Versão americana do longa francês traz enredo desinteressante e fraquíssimas atuações.
“Lola” é o remake americano da comédia romântica francesa “Rindo à Toa”, de 2008. Diferente da maioria das refilmagens hollywoodianas nos últimos anos, esta não se justifica por ser baseada em um clássico ou um sucesso estrangeiro recente. Prova disso é que Liza Azuelos, diretora do longa original, tem a agenda livre o bastante para retornar a esta versão no mesmo cargo, não tendo realizado nenhum outro filme nesse intervalo de tempo.
A história é exatamente o que se espera de uma típica comédia romântica adolescente. Lola (Miley Cyrus) é uma garota que descobre estar sendo traída pelo namorado, Chad (George Finn). Desiludida, ela começa a enxergar o melhor amigo, Kyle (Douglas Booth), com outros olhos. O resto, todo mundo já sabe. A falta de originalidade é acentuada quando o enredo precisa recorrer a diversas subtramas desinteressantes apenas para preencher espaço, sem que estas exerçam uma função importante na narrativa.
As desavenças entre Lola e sua mãe, Anne (Demi Moore), são forçadas e inconsistentes. A dinâmica familiar de Emily (Ashley Hinshaw), melhor amiga da protagonista, é totalmente desnecessária e fora de foco. A difícil relação entre Kyle e seu pai (Dennins North) só serve para adiar o momento em que Kyle e Lola fazem as pazes após um mal entendido. Todas estas histórias paralelas existem apenas para justificar a duração do filme com a desculpa de trabalhar os personagens, quando na verdade revela a fragilidade da trama principal, que precisa de bastantes ramificações para se sustentar enquanto história.
O roteiro de Azuelos e Kamir Aïnouz segue a estrutura padrão do gênero, parecendo ter saído da forma. O conceito de identificação entre mãe e filha é constantemente exposto, como se para convencer o público e a si mesmo de que o filme tem algo a oferecer além de clichês. Como se não bastasse tal didatismo, a montagem de Myron I. Kerstein ainda o reforça em algumas sequências em paralelo que mostram mãe e filha entre afetos com seus respectivos parceiros, utilizando uma estratégia ingênua de comparação.
As atuações são medíocres, principalmente a de Cyrus. A atriz não tem carisma nem presença, diluindo-se entre os demais personagens. Isso prejudica drasticamente o vínculo entre espectador e protagonista, assim como o interesse para com sua história. Simplesmente não nos importamos com Lola, independente do que acontece com ela, seja algo bom ou ruim. Isso torna a experiência tediosa durante os 97 minutos de projeção, agravados pela ausência de um alívio cômico decente no qual possamos nos refugiar.
O nível do longa pode ser muito bem resumido em duas cenas específicas. Uma delas é o merchandising de uma certa marca de jóias que, de tão explícito, chega a ser risível – o movimento de câmera existe exclusivamente a serviço de evidenciar o nome da marca, que já estaria de forma bastante nítida no plano. A segunda é quando a mãe de Lola cobra explicações a respeito de suas notas baixas na escola. Em seu pensamento (voz em off), a protagonista diz basicamente que não se importa com outra coisa no mundo se não a suposta traição de Kyle. Estas duas cenas revelam a alienação e a superficialidade dos personagens e do próprio filme, cujo caráter teen chega a ser patético quando até a avó da protagonista é uma mulher relativamente nova, bonita e descolada.
“Lola” é um filme desnecessário e vergonhoso tanto para o próprio cinema quanto para qualquer pessoa. Há poucos elementos que vislumbram algum potencial, por mais ridículos que sejam, mas todas as opções tomadas sobre a abordagem e o objetivo do longa boicotam qualquer chance deste oferecer algo digno de ser apresentado e assistido.
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Thiago César é formado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mas aspirante a cineasta. Já fez cursos na área de audiovisual e realiza filmes independentes.