Retomada da franquia “Journey” é visualmente exagerada e pouco inspirada.
Quando “Viagem ao Centro da Terra” foi lançado em 2008, o grande destaque foi a aplicação da técnica tridimensional, artifício que hoje é usado em excesso basicamente com o objetivo de ganhar dinheiro. O longa não foi de todo ruim, lançando uma aventura no tom juvenil correto, mas ainda assim parecia não conseguir transportar com competência o universo criado por Júlio Verne. “Viagem 2: A Ilha Misteriosa”, que não faz questão de se conectar com o filme anterior a não ser pela presença do jovem Josh Hutcherson, mostra que a mistura de elementos demais sem profundidade pode ser fatal na composição de uma película no mínimo divertida.
Desta vez, a trama mostra os conflitos entre Sean (Hutcherson) e seu padrasto Hank (Dwayne Johnson), que precisam conviver sob o mesmo teto sem muita afinidade. Quando Sean descobre códigos que podem levá-lo à Ilha Misteriosa de Júlio Verne, Hank ajuda o garoto a ler as coordenadas do material. Eles descobrem que a tal ilha é a mesma que Robert Louis Stevenson citou em “A Ilha Misteriosa” e Jonathan Swift em “As Viagens de Gulliver”. Com os mapas em mãos, Sean e Hank partem para uma aventura com a ajuda de Gabato (Luis Guzman) e Kailani (Vanessa Hudgens), que aceitam levá-los até as coordenadas obtidas. O percurso não é fácil e eles acabam sugados para uma ilha escondida, onde agora precisam encontrar Alexander (Michael Caine), avô de Sean, se quiserem voltar para casa.
A mistura das três obras daria um filme rico e dinâmico, mas os três roteiristas não foram capazes de construir uma trama à altura. Talvez pela opção de infantilizar a produção e conquistar um novo público em potencial, o que não justifica as alternativas medonhas que são vistas em tela. A jornada não traz surpresas, pisando rapidamente nos mais diversos cenários e tirando pouco proveito deles. As sequências são tão cheiras de informações visuais que o roteiro ainda insiste em reiterá-las com diálogos fúteis, ou seja, trabalho duplo de compreensão do público, que em momento algum se surpreende com o desenrolar da história.
Então o roteiro e o diretor Brad Peyton, cuja experiência mais recente foi o medonho “Como Cães e Gatos 2”, fazem questão de criar conflitos bobos e personagens desinteressantes. Dessa forma, é constrangedor ver Dwayne Johnson sorrir a cada fim de frase de efeito pronunciada ou mesmo Luis Guzman parecer um desenho animado cujas gags não fazem rir. O diretor está mais preocupado em subaproveitar os originais do que fazê-los conquistar o público.
Então temos o romance “não correspondido”, a ambição pelo dinheiro justificada de forma inocente e as juras de companheirismo entre os personagens que não se davam bem anteriormente. São lições de moral demais para um filme que não se sustenta per si. E o bom elenco é desperdiçado em situações que nunca fazem rir. O único que talvez consiga desfazer a pouca inspiração do script é Josh Hutcherson. Nem mesmo Dwayne Johnson ou Michael Caine trazem diferencial à trama, enquanto Vanessa Hudgens serve apenas como beleza cênica.
É inegável, porém, que a produção não seja de toda um fracasso e que alguns efeitos tridimensionais sejam interessantes. As cenas aquáticas são bem desenvolvidas, transportando a sensação submersa por meio do 3D e a tensão de uma enguia ameaçando os personagens. Por outro lado, mais constrangedor do que um lagarto gigante metendo medo em Dwayne Johnson é ter abelhas gigantes que são usadas em uma batalha aérea. Facilmente domadas pelos atores, as abelhas são as piores projeções gráficas vistas em anos. O exagero do chroma key tira a naturalidade das sequências e a pouca profundidade de campo faz dos cenários um grande engodo.
Desperdiçando mais uma vez a riqueza das histórias de Júlio Verne e seus companheiros, “Viagem 2: A Ilha Misteriosa” pode ser um passatempo comum para o público infantil, mas jamais instiga nele a vontade de consultar o material original. Já que o cinema ainda não acertou o ponto, talvez a única solução para conhecer o verdadeiro primor dos livros é continuar a leitura.