Cinema com Rapadura

OPINIÃO   sábado, 28 de abril de 2012

American Pie – O Reencontro: velhos amigos e muitas risadas

Nostalgia e diversão são o norte do longa, que brinca com os percalços da vida adulta e com as saudades dos tempos de adolescência.

Ah, a franquia “American Pie”... Apesar dos três primeiros filmes não serem lá exatamente obras-primas, são bastante simpáticos e divertem, até porque é fácil para boa parte da audiência se identificar com as situações em que Jim e sua turma se metem. A despeito de a série ter caído no inferno das sequências lançadas direto para o mercado de home-vídeo, uma geração inteira ainda nutre com carinho suas lembranças da turma de 1999 do colégio East Great Falls.

Acompanhamos Jim (Jason Biggs) ir para a faculdade, se formar e se casar com sua amada Michelle (Allyson Hannigan) e agora vemos o casal enfrentando o pior inimigo de qualquer união: o tédio. Some-se isso ao fato deles não serem mais apenas marido e mulher, mas também pais de um garotinho, e logo percebemos que a vida íntima dos pombinhos não é mais tão fogosa como costumava ser.

E aí veio a reunião do colégio, uma chance para nosso atrapalhado protagonista se se sentir jovem novamente. Rever os velhos amigos Oz (Chris Klein), Finch (Eddie Kaye Thomas) e Kevin (Thomas Ian Nicholas), que também chegam para o evento com seus próprios problemas, e fazer besteiras ao lado do incorrigível Stiffler (Sean William Scott), que continua sendo o sem-noção que sempre foi.

Reencontrar esses personagens nove anos desde a última vez que os vimos desperta um bem-vindo senso de nostalgia e reflete até mesmo as experiências do público-alvo da produção com a própria vida adulta. Por mais que alguns estejam bem profissionalmente, todos sentem falta de algo em seus cotidianos, da juventude e jovialidade que se esvai um pouco quando assumimos certas responsabilidades que chegam com a idade.

O desencanto com o trabalho, as dificuldades para se manter um casamento apaixonado, o afastamento de velhos amigos são experiências comuns a uma boa fatia dos novos adultos e a fita conquista o coração do público a partir daí, com os diretores e roteiristas Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg sabendo usar muito bem essa carta para capturar a atenção da audiência.

Mas é claro que também temos a parte besteirol dessa festa. Sem entregar as gags, esperem ver muitas conversas constrangedoras de Jim com seu impagável pai (Eugene Levy), as tentativas do pobre protagonista em se livrar de certas tentações adolescentes, o surgimento de um novo casal e um confronto de gerações quando Stiffler tem de lidar com os novos garotões do colégio. Tudo isso vem com muita escatologia que, apesar de não chegar perto do que vemos na franquia “Se Beber, Não Case!“, acaba passando em alguns momentos do ponto, mas que, quando vem na dose certa, nos diverte horrores.

Ainda que o foco da trama seja Jim, é o personagem de Sean William Scott que tem o melhor arco, roubando a cena diversas vezes. Não é apenas o jeito maluco de ser do “Stifodão” e suas consequências que chamam a atenção do público, mas o fato disso esconder uma ingenuidade quase infantil por parte de Stiffler, sendo difícil não gostar e simpatizar com ele, coisa que o carisma do ator ajuda a acontecer. Scott provavelmente nunca ganhará um Oscar, mas sabe fazer rir como poucos ao encarnar esse festeiro inveterado.

Em dado momento da projeção, os rapazes encontram uma foto de seu último ano de escola, o momento em que nós os conhecemos. Claro que as coisas mudaram, que as vidas deles não são as que tinham em mente ali e que Tara Reid deixou de ser uma beldade natural para parecer um pimentão plástico com seios, mas aí está a graça do longa. Perceber que essas experiências, trapalhadas e amizades nos moldaram e que, por mais que elas sejam parte do passado, nunca podemos esquecer que elas são parte dos adultos que nos tornamos.

“American Pie – O Reencontro” tem seus defeitos. O ritmo do filme cai vertiginosamente no segundo ato, a continuidade se embanana de maneira mais do que aparente em alguns momentos e o texto não prima exatamente por sua elegância e genialidade. Mas é uma fita com um coração enorme e nos remete a um tempo menos cínico, ao mesmo tempo nos presenteando com algumas gargalhadas honestas. E isso é muito mais do que certas comédias atuais podem dizer.

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Thiago Siqueira
 é crítico de cinema do CCR e participante fixo do RapaduraCast. Advogado por profissão e cinéfilo por natureza, é membro do CCR desde 2007. Formou-se em cursos de Crítica Cinematográfica e História e Estética do Cinema.

Thiago Siqueira
@thiago_SDF

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