Coprodução entre Brasil, Chile e Espanha acerta no teor cômico, mas apresenta falhas bruscas que comprometem sua qualidade.
Entre 2003 e 2005, foi exibida no Chile uma série de TV infantil chamada “31 Minutos”, onde fantoches comandavam um telejornal com notícias absurdas. Essa mesma série também foi exibida no Brasil entre 2004 e 2006. Em 2008, foi lançado um filme no Chile, mesmo com grande parte da produção sendo brasileira. Somente agora, depois do recente sucesso de outro longa com fantoches, é lançado no Brasil “31 Minutos – O Filme”, que se desprende do formato da série e coloca seus personagens em uma trama mais cinematográfica.
Devido a um mal entendido, o assistente de produção Juanín (Daniel de Oliveira) é demitido do seu emprego no telejornal pelo apresentador Tulio (Márcio Garcia). Desiludido com os amigos e sem ter para onde ir, Juanín é facilmente enganado por um capanga de Cachirula (Mariana Ximenes), sendo levado para os braços da vilã que coleciona animais raros e os mantém presos em sua ilha-zoológico. Percebendo o erro que cometeu, Tulio se arrepende de ter mandado Juanín embora e, junto com toda a equipe do “31 Minutos”, embarca em uma aventura para salvar seu amigo e pedir perdão.
Para um roteiro escrito por quatro pessoas – Alvaro Díaz, Pedro Peirano (também diretores), Daniel Castro e Rodrigo Salinas –, o enredo deixa muito a desejar em termos de originalidade. Porém, visando um público-alvo infantil, nada mais coerente do que uma trama simples recheada de situações engraçadas, e nisso eles acertam. O humor é despretensioso e inocente, mas não ingênuo. O ritmo e o efeito das piadas se equilibram muito bem com o desenvolvimento da narrativa, nunca esquecendo que, em meio a risos descomprometidos, há uma história para se contar.
O teor cômico é mantido constante pelo próprio design dos bonecos, que de tão bizarros fazem rir por si só. Os personagens variam desde uma bola murcha de futebol com óculos até um ser estranho que na face só tem boca, lembrando muito uma meia – só que com pelos. Apesar do caráter lúdico, somos constantemente lembrados que tais personagens são apenas bonecos, e isso se torna ironicamente efetivo para o interesse do público, que se diverte percebendo os “palitos” que guiam as mãos dos fantoches e a sua “falta de vida” quando em queda livre (sendo simplesmente arremessados). Ou seja, o que teoricamente são defeitos técnicos, na verdade são estratégias claramente intencionais que traduzem uma despreocupação de se levar a sério, fazendo uma paródia de si mesmo.
Mesmo assim, há outros defeitos que não são propositais e realmente incomodam. A direção de Díaz e Peirano tem grandes problemas em delimitar o espaço físico em que ocorrem as ações. A utilização exagerada de planos fechados pouco permite uma visualização satisfatória da geografia do local onde algumas cenas acontecem.
A fotografia de Miguel Ioann Littin Menz se afunda em sua própria metodologia. A opção por um campo de profundidade sempre pequeno, permitindo que o foco se concentre apenas em uma região de cada vez, exige que haja uma constante mudança de foco de um personagem para outro quando estes estão em distâncias diferentes em relação à câmera. Isto foi feito de modo irresponsável, com frequentes desfoques fora do timing da dinâmica da sequência e até planos imperdoáveis onde a imagem está completamente desfocada sem que haja um sentido para tal.
Além disso, o enquadramento de determinados planos é extremamente mal composto, o que é evidenciado ainda mais por algumas falhas da montagem de Galut Alarcón e Felipe Lacerda. O corte de um plano médio para um plano fechado (ou vice-versa), sem que haja nenhuma mudança de fato no que é mostrado na imagem, torna esta opção desnecessária e incômoda.
“31 Minutos – O Filme” oferece uma diversão simples e inteligente, sabendo lidar com o ritmo e o nível das piadas e utilizando muito bem algumas limitações para benefício cômico. A dublagem brasileira também é um ponto positivo. Os atores realmente conseguiram trabalhar a voz a ponto desta ficar irreconhecível e criar uma personalidade para seus respectivos personagens. Por outro lado, o longa peca bastante em aspectos básicos na construção da linguagem cinematográfica, evidenciando um descaso ou mesmo uma incompetência técnica dos realizadores, o que compromete grande parte da obra.
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Thiago César é formado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mas aspirante a cineasta. Já fez cursos na área de audiovisual e realiza filmes independentes.