Diversão rápida é o que esta nova empreitada da Aardman Animations proporciona. Embora ligeiramente abaixo da média do estúdio, o filme cumpre bem o seu papel.
Ao lado da Pixar, a Aardman Animation é um dos estúdios de animação mais conceituados no que tange a longas animados para o cinema, sendo responsável por fitas como “A Fuga das Galinhas”, “Por Água Abaixo”, “Operação Presente”, além da franquia “Wallace & Gromit”. No entanto, enquanto a empresa da luminária acabou comendo brita, os ingleses especializados em stop-motion continuam navegando em águas tranquilas com “Piratas Pirados!”.
A maior força do roteiro, escrito por Gideon Defoe baseado na série de livros de sua própria autoria, é também o seu grande calcanhar de Aquiles: é hilariantemente inglês. Acompanhamos as aventuras do meio avoado Capitão Pirata que, mesmo sendo adorado por sua tripulação de desajustados, é motivo de piadas entre os demais piratas que rondam os sete mares, tendo em vista que não é lá muito ameaçador, com seu navio mais parecendo um remendo flutuante e nunca conseguindo saquear muito de suas vítimas.
Quando o Capitão acaba por trombar com Charles Darwin, descobre o que ele crê ser uma chance de conseguir o prêmio de Pirata do Ano. O problema é que isso o colocará em rota de colisão com a Rainha Vitória, a maior inimiga dos bucaneiros, louca não apenas para dar um fim nos piratas, mas para pôr as mãos na dodô de estimação do nosso protagonista.
Enquanto a própria ingenuidade do Capitão Pirata é hilariante per si, sua peculiar tripulação também arranca gargalhadas, desde o devotado Número Dois, passando pelo Pirata Estranhamente Curvilíneo e até o Pirata Albino. Todos são visualmente interessantes e surgem sempre com uma boa gag na ponta de suas línguas de massinha.
As figuras históricas que surgem também são engraçadíssimas, principalmente o tímido Charles Darwin, carinhosamente apelidado pelo Capitão de “Chacha”. Em seus esquemas ao lado do macaco inteligente Bobo (com suas plaquinhas à lá Coiote Coió), é responsável por algumas das melhores piadas ao longo da projeção. A Rainha Vitória também surge deliciosamente vilanesca, principalmente em seus surtos ao ouvir a palavra “pirata”.
O problema é que algumas piadas e trocadilhos se perdem na tradução, tendo em vista que o sutil humor inglês é realmente complicado de se adaptar. Recomendo ver o filme em sua versão legendada, se possível. Além disso, a música “I’m Not Crying”, tirada da série de TV “Flight of the Conchords”, não foi traduzida ou legendada aqui no Brasil, resultando no desperdício de um dos momentos mais hilariantes da fita, alienando a enorme fatia do público que não sabe inglês.
Sobre o 3D, este realmente não é dos mais marcantes, sendo esfregado na cara do público em uma cena específica (engraçadinha, mas inútil para a narrativa), sem ajudar muito o espetáculo ou a condução da história e nem compensar o desconforto dos óculos. Realmente não é o tipo de produção que mudará a ideia de ninguém que não gosta do formato.
“Piratas Pirados!” não é um filme que influenciará a história do cinema e nem ambiciona fazê-lo. É uma comédia engraçada sobre alguém descobrindo o próprio valor ao lado dos amigos de um modo bem pitoresco, valendo a pena embarcar com esse bando de doidos nessa divertida viagem (não sem percalços) ao lado desses simpáticos malucos.
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Thiago Siqueira é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.