Por mais que simpatizemos com o protagonista e sua jornada para reencontrar sua filha, a impressão que fica é que esta história seria mais efetiva caso fosse retratada em um curta-metragem.
A Guerra Civil que assolou a nação da Guatemala se arrastou por mais de trinta anos, de 1960 a 1996, quando foi assinado um cessar fogo permanente entre os grupos rebeldes e as Forças Armadas do Governo, documento este que anistiou ambos os lados por eventuais crimes cometidos durante o conflito. Até ali, milhares de pessoas perderam suas vidas, foram dadas como desaparecidas e/ou foram tiradas de seus lares violentamente. As consequências destas barbaridades são abordadas no longa “Distância”, escrito e dirigido por Sergio Ramírez.
A trama é focada em Tomás Choc, agricultor simples que passa seus dias ao lado de antropólogos que procuram os corpos dos desaparecidos durante a guerra civil. A filha de Tomás, Lucia, foi sequestrada durante um ataque, vinte anos antesm e ele deseja reencontrá-la e dar-lhe um enterro digno. Quando surge a notícia que sua ela está viva, Tomás, munido de um caderninho onde anotou cada passo de sua dolorosa experiência, parte ao encontro dela.
A distância que o título fala na verdade se desdobra em muitas. Os cento e cinquenta quilômetros entre Tomás e o local de seu reencontro com a filha, as duas décadas que passou sem ela, o distanciamento emocional entre os dois e até mesmo as diferenças culturais deles. A história, baseada em fatos reais, é bem sucedida ao ilustrar a dificuldade de Tomás em aceitar e vencer essa distância para conseguir conectar-se com a sua filha, sendo este o cerne emocional do longa.
A película possui um certo caráter artesanal, reforçado pelo fato de a equipe de produção ser extremamente reduzida. Ao contar com atores que não são exatamente profissionais, a experiência cinematográfica se torna mais real, nos ajudando a mergulhar na Guatemala que Ramírez deseja nos mostrar, além de transformar nossa conexão com Tomás mais intensa. Neste sentido, a direção e preparação de atores são soberbas.
O problema é que a fita demora muito para chegar nesse ponto, engajando-se antes em um truncadíssimo road movie, que raras vezes dá apoio à história principal. Entre as chocantes vistas de Tomás aos antropólogos e a chegada deste à cidade, a trama pouco caminha, tornando o segundo ato da projeção extremamente enfadonho e dificultando a transmissão da mensagem.
Um exemplo disso é a interação de Tomás com o casal de ornitólogos, que em nada interessa para os problemas do protagonista. Mostrar a jornada até Sofia é algo necessário até mesmo para que nos situemos quanto à situação socioeconômica da população, mas esses momentos deviam ter mais dos conflitos do perosnagem central a serem resolvidos, não apenas seu encontro com pessoas aleatórias com pontuais leituras do caderno de recordações.
Por mais que simpatizemos com a simplicidade da história de Tomás e seu caráter universal, bem como com as atrocidades cometidas para com os civis da Guatemala, narradas em uma singela, porém deveras efetiva sequência musical, “Distância” demora a dar o seu recado e possivelmente sua proposta se encaixaria melhor em um curta-metragem.
Esse filme fez parte da programação do 22º Cine Ceará, em junho de 2012.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.