Essa nova aventura do bando de animais mais desajustado da pré-história acaba servindo apenas para o estúdio continuar a explorar a franquia, não apresentando nada de novo.
O primeiro “A Era do Gelo” nos apresentou ao rabugento mamute Manny, ao selvagem (mas nem tanto) tigre dentes de sabre Diego e à lenta preguiça Sid, com esse exótico grupo de animais se juntando para devolver um bebê humano à sua tribo, com o esquilo Scrat e sua noz aparecendo de vez em quando para dar o ar da sua graça. A sequência nos mostrou a turma às voltas com o derretimento da era glacial e Manny tentando conquistar a mamute Ellie e preservar sua espécie. O terceiro filme trouxe a trupe lidando com ovos de dinossauros, demonstrando que as ideias já estavam no fim.
Até que chegou este quarto filme e mostrou que, de fato, os produtores já não sabem o que fazer com essa franquia. “A Era do Gelo 4”, primeiro filme da série sem o brasileiro Carlos Saldanha no comando, parece reaproveitar os roteiros daqueles filmes da Sessão da Tarde onde pai e filha brigam por não verem o ponto de vista do outro para no final (se preparem para o choque) se reconciliarem.
O interessante é que a produção, dirigida pela dupla Steve Martino e Michael Thurmeier, até começa bem, em um metafórico fundo do poço, onde Scrat em sua busca pela noz acaba ocasionando a diáspora continental, o que acaba separando Manny, Diego e Sid de Ellie e da filha adolescente (ai) do casal peludo, Amora (Peaches, no original). Tendo um iceberg como embarcação, nossos velhos conhecidos embarcam em uma aventura para voltarem para o resto do bando, encarando a tripulação do pirata babuíno Capitão Entranha, com Diego ainda encontrando tempo para uma paixonite com a tigresa Shira e Sid tendo que lidar com sua avó (!).
Escrito por Michael Berg (um dos roteiristas do filme original) e pelo novato Jason Fuchs, o roteiro é de uma preguiça digna de Sid. Não há nada, absolutamente nada de original na condução da relação entre Manny e Amora, que conta ainda com “amigas” fúteis, um interesse amoroso igualmente superficial e um esforçado melhor amigo apaixonado, tudo nos exatos moldes de filmes adolescentes para a TV que são produzidos às dúzias.
Já a adversidade da vez também não é lá das mais interessantes. O tal do Capitão Entranha, apesar de ser um vilão dos mais maniqueístas, não convence muito, não causa raiva ou qualquer outra emoção, parecendo mais uma versão mal-humorada do Rei Julian de “Madagascar”.
As subtramas da produção envolvendo Sid e sua avó e o flerte entre Diego e Shira são mais saborosas, até por não precisarem de uma liçãozinha de moral no final, com a história da tigresa até ecoando o arco de Diego na fita original. Scrat também arranca algumas risadas em suas aparições curtas que, ainda bem, não são lá muito ligadas à história principal.
Se o roteiro não é nenhuma obra prima, o mesmo pode ser dito dos aspectos técnicos, que não causam nenhum espanto ou assombro, com o visual chamando a atenção em raríssimas ocasiões, como no retrato menos convencional das sereias. Até mesmo o 3D é absolutamente descartável, não acrescentando em nada à narrativa ou à experiência.
Contando ainda em seu miolo com uma canção tão pouco inspirada como todo o resto, “A Era do Gelo 4” só serve como mais uma aparição desses personagens nas telas e para trazer mais membros para sua família disfuncional, o que significa mais dinheiro de merchandising para a 20th Century Fox.
P.S.: As cópias do filme são acompanhadas de um ótimo curta estrelado por Maggie Simpson que, mesmo sendo basicamente mudo e em animação tradicional, diz mais do que a atração principal inteira e utiliza os recursos tridimensionais de modo bem mais sensível.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.