciando um momento do cinema nacional onde as comédias dominam praticamente todo o circuito comercial destinado à produção brasileira, independente da qualidade das obras. Depois de mediocridades como “De Pernas pro Ar”, “Cilada.com”, “E Aí, Comeu?” e o recente lançamento “Totalmente Inocentes”, chega às salas aquele que consegue ser provavelmente o pior de todos: “O Diário de Tati”.
A personagem, uma adolescente cheia de gírias e trejeitos característicos interpretada por Heloísa Périssé, surgiu nos anos 90 como integrante da famosa série televisiva “Escolinha do Professor Raimundo”. Com seu relativo sucesso, Tati ganhou uma série própria chamada “Papo Irado”, exibida entre 2002 e 2003 como um quadro no programa Fantástico. Tentando dar uma sobrevida à sua personagem, Périssé escreveu os livros “O Diário de Tati” e “Mãe, Você Não Tá Entendendo” – este último em parceria com Tiza Lobo –, lançados em 2003 e 2004, respectivamente. Em 2006, o diretor Mauro Farias adaptou o primeiro livro para o cinema, mantendo o mesmo título, mas o filme só veio a ser lançado oficialmente em 2012.
O longa segue as desventuras colegiais e amorosas de Tati, com Périssé reprisando o papel que lhe consagrou na televisão. Basicamente, ela precisa fugir da recuperação estudando mais matemática, e para isso contrata Maurinho (Marcelo Adnet), amigo de seu irmão Tom (Pedro Neschling), para lhe dar aulas particulares. Em paralelo, a jovem tenta conquistar Zeca (Thiago Rodrigues), um colega de classe que é extremamente disputado pelas garotas do colégio. Louise Cardoso retorna como Isa (mãe de Tati), papel que interpretou nos episódios de “Papo Irado”.
O primeiro elemento que não funciona é justamente a atriz que, após mais de uma década desde que começou a viver Tati na televisão, não convence mais na pele de uma adolescente. A maquiagem – se é que existe – é incompetente em fornecer um aspecto jovial à protagonista, que se torna ridícula ao lado das amigas de colégio, onde a diferença de idade é visível e gritante.
As atuações são completamente unidimensionais, reservando-se apenas a transpor a linguagem da TV para o cinema. Parte disso é responsabilidade de Farias, que tem seu currículo como diretor feito quase exclusivamente de produtos televisivos. É bastante perceptível e incômodo o caráter de programa de humor empregado na realização da obra, parecendo mais um episódio longo de uma série de TV do que um filme propriamente dito.
A prova mais forte disso são as cenas de transição feitas em animação, que nada influem no desenrolar da história. Lembram muito vinhetas publicitárias ou aqueles “respiros” dos episódios de sitcoms ou desenhos animados. No filme, têm apenas a humilhante função de aliviar a tortura que se desenvolve para o espectador.
Este caráter de programa de TV também fica evidente no roteiro de Paulo Cursino, que pensa em situações cômicas isoladas em vez de utilizar o humor de maneira mais funcional para a narrativa. A pobreza do trabalho de Cursino é revelada logo nos créditos iniciais, quando ouvimos a narração de Tati falando com seu próprio diário, chamando-o de “Di” por ser mais íntimo, dentre outros comentários do mesmo nível.
Como se não bastasse a terrível qualidade humorística, beirando a própria inexperiência em desenvolver este tipo de abordagem, ainda somos obrigados a lidar com a narração totalmente descartável da protagonista, que se limita a descrever exatamente o que já estamos vendo na tela, didatismo que também se repete na própria fala dos personagens.
A história se desenvolve sem grandes surpresas, sem divertimento e sem estabelecer vínculo algum com Tati e muito menos com os coadjuvantes. As piadas provocam vergonha alheia em vez de risos, os personagens são estereótipos mal disfarçados e a direção parece não se importar com nada mais do que cumprir a árdua tarefa de terminar o filme, tornando a experiência de assisti-lo intragável.
Chega a ser inacreditável como “O Diário de Tati” não tem simplesmente nada a oferecer de bom. Até a trilha sonora se torna aversiva, contendo duas músicas de qualidade duvidosa cantadas por Périssé na voz irritante de sua personagem. O desgaste da cópia exibida é bastante visível, denunciando a meia dúzia de anos que o longa ficou estocado até ser lançado comercialmente. Talvez fosse melhor isso nunca ter acontecido.