Camila Pitanga mostra a alma no maior papel da sua carreira até agora.
Desde o ano passado, público e crítica comentam sobre “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios”, de Beto Brant e Renato Ciasca (parceiros em filmes como “Cão Sem Dono” e “O Invasor”). Após a passagem em festivais nacionais e internacionais, o drama chega aos cinemas para mostrar o seu poder frente à atual produção cinematográfica brasileira. Como principal atrativo, a atuação soberba de Camila Pitanga vale qualquer que seja o valor do ingresso a pagar. Desprovida de qualquer limitação, a atriz se entrega completamente ao maior personagem da carreira até o momento.
A trama é baseada no livro escrito por Marçal Aquino, colaborador frequente de Ciasca e Brant, e mostra até onde o amor é destrutivo e talvez o quanto o destino interfere na vida dessas pessoas. O roteiro é focado em Lavínia (Pitanga), uma ex-garota de programa que foi salva por um pastor, Ernani (Zé Carlos Machado), com quem tem um relacionamento sério. Quando eles mudam de cidade, Lavínia passa a se envolver com Cauby (Gustavo Machado), um fotógrafo completamente apaixonado por ela. O triângulo amoroso trará muitas consequências até o fim da projeção, quando aqueles personagens são colocados em plena condições de bichos.
Os cineastas constroem uma narrativa completamente envolvente, desde o culto à musa-protagonista ao seu drama social. A não linearidade da trama faz com que conheçamos de maneira coerente as diferentes nuances de Lavínia, desde uma viciada envolvida com a prostituição, a uma garota normal vivendo um grande amor fora do seu relacionamento. Brant e Ciasca elaboram cenas divinas do envolvimento de Lavínia e Cauby, não só no sentido sexual (o filme é extremamente sexy), mas em suas relações pessoais, em como eles são felizes enquanto estão juntos, até dar tudo errado. Em paralelo, o roteiro suspende seus personagens secundários, para usá-los apenas quando for extremamente necessário.
O filme é inteiro de Camila Pitanga. Aqui ela está completamente entregue à personagem. Pitanga transita entre as diferentes facetas de Lavínia com muita segurança, indo da beleza estonteante ao fracasso pessoal em segundos. A intensidade da atuação é a força motora do filme, fazendo com que ela esteja presente na atmosfera do filme até mesmo quando ela está fora da imagem. Se estabelecendo como uma das melhores atrizes brasileiras da atualidade, a atriz está simplesmente monstruosa. Pela atuação, recebeu merecidamente os prêmios de Melhor Atriz no Festival do Rio e no Amazonas Film Festival do ano passado.
Além de uma atuação completa de Zé Carlos Machado, o destaque vai para Gero Camilo, que interpreta o jornalista Viktor Lawrence, responsável por momentos cômicos e de poesia, ao recitar aleatoriamente passagens literárias que se encaixam no filme. Ciasca e Brant realizam um trabalho divino com o elenco, deixando-os completamente seguros do que podem doar em cada cena e retratando-os em planos longos, meio a uma fotografia tão visceral quanto a sua narrativa e a uma naturalidade que anda perdida no cinema nacional.
Além de toda a paixão da qual o filme fala, os diretores traçam um panorama com a natureza e a preservação do ambiente, mais precisamente à salvação da Amazônia. Ainda que a opção de inserir tais trechos seja controversa, tais sequências servem como respiro ao público, que certamente não consegue tirar os olhos da tela, muito menos de Camila Pitanga e seu corpo aparentemente perfeito, mas frágil como qualquer outro ser que procura não só se encontrar neste mundo, mas principalmente viver uma paixão.
Esse filme foi visto durante o 8º Amazonas Film Festival, em novembro de 2011.
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Diego Benevides é editor chefe, crítico e colunista do CCR. Jornalista graduado pela Universidade de Fortaleza (Unifor), é especialista em Assessoria de Comunicação, pesquisador em Audiovisual e arte educador na linha de Artes Visuais e Cinema. Desde 2006 integra a equipe do portal, onde aprendeu a gostar de tudo um pouco. A desgostar também.