Cinema com Rapadura

OPINIÃO   segunda-feira, 06 de agosto de 2012

O Que Esperar Quando Você Está Esperando (2012): adaptação não funciona

Mesmo com algumas histórias mostrando algum potencial, o tom genérico e superficial adotado pela produção acaba por minar essa dramédia.

Este “O Que Esperar Quando Você Está Esperando” é uma comédia romântica inspirada no livro de auto-ajuda homônimo que é best-seller no mundo todo. A palavra-chave aqui é “inspirado”, que descreve tudo que o roteiro escrito por Shauna Cross e Heather Hach não é.

No currículo das duas roteiristas estão trabalhos interessantes, respectivamente “Garota Fantástica” e “Sexta-feira Muito Louca”. A despeito de ambas já terem mergulhado com sucesso no universo feminino anteriormente, juntas elas não repetem tal resultado, justamente quando estão lidando com um dos assuntos mais importantes deste mundo (e sim, reconheço a ironia da distribuidora nacional ao soltar um pôster com APENAS Rodrigo Santoro para a promoção do filme, sem nenhuma das atrizes principais).

Mesmo com escritoras que se mostraram competentes anteriormente trabalhando em cima de um livro de sucesso e com o diretor Kirk Jones (do ótimo “A Fortuna de Ned”) no comando, o trem simplesmente desandou. Um dos motivos para isso ter acontecido: a própria (falta de) estrutura adotada pela fita. Considerando que o material original não é exatamente uma peça literária voltada para uma interpretação cênica, os realizadores tentaram abranger o maior número de casos possíveis e imagináveis, visando atrair um público maior.

Nisso, temos várias histórias que se tocam da maneira mais leve possível, todas gravitando sobre o mesmo tema, que é a maternidade. Então, Cross e Hach simplesmente atiraram para todos os lados, nos mostrando, de maneira extremamente superficial, personagens que mal chegamos a conhecer e cujo destino pouco nos importa.

Cada plot gira em torno de um tema diferente. A dificuldade de um casal moderno nas decisões sobre a vida de seu vindouro bebê, o medo que vem da decisão de adotar uma criança, o pânico com uma gravidez inesperada, as dificuldades de se lidar com as transformações que o corpo passa durante a gestação e o fantasma do aborto são os assuntos que passam durante os longos 110 minutos de projeção, que ainda tenta salvar o público masculino da alienação, colocando um grupo de pais que se reúne para jogar conversa fora e trocar “histórias de guerra”.

O resultado é uma verdadeira bagunça e clichês cômicos e dramáticos que poucas vezes funcionam. O pior é que algumas histórias poderiam gerar bons filmes se ganhassem mais espaço para respirar. A trama envolvendo o jovem casal vivido por Anna Kendrick e Chace Crawford tinha algum potencial e os atores nos mostram uma ótima química. Os problemas vividos pelos personagens de Jennifer Lopez e Rodrigo Santoro são bem reais e sustentariam perfeitamente um longa próprio.

O mesmo não dá para ser dito pela trama capitaneada por Cameron Diaz. Além de a atriz surgir excessivamente careteira, sua Jules se mostra uma mulher insuportavelmente inflexível e pouco simpática. E o segmento estrelado pela talentosa Elizabeth Banks acaba indo por terra graças ao inútil conflito pai e filho (Dennis Quaid e Ben Falcone, nesta ordem) enfiado na história e ao excesso de figuras “engraçadinhas” que o rodeiam, especialmente a assistente interpretada pela comediante Rebel Wilson, completamente perdida e deslocada ali.

A péssima montagem da produção reflete muito bem essa bagunça toda, que simplesmente falha ao retratar cômica e dramaticamente esse período tão importante da vida de qualquer mulher, justamente por tentar fazê-lo de uma maneira excessivamente genérica e comercial. Uma pena.

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Thiago Siqueira
 é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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