Como se não bastasse um, comédia traz o ator em dose dupla e ainda acrescenta Al Pacino nesta mistura de extremo mau gosto que, mais uma vez, conta com a direção limitada de Dennis Dugan.
Se Hollywood já viu Robert De Niro e Martin Scorsese realizarem obras-primas juntos e acompanha, eventualmente, Tim Burton e Johnny Depp fazerem bons filmes, é forçada também a se dar conta de que está em curso uma das piores parcerias entre diretores e atores de sua existência. Foi ainda em 1996, com “Um Maluco no Golfe”, que Adam Sandler e Dennis Dugan trabalharam lado a lado nos cinemas pela primeira vez. “O Paizão” veio três anos mais tarde. Mas foi nos últimos cinco anos que a parceria, infelizmente, se tornou mais produtiva, dando vida a comédias medonhas, como “Eu os Declaro Marido e…Larry”, “Zohan – O Agente Bom de Corte” e este “Cada um tem a Gêmea que Merece”.
Seguindo a linha de mau gosto extremo, o filme, como se não bastasse um, traz dois Adam Sandlers. E como se não bastasse vê-lo atuando, o longa conta com o seu texto, como é de praxe nas produções em que estrela. Desta vez, ele interpreta os irmãos Jack e Jill Sadelstein. O primeiro é um bem sucedido profissional do ramo da publicidade, enquanto a segunda é uma bizarra e desocupada mulher de meia-idade que decide, como já é tradição, visitar o irmão gêmeo. O que seria uma atrapalhada, mas curta, visita de quatro dias, no entanto, vai se alongando, fazendo com que Jill consiga aprontar ainda mais aos olhos do envergonhado Jack.
E à medida que essa viagem parece não ter fim (apesar dos 91 minutos de projeção), a vergonha passa a ser um sentimento também compartilhado pelo público. Nunca preocupado em contar uma trama plausível, de qualquer sentido, o roteiro, que também é escrito por Steve Koren (“Click”), busca situações cômicas aonde seja possível. As piores delas, claro, são protagonizadas por Jill, um personagem que nunca desperta empatia exatamente por soar estridente, chata e inconveniente. Na verdade, está mais para um desenho animado de carne, osso e enchimento do que para um verdadeiro personagem live-action.
O roteiro não a poupa, em nenhum momento, de atitudes e composições bizarras, transformando-a quase em um monstro que, por acaso, nasceu mulher, a qual transpira como um porco e pesa como um elefante. A situação seria menos intragável se o filme não se levasse a sério, embarcando nas brincadeiras que se propõe exibir. Mas o roteiro ainda se preocupa em dar lições de moral, em tentar contar uma história sobre a importância da família, quando jamais se dedica a realmente entender a discórdia entre os irmãos. Na verdade, não há muito que se entender. Qualquer pessoa minimamente sã seria eternamente embaraçado se tivesse um parente como Jill.
O script ainda trata de criar uma mal contada questão de interesses que está mais para um falso motivo para explicar a presença de Al Pacino. Sim, Al Pacino está no elenco do longa. E não se trata de uma participação especial, como a de Johnny Depp (sim, Johnny Depp!), mas de um personagem de certa importância para a trama. Mas é tudo tão ruim que a impressão é de que sua participação teria sido acordada depois de um encontro casual com Sandler quando o roteiro já estava fechado. Além de se permitir fazer às vezes de par preterido da gêmea Sadelstein (como se não fosse suficiente), o celebrado ator ainda faz inúmeras menções a sua própria carreira, chegando ao ponto de repetir trechos de falas de “O Poderoso Chefão”.
A comicidade também vacila, dentre outras escolhas horrorosas, ao incluir piadas preconceituosas sobre latinos, não cansar de explorar o escatológico e definir seus personagens coadjuvantes por meio de atos específicos, no mínimo, estranhos. Logo, temos de nos deparar com o filho de Jack, Gary (Rohan Chand), passeando pelos cenários com objetos ou bichos colados ao seu corpo por fita tape, enquanto sua outra filha, Sofia (Elodie Tougne), se veste igual a suas bonecas. Mas o pior é ver Jill exibir sua falta de talento para distinguir e identificar filmes.
Ao diretor Dennis Dugan cabe registrar todo essa exibição vergonhosa de mau gosto com sua habitual falta de ritmo e senso cômico, que se torna ainda pior no ato final, quando Adam Sandler deixa explícito que pouco se esforçou para compor Jill. Aparentemente empenhado em virar uma espécie de Eddie Murphy, o ator norte-americano entrega mais um trabalho desprezível que merece ser ignorado pelo público, para que outras torturas advindas dessa parceria não vinguem.
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Darlano Dídimo é crítico do CCR desde 2009. Graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é adorador da arte cinematográfica desde a infância, mas só mais tarde veio a entender a grandiosidade que é o cinema.